Um dos mais novos bancos de recifes do mar brasileiro foi descoberto em 2016. E, antes de mais nada, causou surpresa mundial. Ninguém acreditava ser possível um banco de recifes debaixo da pluma de água doce e barrenta, como é o caso da foz do Amazonas. Contudo, eles estão lá.
O imenso banco dista cerca de cem quilômetros da foz do Amazonas, e fica entre 50 e 200 metros de profundidade. Além do mais, o conjunto é enorme, uma faixa com cerca de 900 km de extensão por 40 km de largura que se estende do Maranhão até a Guiana Francesa. Atualmente, o conjunto é conhecido como Grande Recife Amazônico, ou GARS.
Recifes na foz do Amazonas
Em trabalho para proteger a nova descoberta, desde sempre ameaçada pela extração do petróleo, o Greenpeace publicou o estudo Amazônia em Águas Profundas – Como o Petróleo Ameaça os Corais do Amazonas, no qual relembra a potência do maior rio do mundo.
Por exemplo, ‘o Amazonas é o maior rio do mundo quando se fala em volume de água que lança no mar. Ele despeja mais água doce que os outros sete maiores rios do mundo juntos, ao todo são 300 mil metros cúbicos de água chegando ao Oceano Atlântico a cada segundo.
Pois é justamente abaixo desta potência de água doce que se encontra o Grande Recife Amazônico. Uma descoberta das mais importantes da ecologia marinha das últimas décadas.
Entretanto, ainda se conhece pouco sobre o Grande Recife Amazônico. Ainda assim já estão na lista 40 espécies de corais, 60 de esponjas, além de 73 espécies de peixes típicos de recifes, por último, também povoado por lagostas e estrelas-do-mar. Não à toa, a região que vai do Amapá até o Pará é uma das duas principais de produção pesqueira do País.
Novo estudo sobre os corais da Amazônia ou ‘farmácia submersa’
Em julho de 2022 um grupo de pesquisadores publicou novo estudo sobre os corais da Amazônia. Em entrevista ao jornal O GLOBO, o pesquisador Fabiano Thompson, chefe do Laboratório de Microbiologia da UFRJ, afirma que pela primeira vez foi possível identificar que microrganismos e nutrientes da pluma do Rio Amazonas alimentam as esponjas do Grande Recife Amazônico e que local pode ser considerado uma “farmácia submersa”.
O pesquisador comenta que a região da foz do Amazonas é uma das menos estudadas do mar brasileiro. Além disso, o Grande Recife Amazônico, ou GARS, somente foi descrito em 2018.
Mesmo assim, Thompson afirma que ‘além de ser habitat para a vida marinha, há riquezas que podem ser transformadas em produtos biotecnológicos, como novos medicamentos e alimentos, para a geração de divisas para o Brasil’.
A relação entre o rio Amazonas e o grande recife
Ao responder uma pergunta sobre por que é importante o Brasil entender uma ligação deste tipo, Thompson respondeu,
‘É importante por várias razões. Trata-se de um megabioma composto pela maior floresta tropical do mundo, com o maior sistema de manguezais do Atlântico (um dos maiores do mundo) e o maior sistema recifal do Atlântico Sul. Este megabioma está todo conectado’.
Em outras palavras, um depende do outro segundo Thompson. ‘Por exemplo, os manguezais da região servem de berçários para vida marinha, ou seja, para a vida no GARS. E o GARS serve como um banco de “sementes” para recifes mais rasos, das regiões costeiras, um recurso biológico inestimável no contexto das mudanças globais’.
Enquanto pesquisadores descobrem novidades que aumentam ainda mais nossa biodiversidade, a maior do mundo, a Amazônia nunca foi tão maltratada e compreendida pela poder público. Nesse sentido, é no mínimo mais um paradoxo digno do País.
Fonte: DW, Mar Sem Fim, Greenpeace.