Mais da metade dos ecossistemas de manguezais do mundo estão em risco de colapso. É o que revela a primeira avaliação global de manguezais realizada com base na Lista Vermelha de Ecossistemas da International Union para Conservation of Nature (IUCN), classificando-os como ‘Vulnerável’, ‘Em Perigo’ ou ‘Criticamente em Perigo’.
Esta é a primeira vez que um ecossistema é avaliado em todo o planeta com base na Lista Vermelha da IUCN, padrão global que mede o estado de conservação dos ambientes.
O estudo foi liderado pela organização e envolveu mais de 250 especialistas baseados em 44 países, provenientes de instituições de investigação, entre elas a Comissão de Gestão de Ecossistemas e a Comissão de Sobrevivência de Espécies (ambas da UICN) e a Aliança Global de Manguezais (Global Mangrove Alliance).
Divulgada no Dia Internacional da Biodiversidade, em 22 de maio, a pesquisa indica que 19,6% dos mangues avaliados estão ameaçados pela desflorestação, pelo desenvolvimento, pela poluição e pela construção de barragens, portanto, em alto risco de colapso, classificados como ‘Em Perigo’ ou ‘Criticamente em Perigo’.
E não há nenhuma perspectiva de melhora ou recuperação, muito ao contrário devido ao aumento do nível do mar e ao aumento da frequência de tempestades severas associadas às mudanças climáticas, que ameaçam 33% desses ecossistemas.
Grethel Aguilar, diretora geral da IUCN, ressalta que “a Lista Vermelha de Ecossistemas é fundamental para acompanhar o progresso em direção ao objetivo de travar e reverter a perda de biodiversidade, em linha com o Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal”.
E completa: “Esta primeira avaliação global dos ecossistemas de manguezais fornece orientações importantes que destacam a necessidade urgente de conservação coordenada dos mangues – habitats cruciais para milhões de pessoas em comunidades vulneráveis em todo o mundo. As conclusões da avaliação irão ajudar-nos a trabalhar em conjunto para restaurar as florestas de mangues que perdemos e proteger as que ainda temos”.
No Brasil, os manguezais localizam-se na faixa litorânea, do Amapá até Santa Catarina, formando-se nos pontos onde há encontro das águas dos rios com as do oceano. Por isso, suas terras são alagadas e o solo é bastante rico em compostos orgânicos, trazidos pelos rios. De acordo com o mapa da IUCN, os mangues da costa brasileira são os de “menor preocupação” (menor, não nenhuma!) em relação a ameaças, em comparação com o mundo. As regiões mais críticas estão nos Estados Unidos e na Índia.
Áreas globais de mangue
Se, até 2050, não forem implementadas mudanças significativas para a proteção dos mangues, a IUCN alerta que as alterações climáticas e a subida do nível do mar resultarão na perda de :
– “1,8 mil milhões de toneladas de carbono armazenadas (17% do total atual de carbono armazenado nos mangues), atualmente avaliadas num mínimo de 13 mil milhões de dólares a preços de mercado, nos mercados voluntários de carbono e representando um custo para a sociedade igual a 336 mil milhões de dólares com base no custo social de carbono;
– proteção de 2,1 milhões de vidas expostas a inundações costeiras (que significam 14,5% das pessoas que vivem nessa situação) e 36 mil milhões de dólares em proteção de propriedades (que significa 35,7% dos atuais valores de propriedade protegidos); e
– 17 milhões de dias de esforço de pesca por ano (14% do atual esforço de pesca é suportado pelos mangues)”.
A avaliação conclui que, em todo o planeta, a manutenção dos ecossistemas de mangues será fundamental para mitigar os impactos das alterações climáticas. Mangues saudáveis driblam a subida do nível do mar e oferecem proteção contra impactos de furacões, tufões e ciclones.
Os resultados do estudo da IUCN identificam os principais fatores que contribuem para a degradação dos mangues e podem ajudar a orientar futuras avaliações e ações nacionais para proteger e restaurar estes delicados ecossistemas.
A avaliação também será vital para a concretização de compromissos globais como o Mangrove Breakthrough – que é um apelo à aceleração da ação e do investimento por parte dos governos, do setor privado e de atores não estatais para um dos ecossistemas mais subprotegidos e ameaçados do planeta -, que visa garantir o futuro de 150 mil km2 de mangues.
A avaliação conclui que a manutenção da integridade do ecossistema ajudará os manguezais a resistirem aos impactos das alterações climáticas.
Preservar suas florestas e restaurar áreas perdidas, por exemplo, aumentará sua resiliência. Manter os fluxos de sedimentos e permitir espaço para que os mangues se expandam para o interior, ajudará esses ecossistemas a lidarem com a subida do nível do mar.
A Lista Vermelha de Ecossistemas
Estabelecida em 2014, a Lista Vermelha de Ecossistemas (RLE), a IUCN, é um padrão global de avaliação sobre o estado de conservação dos ambientes, aplicável em nível local, nacional, regional e global.
Funciona como ferramenta para avaliar e monitorar a “saúde” dos ecossistemas globais, as ameaças que estes ambientes enfrentam e formas de reduzir os riscos e a perda de biodiversidade.
E ainda complementa outras ferramentas de biodiversidade oferecidas pela IUCN, como a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, a Base de Dados Mundial sobre Áreas Protegidas e a Base de Dados Mundial de Áreas Chave para a Biodiversidade.
Por tudo isso, é o principal indicador do Marco Global de Biodiversidade de Kunming Montreal, adotado na Conferência da Diversidade Biológica da ONU, em dezembro de 2022.
Fonte: Conexão Planeta.
Foto: Acervo do SESC Carijós.