Maceió decreta emergência por risco de colapso em mina da Braskem

Uma mina de sal-gema da Braskem pode colapsar a qualquer momento ainda hoje no bairro do Mutange, em Maceió. Nesta quinta feira, 29, o prefeito anunciou o decreto de situação de emergência no município.

O que são as minas da Braskem?

A Braskem é uma empresa de atuação global com unidades no Brasil, Estados Unidos, Alemanha e México. É controlada pela Novonor (ex-Odebrecht) e tem ainda a Petrobras com parte das ações. A companhia mantém atividades de mineração sob a superfície de Maceió desde a década de 1970 — antes de se chamar Braskem, a indústria responsável pelas atividades era a Salgema Indústrias Químicas S/A.

A extração feita no subsolo de Maceió é de sal-gema, cloreto de sódio acompanhado de outras substâncias e utilizado para produzir soda cáustica e policloreto de vinila.

O sistema usado pela empresa para explorar as minas era feito da seguinte maneira: um poço era cavado, então a água era injetada para a camada de sal, gerando assim uma salmoura. A solução era retirada das minas para a superfície. Por fim, os poços cavados eram preenchidos para dar estabilidade ao solo.

Porém, parte dessas minas teve vazamento do líquido ao longo desses mais de 40 anos de exploração — o que causou instabilidade no solo, gerando buracos. Ao todo são 35 minas na área urbana da cidade — elas estão sendo preenchidas novamente.

Em março de 2018, um tremor de terra foi sentido na cidade. O evento causou o afundamento do solo em cinco bairros: Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e em uma parte do Farol. Cerca de 60 mil moradores deixaram a área na época. A Braskem, responsável pelo problema, passou a indenizar os moradores. No total, mais de 200 mil pessoas foram afetadas pelo desastre. Os tremores sentidos seriam justamente a acomodação do solo diante dessa instabilidade causada pelos vazamentos.

A Braskem encerrou a extração de sal-gema em maio de 2019 na região. As 35 minas da companhia começaram a ser fechadas em 2019, depois que a empresa foi responsabilizada pelo surgimento das rachaduras em casas e ruas de alguns bairros de Maceió no ano anterior.

A crise se aprofundou recentemente com uma nova previsão de colapso. O colunista do UOL Carlos Madeiro apurou que a Defesa Civil de Maceió trabalha com a hipótese repassada pela Braskem de que a mina que está na iminência do colapso vai desabar e causar tremor e cratera hoje. As consequências ainda são incertas, mas toda área do Mutange e entorno está desocupada.

Segundo o governo do estado, houve cinco abalos sísmicos na área no mês de novembro, e o possível desabamento pode ocasionar a formação de grandes crateras na região.

Em atualização na manhã de anteontem (30), a Defesa Civil municipal informou que a área está desocupada, mas por precaução, recomenda que embarcações e a população evitem transitar no local até nova atualização do órgão.

“Não sabemos a intensidade, mas é certo que grande parte da cidade irá sentir. Se houver uma ruptura nessa região podemos ter vários serviços afetados, a exemplo do abastecimento de água de parte da cidade e também o fornecimento de energia e de gás. Com certeza, toda a capital irá sentir os tremores se acontecer essa ruptura dessas cavernas em cadeia”, afirmou o coordenador-geral da Defesa Civil do Estado, coronel Moisés Melo.

Minas de Maceió

As minas da Braskem em Maceió são cavernas abertas pela extração de sal-gema durante décadas de mineração na região. Essas cavernas estavam sendo fechadas desde 2019, quando o Serviço Geológico do Brasil (SGB) confirmou que a atividade realizada havia provocado o fenômeno de afundamento do solo na região, o que obrigou a interdição de uma série de bairros da capital alagoana.

O caso tornou-se conhecido após um tremor de terra sentido por moradores de alguns bairros em março de 2018. No Pinheiro, um tradicional bairro da capital alagoana, além dos tremores surgiram rachaduras nos imóveis, fendas nas ruas, afundamentos de solo e crateras que se abriram sem aparente motivo. Os moradores do bairro relataram que após um forte temporal, em fevereiro daquele mesmo ano, danos estruturais no bairro – que já eram frequentes – começaram a se agravar, culminando no tremor sentido semanas depois.

Ainda em 2018, foram identificados danos semelhantes em imóveis e ruas do bairro do Mutange, localizado abaixo do Pinheiro e à margem da Lagoa Mundaú; e no bairro do Bebedouro vizinho aos outros dois. Em junho de 2019, moradores do bairro do Bom Parto relataram danos graves em imóveis.

Estudos feitos posteriormente confirmaram que o tremor ocorrido em 2018 se deu em razão do desmoronamento de uma das 35 minas da área urbana. De acordo com as pesquisas, aquele não foi o único tremor, pois os laudos apontam a existência de outras minas deformadas e desmoronadas.

O professor Gerardo Portela, especialista em gerenciamento de riscos, disse, em entrevista ao UOL News, que o colapso iminente é fruto de um processo longo de descaso. “Estamos vendo a parte final de um processo que é lento, gradual. Ele pode acontecer abruptamente, mas não é o caso porque há registro de dados históricos mostrando que há anos está um progresso de dano severo no subsolo, atingindo o solo”.

O especialista definiu as imagens das rachaduras como “espetáculo do que estava oculto por anos”. “Vamos encontrar várias anormalidades que são consequências quando se faz uma grande cavidade no subsolo para explorar riqueza, que pode gerar movimentos vazios no solo”.

Em julho deste ano, a prefeitura da cidade fechou um acordo com a empresa assegurando ao município uma indenização de R$ 1,7 bilhão em razão do afundamento dos bairros, que teve início em 2018. Segundo a administração municipal, os recursos serão destinados à realização de obras estruturantes na cidade e à criação do Fundo de Amparo aos Moradores (FAM).

Fontes: UOL, CNN, Brasil de Fato, G1.

Foto: Poder 360/Divulgação.