O incêndio do Parque Nacional do Itatiaia (PNI), que que começou na última sexta-feira (14) já atingiu uma área de 300 hectares. A estimativa anterior foi de 200 hectares atingidos, mas, segundo o gestor do parque, Felipe Mendonça, a nova avaliação não significa aumento da área queimada. O que ocorreu é que foi possível fazer uma análise mais apurada dos dados de mapeamento e avaliação de imagens, o que não tinha ocorrido até agora.
“Até então, não tínhamos os meios eficientes para medir. Não quer dizer que ampliou a área. É que agora as imagens de satélite estão mostrando que, na verdade, estamos falando de uma área afetada de 300 hectares. Mas não quer dizer que aumentaram 100 hectares de ontem para hoje. É só uma questão de medição, de uma aferição um pouco mais precisa”, revelou o gestor, em entrevista à Agência Brasil.
De acordo com o gestor, nesta quinta-feira (20), 25 brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) estão no local fazendo o trabalho de rescaldo, principalmente, na Parte Alta onde o fogo começou e é uma região de difícil acesso.
“A área incendiada não ampliou, mas é um fogo persistente que, se a gente deixar se extinguir sozinho, pode ganhar corpo e avançar dependendo do vento”, disse.
“Estamos em trabalho de rescaldo de toda a área queimada para que o fogo não volte. No momento, temos pontos ativos nas áreas de encosta de difícil acesso. Este é o nosso cenário atual”, informou.
Além disso, os brigadistas estão abrindo aceiros. Eles retiram a vegetação e cavam valas de 5 a 7 metros para o fogo não avançar naquela área. Felipe Mendonça informou que o método é aplicado como forma de prevenção para evitar que possa haver propagação de algum ponto de calor.
“Essa é uma medida de prevenção para o incêndio não se alastrar e pode ser tomada antes da chegada do fogo. Nós temos vários aceiros no parque, mas quando está no combate, e o fogo passou, aí se faz uma linha de defesa, limpando a área para o fogo não passar dali. É uma proteção mesmo.”
O uso de sopradores pelos brigadistas tem sido um auxílio fundamental no combate. “Isso tem um papel muito importante, porque contribui para apagar o fogo”
Suspensão das visitas
Por questão de segurança dos visitantes e das equipes envolvidas na operação de controle do incêndio, a visitação à Parte Alta do parque continuarão suspensas até domingo (23). Neste dia, haverá uma nova avaliação dos trabalhos para decidir se o local pode voltar a ser aberto ao público.
Temperatura
A região do Parque costuma registrar as temperaturas mais baixas do país. Ontem, foi registrado mais um recorde de temperatura negativa no Brasil no ano de 2024, com -11,8°C. Conforme a gestão do PNI, o registro foi feito na estação meteorológica próxima à nascente do Rio Campo Belo. “Também nesta área está situado o Pico das Agulhas Negras, ponto mais alto do estado e o quinto mais alto do Brasil”, destacou Mendonça.
Incêndios
Antes deste incêndio, que começou no dia 14 de junho, o Parque Nacional do Itatiaia já tinha sido atingido por outros. O maior da história foi em 1963, que durou 35 dias de fogo e consumiu 4 mil hectares. Em 1988, o fogo destruiu 3.100 hectares e um servidor ficou desaparecido.
Em 2001, o incêndio, provocado por dois turistas que se perderam e fizeram uma fogueira, acabou com mais de 1 mil hectares. A mesma área foi atingida pelo fogo em 2007 e três anos depois foram destruídos 1.200 hectares.
Ministério Público Federal investiga se o Exército é responsável pelo incêndio
O Exército é o principal suspeito de ter causado o incêndio que atinge a parte alta do Parque Nacional de Itatiaia (PNI) desde a última sexta-feira (14). Criado em 1937, o PNI é a unidade de conservação ambiental mais antiga do Brasil e está localizado nos municípios de Resende e Itatiaia, em plena Serra da Mantiqueira, no sul do Rio de Janeiro, próximo da tríplice divisa com São Paulo e Minas Gerais.
