Um mapa mais preciso sobre o potencial global de reflorestamento foi publicado na revista Nature Communications. Segundo o estudo, 195 milhões de hectares podem ser restaurados sem prejudicar a biodiversidade nativa, ecossistemas sensíveis ou populações locais.
Essa área é similar ao tamanho do México ou à soma das superfícies dos estados do Amazonas e do Maranhão.
As regiões elencadas com maior potencial de restauração incluem o Brasil – especialmente áreas degradadas e bordas de vegetação natural da Mata Atlântica – além de Colômbia, Europa, leste dos EUA e oeste do Canadá.
Restaurar todo o território estimado removeria até 2,2 bilhões de toneladas de CO₂ por ano, comparáveis às emissões anuais do Brasil, segundo estimativas do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa) e do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente).
O estudo reuniu e refinou dados de 89 mapeamentos anteriores. Embora os levantamentos considerassem fatores como ecossistemas sensíveis, áreas agrícolas e incêndios recentes, não abordavam os possíveis impactos sociais da restauração.
Para Susan Cook-Patton, pesquisadora da ONG The Nature Conservancy e uma das autoras do trabalho, o reflorestamento é uma das formas mais eficazes de remover carbono da atmosfera, desde que realizado em locais estratégicos.
“Embora plantar árvores não substitua a necessidade de reduzir emissões, é uma medida essencial frente ao carbono já acumulado”, reforçou ela em nota distribuída pela Fundação Ellen MacArthur. A entidade britânica promove a economia circular, que busca eliminar a poluição, reutilizar materiais e regenerar a natureza.
Mas há benefícios além dos climáticos. “Este estudo mostra que o reflorestamento pode ser um aliado para restaurar ecossistemas em larga escala”, disse Victoria Almeida, gerente de Programas da Fundação Ellen MacArthur para a América Latina.
Ela defendeu também a integração entre conservação e produção por meio de sistemas agroflorestais, que capturam carbono, ajudam a biodiversidade e geram renda. “A regeneração da natureza pode estar no centro dos negócios, e não apenas como compensação”, agregou.
Maior fatia tropical
Outro estudo, publicado na revista Nature, igualmente reforça a importância da restauração com espécies nativas ou por regeneração natural, e desestimula o uso de espécies exóticas ou monoculturas como eucalipto e pinus.
Essa pesquisa aponta que o Brasil concentra um quinto do potencial de regeneração natural nos trópicos, ao lado de Indonésia, México, Colômbia e parte da China. Juntos, esses países somam 52% de um total de 215 milhões de ha recuperáveis. A área equivale a mais de duas vezes a do estado do Mato Grosso.
O mapeamento focou em regiões brasileiras com melhores condições ecológicas para um reflorestamento de grande escala, como proximidade de florestas remanescentes, solo e topografia.
Públicas e privadas
De olho no reflorestamento no Brasil, a reportagem apurou algumas ações em curso. A maior é o Planaveg, o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa. Relançado ano passado, mira restaurar 12 milhões de ha até o fim da década. A área é similar a duas vezes a do estado do Rio de Janeiro ou à metade da Itália.
O Plano é focado em árvores nativas, a exemplo de projetos como o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica. O Pacto já recuperou mais de um milhão de hectares com mudas como de jequitibá, pau-brasil e ipê. Na capital do Rio de Janeiro, o Mutirão Reflorestamento recupera encostas e áreas degradadas com 10 milhões de mudas.
Na Amazônia, o governo federal lançou uma chamada de R$ 150 milhões para restaurar florestas em 137 terras indígenas, igualmente com espécies nativas e manejo tradicional. A ideia é reconectar áreas verdes, garantir água e fortalecer a produção de comida.
Iniciativas privadas também ganham paraça, como a Re.green, que investe na restauração em larga escala de áreas degradadas, especialmente na Mata Atlântica e na Amazônia. Já o projeto Vale Florestar combina árvores nativas com eucalipto em áreas degradadas, amarrando restauração e produção industrial.
Tais estudos e iniciativas mostram que, com manejo correto e foco em espécies nativas, de antigas pastagens a áreas degradadas podem se tornar florestas densas. Restaurar a natureza em áreas estratégicas ajuda a enfrentar a crise climática, ao mesmo tempo em que promove inclusão social e desenvolvimento econômico.
Fonte: ((O))eco.
Foto: Chanklang Kanthong / Greenpeace.
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