Em apenas dois meses, entre setembro e outubro, uma área equivalente a 462 campos de futebol foram desmatados pelo garimpo dentro de Unidades de Conservação na Amazônia. No total, a atividade já ocupa 13.814 hectares em 15 áreas protegidas do bioma. Os números fazem parte do mais recente levantamento do Greenpeace Brasil sobre o assunto, divulgado na quarta-feira (11).
A atividade garimpeira foi identificada principalmente em Unidades de Conservação situadas na divisa entre os estados do Pará e Amazonas, nas bacias dos rios Tapajós, Crepori, Jamanxim, Maués-Açu e Abacaxis. Esta é considerada a nova fronteira do desmatamento.
As Unidades de Conservação de Uso Sustentável são as mais afetadas, como a Floresta Nacional do Amanã, no Pará, que registrou 102,86 hectares de novas áreas de garimpo, e a Estação Ecológica do Alto Maués, no Amazonas, que, apesar de seu status de proteção integral, perdeu 47,89 hectares no mesmo período.
“Esse cenário evidencia que a atividade garimpeira – um dos grandes vetores de destruição da Amazônia na atualidade – continua avançando na região. É imprescindível que haja um reforço no combate a essa atividade ilegal, que continua ameaçando rios, biodiversidade, povos indígenas e comunidades tradicionais”, afirma Jorge Eduardo Dantas, coordenador da Frente de Povos Indígenas do Greenpeace Brasil.
Garimpo já ocupa mais área do que a mineração industrial
Entre 1985 e 2020, a área ocupada pela mineração no Brasil, incluindo a atividade industrial e o garimpo, aumentou seis vezes, passando de 31 mil hectares para 206 mil hectares de área minerada. Os dados, inéditos, foram divulgados pelo projeto MapBiomas e indicam um crescimento acelerado das áreas de garimpo, que aumentaram 10 vezes, enquanto a mineração industrial cresceu 4,7 vezes no período. Em 1985, dois terços da área ocupada pela atividade era mineração industrial e um terço garimpo. Hoje, há mais áreas de garimpo do que de mineração industrial. O garimpo ultrapassa 50% da área minerada no País.
De acordo com o pesquisador do MapBiomas Pedro Walfir, esse aumento da área minerada está muito relacionado com os preços das commodities minerais no mercado internacional. Antes os preços eram muito estáveis, mais a partir de 2000 os preços do ouro e do minério de ferro tiveram aumentos expressivos, acentuando-se ainda mais a partir de 2008.
Das áreas mineradas no País, 72% estão na Amazônia, 14,7% na Mata Atlântica e 9,9% no Cerrado. No caso da mineração industrial, a Amazônia lidera, com 48 mil hectares, vindo depois a Mata Atlântica, com 29 mil hectares, seguida do Cerrado, com 15 mil hectares. Já no caso do garimpo, a Amazônia tem 93% da atividade, enquanto a Mata Atlântica tem 1% e o Cerrado 4,7%. A explicação para o crescimento na Amazônia, segundo o pesquisador, é que o bioma contém as grandes províncias minerais. A Mata Atlântica, por sua vez, possui o Cráton São Francisco. Isso explica o fato de o Pará e Minas Gerais serem os dois principais produtores minerais do País.
Um dado crítico mostra que 9,3% das áreas de garimpo estão dentro de terras indígenas, embora apenas 11 das mais de 500 áreas indígenas apresentem atividade garimpeira. Nos últimos 10 anos, houve um crescimento de 495% de área de garimpo em terras indígenas. O território dos Kayapó é o mais minerado, com mais de 7.600 hectares, seguido pelos Munduruku, com 1.592 hectares e Yanomami, com 414 hectares. Um total de 40,7% das áreas de garimpo estão em Unidades de Conservação, com um crescimento de 301% nos últimos 10 anos, alcançando 42 mil hectares em 2020. A maior área está na APA do Tapajós, com 34,7 mil hectares.
Dos 10 municípios com maior área minerada, 9 estão no estado do Pará e apenas um no Mato Grosso. Itaituba, no Pará, é o município com a maior área minerada, com quase 45 mil hectares, seguido por Jacareacanga, também no Pará, com 9.450 hectares, Parauapebas (PA), com 7.558 hectares, Oriximiná (PA), 6.278 hectares e São Félix do Xingu (6.212 hectares).
Em termos de substâncias minerais, do ponto de vista industrial a substância mais lavrada é o minério de ferro, com 25,4%, vindo a seguir o alumínio (bauxita), com 25,3%, as rochas ornamentais, com 13,5%, estanho (9,1%), o calcário (8,7%), minerais de classe 2 – brita e areia (7,1%) e o ouro (6,0%). Já no garimpo, o ouro predomina, com 86,1% das áreas mineradas, seguido pelo estanho, com 8,4%.
Fontes: ((O))Eco., Brasil Mineral.
Foto: Marizilda Cruppe / Greenpeace.
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