Entre as atrações do parque está o famoso Pico das Agulhas Negras que, com 2791 metros, é o sexto ponto mais alto do Brasil. É ele que dá nome à Academia Militar das Agulhas Negras, a Aman, localizada próxima ao PNI. É a mesma instituição em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se formou no curso básico de paraquedismo em julho de 1977.
O Parque é dividido entre duas partes: a alta e a baixa. Mais úmida, a parte baixa se refere a uma área de Mata Atlântica na encosta da Serra da Mantiqueira, virada para o leste, na direção do litoral. Subindo a serra, chega-se à parte alta, onde a vegetação é rasteira e o clima é mais seco.
A parte alta do PNI, a que está queimando faz 7 dias, esteve fechada para o público ao longo da semana passada. Isso porque estava marcada uma atividade da Aman no local. Tratava-se de “estágio de montanha” dedicado à formação de cadetes.
A atividade terminou na mesma sexta-feira (14) em que começaram os incêndios. Ao todo, cerca de 300 hectares foram atingidos pelas chamas desde então e, apesar do incêndio estar parcialmente controlado, algumas áreas ainda precisam de ações de combate às chamas.
De acordo com a Agência Brasil, a procuradora da República Izabella Brant foi quem recebeu a notificação acerca do incêndio e é a responsável pelas investigações do episódio. A apuração está em etapa inicial, mas já é averiguada a possibilidade de os militares terem sido os responsáveis pelo início do incêndio. O prazo para as apurações iniciais é de 30 dias e, depois disso, pode ser aberto um inquérito civil ou ainda uma investigação criminal.
“Desde então, o MPF vem acompanhando a questão junto às instituições envolvidas, obtendo a informação de que apurações administrativas também estão sendo realizadas no âmbito do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade, responsável pela gestão das áreas de conservação) e da Aman”, diz um informe do MPF.
A investigação ocorre tanto na esfera criminal quanto na área cívil De acordo com o MPF, a instauração da notícia fato ocorreu a partir do recebimento de 20 representações ao órgão.
“O prazo de tramitação da notícia de fato é de 30 dias, podendo ensejar a instauração de Inquérito Civil e procedimento de apuração criminal”, informou o Ministério Público Federal.
O incêndio começou em um área conhecida como Morro do Couto, onde 415 militares da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) faziam treinamento. O início da queimada ocorreu no dia em que a unidade de conservação – a mais antiga do país – completou 87 anos.
Questionado pelo jornal O Globo, o Exército informou, em nota, que o foco de incêndio foi identificado próximo a uma “coluna de veículos”, quando os cadetes começavam a retirada do local. Também afirmou que a Aman vai colaborar com as investigações.
Também em nota, a administração do PNI informou que o fogo começou próximo ao Morro do Couto, uma das atrações do parque, por volta das 14h do dia 14. A descrição corresponde com imagem de câmera de segurança obtida pelo portal O Eco, que mostra a fumaça próxima a um comboio do Exército.
Pessoas familiarizadas com o parque relataram ao GLOBO que a vegetação seca nesta época do ano é propícia a queimadas, agravadas pelo vento, o que exige cuidados redobrados.
Há cerca de duas semanas, a própria administração do parque informou que “os acessos ao Pico das Agulhas Negras e as Prateleiras”, que compõem a Parte Alta do Parque do Itatiaia, estariam “interditados” por conta do “estágio de montanha” dos cadetes da Aman.
O Parque Nacional do Itatiaia, que é o primeiro do Brasil, completou 87 anos justamente no dia em que começou este incêndio. “O parque abriga na parte alta o Pico das Agulhas Negras, o quinto mais alto do Brasil, com 2.790,94 metros, segundo o IBGE e protege uma parte importante da Mata Atlântica, na Serra da Mantiqueira, abrangendo o sul fluminense e sul de Minas, e recebe cerca de 150 mil visitantes por ano”, informou o gestor.
Fonte: Agência Brasil, Revista Fórum, O Globo, CNN.
Foto: Corpo de Bombeiros RJ/divulgação.