Google permite patrocínio à desinformação climática, apesar de promessas em contrário, afirma relatório

Em meio às polêmicas na discussão do Projeto de Lei 2.630/2020, o chamado “PL das Fake News”, no Congresso Nacional brasileiro, o Google argumenta que a empresa já possui ferramentas para combater a desinformação climática em suas plataformas. Porém, uma análise divulgada nesta semana pela coalizão Climate Action Against Disinformation afirma que a empresa de tecnologia vem falhando sistematicamente em sua política de desmonetizar vídeos do YouTube que contêm informações falsas sobre as mudanças climáticas, apesar de uma promessa feita pela em 2021 de interromper a promoção paga desses conteúdos.

Segundo a pesquisa, 100 vídeos, com um total de 18 milhões visualizações, se encaixariam naquilo que o próprio Google define como critérios para impedir a promoção deste tipo de atividade em seu site. A política se aplica a conteúdos que se referem às mudanças climáticas como uma fraude ou farsa, negam a tendência de longo prazo de que o clima está esquentando ou negam que as emissões de gases do efeito estufa ou a atividade humana contribuam para a crise do clima. Porém, os vídeos continuam disponíveis ao público e sendo patrocinados. “Isso realmente levanta a questão sobre qual é o atual nível de fiscalização do Google”, disse Callum Hood, chefe de pesquisa do Center para Countering Digital Hate, em entrevista, informa reportagem do The New York Times.

O desafio de combater as fake news

Michael Aciman, porta-voz do YouTube, disse em comunicado que a empresa permitia “debates sobre políticas ou discussões de iniciativas relacionadas ao clima, mas quando o conteúdo cruza a linha para a negação das mudanças climáticas, removemos os anúncios da veiculação nesses vídeos”. Embora “apliquemos esta política rigorosamente, nossa aplicação nem sempre é perfeita e estamos trabalhando constantemente para melhorar nossos sistemas para detectar e remover melhor o conteúdo que viola a política. É por isso que recebemos feedback de terceiros quando eles acham que perdemos alguma coisa”, completa.

É difícil avaliar toda a extensão da desinformação no YouTube, afirmam os pesquisadores da coalização do Climate Action Against Disinformation, porque assistir a vídeos é um trabalho demorado e eles têm acesso limitado aos dados, deixando-os dependentes de pesquisas trabalhosas na plataforma com palavras-chave. “Acho que é justo dizer que provavelmente essa é a ponta do iceberg”, acrescentou Hood, referindo-se ao que eles encontraram no estudo.

“O que torna o YouTube especialmente perigoso é a participação nos lucros por vídeo”, disse Claire Atkin, cofundadora do Check My Ads, um grupo de defesa que estuda publicidade online e que não participou da pesquisa, ao NYT. “Quando alguém posta essas informações no Facebook, não ganha dinheiro, mas quando alguém posta um vídeo no YouTube, tem a oportunidade de ganhar um salário integral com a desinformação.”

Para ela, o YouTube é uma paraça poderosa para radicalizar as pessoas online e que precisa trabalhar mais para governar o conteúdo em sua plataforma. “O fato de eles não terem mudado isso, de ainda estarem financiando – não promovendo, e enviando anunciantes para patrocinar a desinformação sobre as mudanças climáticas é mais uma prova de sua inaptidão”, afirma Atkin.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Marcela Franco/TechTudo.