Microplásticos, luzes urbanas e até guerras ameaçam abelhas

As abelhas têm um papel fundamental no meio ambiente para o equilíbrio do ecossistema e a produção de alimentos. Estima-se que mais de 75% das culturas alimentares do mundo, 35% das terras agrícolas globais e quase 90% das espécies de plantas silvestres com flores dependem da polinização de abelhas, borboletas, morcegos, entre outros animais. Apesar da importância vital para o planeta, diversos estudos apontam para o declínio populacional dos polinizadores, em especial das abelhas. Um relatório inédito, publicado em (20/05), Dia Mundial da Abelha, traz novos e sérios riscos para as abelhas e outros polinizadores na próxima década.

Publicado pela Universidade de Reading, no Reino Unido, o documento identifica as 12 principais ameaças emergentes que podem acelerar a perda de polinizadores nos próximos 5 a 15 anos, confira abaixo:

Guerras e conflitos, como a guerra na Ucrânia, paraçam os países a cultivar menos tipos de culturas e deixam os polinizadores sem alimentos diversos durante toda a estação.

Partículas de microplástico contaminam colmeias em toda a Europa. Testes em 315 colônias de abelhas revelaram materiais sintéticos como plástico PET na maioria das colmeias.

A luz artificial à noite reduz as visitas de polinizadores noturnos às flores em 62% e inibe o papel crucial que as mariposas e os insetos noturnos desempenham na polinização.

Poluição por antibióticos estão contaminando colmeias e mel, além de afetar o comportamento dos polinizadores, como reduzir sua busca por alimento e visitas às flores.

Poluição do ar (com gases como ozônio e óxidos de nitrogênio) afetando a sobrevivência, reprodução e crescimento dos insetos.

Coquetéis de pesticidas enfraquecem os polinizadores, que cada vez mais enfrentam uma mistura perigosa de diferentes agrotóxicos, principalmente em países em desenvolvimento.

Incêndios florestais mais frequentes e maiores, destruindo habitats de polinizadores e dificultando a recuperação.

Plantio de árvores mal planejado para Net Zero. Plantar muitas árvores pode ajudar ou prejudicar a natureza, dependendo do tipo de árvore plantada e de onde.

Aumento da agricultura em ambientes fechados. O cultivo em espaços fechados reduz os habitats naturais dos polinizadores selvagens e pode espalhar doenças por meio da introdução de polinizadores gerenciados.

Aumento da demanda por mineração de metais. A mineração de materiais como lítio e cobalto, usados ​​em baterias, danifica a terra e a água, o que pode prejudicar os polinizadores.

Poluição por metais pesados. Metais tóxicos como cádmio e mercúrio podem prejudicar a saúde, o comportamento e a sobrevivência dos polinizadores.

Perda regional do monitoramento de pesticidas. Sem o rastreamento adequado, pesticidas nocivos podem ser usados ​​em excesso, matando polinizadores e removendo recursos florais, além de tornar as “pragas” resistentes e danificar o meio ambiente.

O relatório foi encomendado pela Bee:wild, um movimento sem fins lucrativos formado por cientistas para salvar os polinizadores e que integra a organização internacional Re:wild, focada na proteção e restauração da natureza.

Como melhorar a proteção das abelhas

Como o título sugere, o relatório “Ameaças emergentes e oportunidades para a conservação de polinizadores globais” também joga luz sobre as medidas que podem ser tomadas para proteger os polinizadores e, consequentemente, evitar novos declínios significativos.

“Agindo precocemente, podemos reduzir os danos e ajudar os polinizadores a continuar seu importante trabalho na natureza e na produção de alimentos. Diversas oportunidades de conservação já existem e mais estão surgindo. Esta não é apenas uma questão de conservação. Os polinizadores são essenciais para nossos sistemas alimentares, resiliência climática e segurança econômica. Proteger os polinizadores significa proteger a nós mesmos”, destaca o professor Simon Potts, da Universidade de Reading, principal autor do estudo.

De oportunidades, nacionais e globais, para melhorar a proteção dos polinizadores, a relação abaixo é listada da mais alta para a mais baixa por novidade e depois impacto:

Leis mais rígidas sobre o uso de antibióticos. Melhores regulamentações poderiam limitar a poluição por antibióticos, especialmente em áreas onde não há restrições.

Redução da demanda por veículos movidos a combustíveis fósseis. Veículos elétricos podem reduzir a poluição do ar, que pode ser prejudicial aos polinizadores.

Melhoramento de plantas para polinizadores. As culturas podem ser projetadas para polinizadores, fornecendo mais pólen e néctar, mas mais pesquisas são necessárias para garantir a segurança.

Parques solares repletos de flores. Os parques solares podem servir como habitats favoráveis ​​aos polinizadores se forem bem localizados e projetados adequadamente.

Tratamentos de RNAi para pragas de polinizadores. Novos métodos de controle de pragas usando tecnologia de RNAi podem proteger as abelhas e, ao mesmo tempo, reduzir o uso de pesticidas.

IA e conservação direcionada. A inteligência artificial pode rastrear polinizadores, detectar pragas e ajudar a melhorar os esforços de conservação.

Políticas comerciais e agrícolas que promovam produtos com baixo teor de pesticidas. As regulamentações podem incentivar a agricultura com menos pesticidas, protegendo os polinizadores e seus habitats.

Legislação sobre apicultura em áreas de conservação. A implementação de regulamentações pode ajudar a minimizar a competição entre abelhas gerenciadas e polinizadores selvagens por recursos essenciais.

Restaurar a função completa do ecossistema, não apenas das plantas. A conservação deve se concentrar na reconstrução de ecossistemas inteiros, não apenas no plantio de árvores.

Proteger as abelhas sem ferrão. Os esforços devem se concentrar na salvação das abelhas nativas sem ferrão, que desempenham um papel fundamental na polinização nos trópicos.

Políticas globais mais eficazes. Regulamentos e leis internacionais, como o Regulamento de Restauração da Natureza da União Europeia, apoiam a proteção dos polinizadores e criam um apoio substancial à captura de carbono e à redução das emissões de carbono.

Soluções que beneficiam múltiplos serviços ecossistêmicos. Proteger os polinizadores também pode melhorar simultaneamente a saúde do solo, o armazenamento de água e a captura de carbono.

Plantar uma mistura de árvores floridas e árvores de crescimento rápido sem floração para captura de carbono e restaurar habitats após a mineração de materiais para baterias de automóveis também estão entre as medidas que podem ajudar a reduzir o impacto e proteger a biodiversidade.

O que podemos fazer

Individualmente, é possível ajudar a tecer a rede que sustenta a vida das abelhas. Quebrar o concreto e plantar flores atraentes aos polinizadores é um bom exemplo disso. “Será necessário um esforço de todos para enfrentar essas ameaças. Precisamos manter, gerenciar e melhorar nossos habitats naturais para criar espaços seguros para os polinizadores”, afirma Deepa Senapathi, chefe do Departamento de Gestão Sustentável de Terras da Universidade de Reading, coautora do relatório. “Ações individuais, como fornecer alimento e áreas de nidificação em nossos próprios quintais, podem ajudar muito. Mas mudanças políticas e ações individuais devem funcionar em conjunto para que tudo, desde jardins e fazendas a espaços públicos e paisagens mais amplas, possa se tornar habitats favoráveis ​​aos polinizadores”, completa.

Fontes: Ciclovivo, Canaltech..

Imagem: Ankith Choudhary/Unsplash.

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