Mato Grosso do Sul é o grande líder no desmatamento do Pantanal

Nove em cada dez hectares que perderam vegetação pantaneira desde 2019 estão no Mato Grosso do Sul, reforça um balanço atualizado do MapBiomas. Além disso, as perdas estaduais no primeiro semestre são três vezes maiores do que o observado no mesmo período de 2022.

A análise indica que o bioma perdeu 132.470 hectares (ha) em quatro anos, sendo 12.860 ha no Mato Grosso (10%) e 119.610 no Mato Grosso do Sul (90%). Nesse estado estão seis dos dez municípios que mais desmataram o Pantanal, como Corumbá, Aquidauana e Porto Murtinho.

Os alertas para desmate no Pantanal desde 2019 superam até os do Cerrado e da Amazônia, alvos tradicionais do avanço do agronegócio. O sistema usa imagens de satélite de alta resolução para validar e refinar avisos sobre as perdas de vegetação nativa em todos os biomas.

Ao mesmo tempo, os alertas no Mato Grosso do Sul somaram 25.543 ha no primeiro semestre deste ano, quase três vezes mais que os 9.382 ha verificados nos mesmos meses de 2022.

Para o coordenador de Pantanal no MapBiomas, as perdas se devem sobretudo à descontrolada conversão de vegetação natural para formar pastagens exóticas. “Depois, esses imóveis valorizados são normalmente vendidos, como ocorre na Amazônia”, descreve Eduardo Rosa.

“Não estão limpando pastagens, como muitos produtores alegam, estão desmatando grandes áreas até nas ‘cordilheiras’, regiões elevadas com florestas consolidadas há pelo menos quase 40 anos [desde 1985, quando inicia a vigilância do MapBiomas]”, agrega o especialista.

A área com pastagens exóticas, como a braquiária, já toma mais de 16% no Pantanal. Passou de 663 mil ha em 1985 para 2,6 milhões de ha em 2021 – um salto de 285%.

Tal economia teria ganho paraça com a potente seca dos últimos anos e pela abertura de estradas que prometem driblar as enchentes anuais do bioma. Os projetos dessas vias somam 1.500 km através de regiões como Nhecolândia, Paiaguás, Abobral e Nabileque, mostrou ((o))eco em fevereiro.

A devastação do Pantanal no Mato Grosso do Sul acontece quase que exclusivamente em fazendas com Cadastro Ambiental Rural (CAR), mas no estado não é possível cruzar os desmatamentos com as licenças de supressão ou conversão de vegetação pantaneira. Essas informações não são públicas.

A destruição recorde que assombra o Pantanal foi viabilizada por um estudo comprado pela Federação de Agricultura de Mato Grosso do Sul (Famasul), afirma um inquérito do Ministério Público Estadual (MPE) disparado na segunda-feira (31).

A falcatrua teria sido usada desde 2015, quando um decreto baseado naquele trabalho passou a permitir que fazendas eliminem até 60% da vegetação natural. O estudo foi contratado após a Embrapa Pantanal afirmar que no máximo 35% dos imóveis poderiam ser desmatados, diz o MPE.

O decreto teria usado um estudo da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ) e não da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ). Ambas são ligadas à Universidade de São Paulo (USP), mas a primeira é privada, enquanto a segunda é pública.

O MPE recomendou ao governo Eduardo Riedel (PSDB) a suspensão imediata de novas licenças para desmates. As investigações prosseguem. As informações são do jornal Correio do Estado.

Por sua vez, o governo Eduardo Ridel (PSDB) afirma que o Pantanal sul-mato-grossense tem quase 85% da vegetação original preservada. A taxa é confirmada pelo MapBiomas, mas esses remanescentes encolhem diariamente pelo intenso desmate do bioma.

Fonte: ((O))Eco.

Foto: SOS Pantanal / Divulgação.