Japão: Fukushima prepara-se para despejar água da central nuclear no mar

11 anos depois do desastre de Fukushima, o Japão está a enfrentar um desafio relacionado com a água. Porque é que a Central Nuclear tem de esvaziar, de forma urgente, os seus tanques de água?

Desde o tsunami, de 11 de março de 2011, o país tem desmonte e descontaminando o local, o que deverá demorar de 30 a 40 anos. Mas, hoje, conforme explica um funcionário da operadora Tepco(Companhia de Energia Elétrica de Tóquio), a prioridade relaciona-se com a água.

Mas, em primeiro lugar, de onde é que ela vem?

Takahiro Kimoto, da operadora Tepco, explicou que a “água que se acumula, todos os dias, tem sido utilizada para arrefecer o combustível derretido. E também há água, de fontes subterrâneas ou da chuva, que se acumula”.

Esta água contaminada é tratada na ALPS, uma unidade especialmente concebida para Fukushima, que elimina quase todas as substâncias radioativas. A água tratada é então armazenada em milhares de tanques, mas o problema é que estes tanques atingiram a sua capacidade máxima.

Japão vai proceder à descarga da água tratada no mar

No próximo ano, o Japão irá descarregar a água tratada no mar, no entanto, esta água contém uma pequena quantidade de substância radioativa. Trata-se do trítio, que é inseparável da água. Neste laboratório, 90 mil amostras de água tratada são analisadas todos os anos, em preparação para a posterior diluição no mar.

Após um segundo tratamento na ALPS, a água será levada para o mar através de um túnel, que tem 1 quilómetro de comprimento e é construído a uma profundidade de 16 metros. Esta estrutura estará concluída na próxima primavera.

Pouco antes de chegar ao Pacífico, a água será diluída, uma última vez, em grandes piscinas de água do mar.

Será que a vida marinha vai ser afetada pela radioatividade?

Para descobrir, a central nuclear está  criando peixes em tanques separados.

“Há tanques de água do mar, de um lado, e tanques de água tratada, misturada com água do mar, do outro lado. Vamos descarregar a água, com normas inferiores, às da água potável, estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”, explicou Takahiro Kimoto.

Pescadores de Fukushima preocupados

Os primeiros a serem afetados, os pescadores de Fukushima, estão preocupados com a reputação dos seus produtos.

No porto de Onahama, a 60 km da central nuclear, a atividade já sofreu efeitos negativos devido à apreensão dos consumidores. De 25 mil toneladas por ano, no período anterior a 2011, para agora, apenas 5 mil toneladas de peixe, que são capturadas, de acordo com Nozaki Tetsu, presidente da Federação das Associações Cooperativas de Pesca de Fukushima.

“Como pescador de Fukushima, sou contra a liberação de materiais radioativos no nosso local de trabalho. O que nos preocupa é a reputação negativa que isto acarreta”, começou por dizer o responsável dos pescadores.

Este trabalhador disse ainda que “as explicações recebidas por parte do governo, nos últimos dez anos, não têm sido falsas”.

“Se também pudermos assumir que as explicações científicas também não o são, faremos um esforço para continuar a pescar, promovendo ao mesmo tempo uma melhor compreensão do consumidor, e, ao fazê-lo, penso que podemos limitar a maior parte dos danos ao nível da reputação”, explicou ainda.

Peixes são analisados de forma frequente em laboratório

Após a captura diária de peixes, um animal de cada espécie é analisado neste laboratório, no porto.

Hoje, das 63 espécies testadas, nenhuma tem qualquer vestígio de radioatividade, por isso estão todas à venda.

No período de um ano, só uma vez é que um peixe excedeu a fase autorizada. Esta fase está rigorosamente fixada em 50 bq (bequerel), em Fukushima, enquanto que a norma internacional permite 1.000 bq. O monitoramento continuará após a descarga da água tratada.

As autoridades repetem que a dose de trítio libertada não será perigosa: 22 terabecquerel, por ano, muito menos do que a maioria das centrais espalhadas pelo mundo: por exemplo, o local de reprocessamento de resíduos de La Hague, em França, liberta mais de 11 mil terabecquerel por ano.

O governo está satisfeito porque a Grã-Bretanha levantou as restrições à importação de produtos vindos da região, em junho passado. Um sinal de confiança renovada, após anos de esforço.

O Japão tomou todas as precauções necessárias relativamente a esta questão sensível da descarga de água tratada e pediu à Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) para supervisionar as operações. Em maio, Rafael Grossi, diretor da AIEA, visitou Fukushima.

O diretor da AIEA enfatiza o “notável progresso no desmonte em Fukushima Daiichi, desde a sua última visita há dois anos”

A agência da ONU criou uma equipe de trabalho. Em novembro passado, Gustavo Caruso, chefe desta missão, regressou a Fukushima.

Gustavo Caruso, director e coordenador de Segurança Nuclear na AIEA, explicou um pouco mais sobre esta missão.

“Uma equipe de trabalho realizou a sua terceira missão ao Japão e desta vez foi composta por peritos da Argentina, China, Canadá, França, República da Coreia, Ilhas Marshall, Rússia, Reino Unido, Estados Unidos da América e Vietnam”.

O objetivo: garantir a segurança da descarga. A agência da ONU examina os aspetos regulamentares e efetua análises em laboratórios independentes.

“O relatório de avaliação e as conclusões serão divulgados dentro de três meses e a equipa especial da AIEA realizará também uma outra missão ao Japão, em janeiro, antes do início da descarga da água. A AIEA emitirá um relatório abrangente, contendo todas as conclusões recolhidas até ao momento, as nossas conclusões sobre todo este processo. Todas as normas que aplicamos representam um elevado nível de segurança”, referiu Gustavo Caruso.

As primeiras descargas deverão ter lugar no próximo ano. O Japão está fazendo tudo para tornar esta operação num sucesso e para proteger os habitantes e o ambiente. Um novo passo na reconstrução de uma região, que acredita no seu futuro.

Fonte: Euronews.

Foto: Divulgação.