As principais consequências da guerra em Gaza, atacada por Israel, são as sociais e as econômicas. Mas há outra, pouco visível, que também merece atenção: a piora da crise climática. Um estudo realizado por uma equipe de pesquisadores do Reino Unidos e dos Estados Unidos e divulgado pelo The Guardian revelou que a pegada de carbono dos primeiros 15 meses do conflito será maior do que as emissões anuais de gases de efeito estufa (GEE) – principais responsáveis pelo aquecimento global – de 100 países individuais.
De acordo com a análise, quase 1,89 milhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e) foram gerados entre o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 contra Israel e o cessar-fogo temporário em janeiro de 2025, sendo que mais de 99% são atribuídos ao bombardeio aéreo e à invasão terrestre de Gaza por Israel.
Quase 30% dos GEE gerados no período foram oriundos dos Estados Unidos, que enviaram 50.000 toneladas de armas e outros suprimentos militares para Israel, principalmente em aviões de carga e navios, provenientes de estoques na Europa.
Outros 20% são atribuídos às missões de reconhecimento e bombardeio de aeronaves israelenses, tanques e combustível de outros veículos militares, bem como ao CO2 gerado pela fabricação e explosão de bombas e artilharia.
Além disso, enquanto o combustível dos bunkers e foguetes do Hamas são responsáveis por cerca de 3.000 toneladas de CO2e, o equivalente a apenas 0,2% do total de emissões diretas da guerra, o fornecimento e uso de armas, tanques e outras munições pelo exército de Israel responde por 50%.
O estudo também indicou que o custo climático de longo prazo da destruição, limpeza e reconstrução de Gaza pode chegar a 31 milhões de toneladas de tCO2e. Isso é mais do que a soma das emissões anuais de GEE da Costa Rica e da Estônia em 2023.
Estima-se que o custo climático de longo prazo da destruição militar israelense em Gaza – e das recentes trocas militares com o Iêmen, o Irã e o Líbano – equivale a carregar 2,6 bilhões de smartphones ou a operar 84 usinas de energia a gás por um ano.
Nesse valor estão inclusas as 557.359 tCO2e estimadas, provenientes da construção da rede de túneis do Hamas e da barreira israelense “Muro de Ferro”, durante a ocupação.
“Este conflito em Gaza mostra que os números são substanciais, maiores do que todas as emissões de gases de efeito estufa de muitos países inteiros, e devem ser incluídos para metas precisas de mitigação e mudanças climáticas”, observou o coautor Frederick Otu-Larbi, professor associado sênior no Lancaster Environment Centre e professor na Universidade de Energia e Recursos Naturais em Gana.
O também coautor Ben Neimark, professor sênior da Universidade Queen Mary de Londres, na Inglaterra, acrescentou que “os militares precisam levar em conta o fato de que sua própria segurança nacional e capacidade operacional estão sendo comprometidas devido a um clima mutável que eles próprios criaram”.
Metodologia
O The Guardian explica que o estudo se baseou em uma metodologia em evolução conhecida como estrutura de escopo 3+, que busca capturar emissões diretas e indiretas de guerra atualmente ausentes nas auditorias climáticas e de conflitos globais. Isso pode incluir degradação do solo, incêndios, danos à infraestrutura, deslocamento de pessoas, ajuda humanitária, redirecionamento de navios de carga e aviação civil.
Os pesquisadores se basearam em informações de código aberto, reportagens da mídia e dados de grupos humanitários independentes, como agências da ONU.
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: Nedal Eshtayah/Anadolu/Getty Images.
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