As inundações que atingiram a região de Hill Country, no Texas, deixaram mais de 100 mortos e dezenas de desaparecidos. A tempestade despejou volumes excepcionais de chuva em um curto período — um fenômeno cada vez mais frequente em razão das mudanças climáticas.
A tragédia expôs a fragilidade do sistema nacional de prevenção e resposta a desastres. O episódio levantou questionamentos sobre a falha nos alertas e na evacuação de áreas vulneráveis, como o acampamento Mystic, onde 700 meninas estavam alojadas em uma planície de inundação do rio Guadalupe.
Segundo especialistas ouvidos pelo jornal The Guardian, a atual gestão do presidente Donald Trump precarizou órgãos como o Serviço Nacional de Meteorologia (NWS) e a Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema). As duas instituições perderam profissionais, o que comprometeu a capacidade de emitir alertas, monitorar tempestades e coordenar respostas em tempo real.
Um terço dos servidores permanentes da Fema foi dispensado ou pediu demissão após a mudança na Casa Branca no começo deste ano. Já o NWS perdeu mais de 600 meteorologistas, deixando diversos escritórios sem cobertura 24 horas. O escritório de San Antonio — responsável pela região mais afetada — sofreu desligamentos recentes, incluindo dois meteorologistas sêniores, entre eles o especialista em coordenação de alertas.
“O que aconteceu no Texas é exatamente o tipo de evento que meteorologistas e cientistas do clima vêm alertando há décadas. Mas, quando se desmonta o sistema de prevenção e resposta, o impacto é inevitável”, disse a professora de gestão de emergências Samantha Montano.
A Casa Branca classificou o desastre como “um ato de Deus”. E, mesmo diante da tragédia, Trump afirmou que não pretende reverter os cortes. “Isso foi algo que aconteceu em segundos. Ninguém esperava. Ninguém viu. Pessoas muito talentosas estavam lá e, mesmo assim, não viram.”
Além das demissões e desligamentos, o orçamento assinado por Trump reduziu em US$ 150 milhões os recursos da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), responsável por melhorar a precisão das previsões. O governo também cortou 56% do orçamento da Fundação Nacional de Ciência (NSF), que financia pesquisas em clima e desastres. O novo orçamento ainda prevê a extinção do Escritório de Pesquisas Oceânicas e Atmosféricas da NOAA — setor que lidera o desenvolvimento de sistemas de alerta precoce.
A crise de governança nas agências federais ocorre justamente quando os desastres climáticos se intensificam. Uma análise recente mostrou que a tempestade no Texas ocorreu em uma atmosfera 7% mais úmida e 1,5 °C mais quente do que seria sem a crise do clima.
“Todo evento climático hoje carrega alguma influência das mudanças climáticas. A única questão é o tamanho dessa influência”, explicou o climatologista Andrew Dessler, da Universidade Texas A&M.
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: Getty Images.
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