Cirurgias plásticas e cosméticos diversos fazem mil promessas de rejuvenescimento, mas a fonte da juventude pode estar na natureza. Um novo estudo da Universidade Northwestern, nos EUA, revela que ter acesso a parques e jardins comunitários no bairro pode retardar o envelhecimento biológico.
Aproximadamente 55% da população mundial vive agora em áreas urbanas; e, conforme a revisão da Perspectivas de Urbanização Mundial realizada pela Organização das Nações Unidas, estima-se que cerca de 68% viverão em cidades até 2050. Junto a essa mudança, espaços verdes podem ser deixados de lado – mesmo que sejam comprovados seus benefícios para a saúde.
Parques urbanos e espaços verdes ajudam a combater o calor, aumentar a biodiversidade e transmitir uma sensação de tranquilidade na selva urbana. Mas, eles também contribuem para um ar mais limpo e podem “rejuvenescer”. em média, 2,5 anos mais jovens, de acordo com um estudo publicado na Science Advances, Os benefícios dependem, no entanto, de uma exposição prolongada.
A investigação partiu da análise de modificações químicas do DNA conhecidas como “metilação”. Estudos anteriores demonstraram que esse processo se relaciona com os “relógios epigenéticos”, os quais permitem que se preveja uma série de condições de saúde de uma pessoa, como doenças cardiovasculares, câncer e funções cognitivas. Além disso, essa análise genética é adotada por pesquisadores que buscam um jeito biologicamente mais preciso de se calcular a idade de alguém.
“Acreditamos que nossas descobertas têm implicações significativas para o planejamento urbano, no sentido de expandir a infraestrutura verde para promover a saúde pública e reduzir as disparidades de saúde.” comenta Kyeezu Kim, autor principal do estudo e pesquisador pós-doutorado na Feinberg School of Medicine da Northwestern University, de Chicago, nos Estados Unidos.
“Quando pensamos em manter-nos saudáveis à medida que envelhecemos, normalmente focamos em coisas como comer bem, fazer exercício e dormir o suficiente”, diz Kyeezu Kim, “no entanto, a nossa investigação mostra que o ambiente em que vivemos, especificamente a nossa comunidade e o acesso a espaços verdes, também é importante para nos mantermos saudáveis”, completa.
Este estudo é o primeiro a investigar o efeito da exposição de longo prazo (cerca de 20 anos de exposição) nos espaços verdes urbanos e no envelhecimento biológico, especificamente usando a idade epigenética (a medição da idade biológica, que pode ser diferente da idade cronológica) baseada na metilação do DNA.
A idade epigenética baseada na metilação do DNA refere-se a alterações químicas no DNA que podem influenciar vários resultados de saúde relacionados à idade. A idade epigenética é um biomarcador do envelhecimento associado a doenças relacionadas à idade e à mortalidade.
Basicamente, usando o DNA do sangue, a pesquisa foi capaz de medir a idade biológica em nível molecular, analisando pequenas mudanças na forma como os genes relacionados ao processo de envelhecimento funcionam.
Rejuvenescendo
Kyeezu Kim, liderou o estudo que avaliou mais de 900 pessoas brancas e negras entre 1986 a 2006. Os voluntários tinham em média 45 anos e eram de quatro cidades norte-americanas: Birmingham, Chicago, Minneapolis e Oakland.
Usando imagens de satélite, a equipe avaliou quão próximas as casas dos participantes eram de vegetações e parques. Então, os pesquisadores analisaram esses dados junto com amostras de sangue coletadas nos anos 15 e 20 do estudo, para determinar a idade biológica dos indivíduos.
A equipe também construiu modelos estatísticos para avaliar os resultados e controlar outras variáveis, como educação, renda e fatores comportamentais como tabagismo, que poderiam afetar os resultados.
Eles descobriram que as pessoas cujas casas eram cercadas por 30% de espaço verde em um raio de cinco quilômetros eram, em média, 2,5 anos mais jovens biologicamente em comparação com aquelas cujas casas eram cercadas por apenas 20% de cobertura verde.
No entanto, esse benefício não foi compartilhado de forma igual. Pessoas negras com mais acesso ao espaço verde eram apenas um ano biologicamente mais jovens, enquanto as brancas eram três anos mais novas.
Kim explica, em entrevista à agência France Presse, que outros fatores podem afetar o grau desse benefício. É o caso do estresse, da qualidade do espaço verde circundante e até mesmo de outros apoios sociais. Por exemplo, parques usados para atividades ilícitas em bairros menos favorecidos socialmente podem ser menos frequentados, anulando essa vantagem apontada pelo estudo.
Apesar da descoberta, a especialista pontua que mais estudos são necessários. Os próximos passos podem envolver a análise da ligação entre espaços verdes e resultados específicos de saúde, pois ainda não está claro como exatamente a proximidade da vegetação reduziria o envelhecimento biológico. Porém, a pesquisa recém-publicada é um primeiro passo para mudanças importantes.
“Acreditamos que nossas descobertas têm implicações significativas para o planejamento urbano em termos de expansão da infraestrutura verde para promover a saúde pública e reduzir as disparidades de saúde”, conclui Kim.
Fonte: Revista Galileu, Exame, Ciclo Vivo.
Foto: EBC.
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