A descoberta da penicilina revolucionou a medicina. E, agora, um achado feito por um grupo de pesquisadores internacionais pode abrir caminho para o desenvolvimento de novos e potentes antibióticos.
Os cientistas realizaram o maior estudo já feito sobre o DNA oceânico, que revelou alguns segredos sobre a abundância de fungos na zona crepuscular dos mares, localizada entre 200 e 1.000 metros abaixo da superfície.
“A penicilina é um antibiótico que veio originalmente de um fungo chamado Penicillium, então podemos encontrar algo parecido nesses fungos oceânicos”, observou Fabio Favoretto, pesquisador de pós-doutorado no Scripps Institution of Oceanography da Universidade da Califórnia, ao The Guardian.
Segundo ele, que não esteve envolvido no trabalho, a zona crepuscular é caracterizada por alta pressão, falta de luz e temperaturas frias, o que apresenta um ambiente extremo “onde os fungos podem apresentar adaptações únicas”. “Isso poderia potencialmente levar à descoberta de novas espécies com propriedades bioquímicas únicas”, acrescentou.
Milhões de amostras catalogadas
O estudo, publicado nesta terça-feira (16) na revista Frontiers in Science, contém mais de 317 milhões de grupos de genes de organismos marinhos compilados a partir de amostras coletadas em viagens, incluindo as expedições Tara Oceans, que durou de 2009 a 2013, e Circunavegação Malaspina, de 2010.
A bióloga marinha Elisa Laiolo, da Universidade de Ciência e Tecnologia King Abdullah, da Arábia Saudita e autora principal, disse que os avanços na tecnologia permitiram que as amostras existentes fornecessem muito mais dados do que antes, enquanto o processo de catalogação ajudou a abrir novas portas para o oceano pouco estudado.
Ela relatou que ficou surpresa ao ver tantos fungos vivendo na zona crepuscular do oceano. “Houve algumas indicações disso [abundância de fungos neste nível] antes, então esta é outra peça do quebra-cabeça.”
Os pesquisadores também fizeram outra descoberta durante o processo de catalogação: o papel que os vírus desempenharam no aumento da diversidade genética. “Os vírus se inserem e transferem genes de um organismo para outro. Isso significa que criam biodiversidade genômica e isso acelera a sua evolução”, comentou Carlos Duarte, professor de Ciências Marinhas Universidade de Ciência e Tecnologia King Abdullah e autor sênior do estudo.
Mas o trabalho destacou lacunas em relação à compreensão humana do fundo do oceano. “É mais fácil coletar amostras de água superficial do que do fundo do oceano e o que sublinhamos no artigo é a necessidade de aumentar os estudos direcionados ao fundo do mar no futuro”, completou Laiolo.
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: Alexis Rosenfeld/Unesco.