Mudanças climáticas influenciaram mortes da 1ª Guerra Mundial e gripe espanhola

Um grupo internacional de estudiosos identificou que chuvas torrenciais ocorridas no início de século 20 podem ter influenciado a mortalidade da Primeira Guerra Mundial e da pandemia de gripe espanhola. O estudo foi publicado no jornal GeoHealth da União Geofísica Americana (AGU).

Os cientistas reconstruíram as condições ambientais na Europa durante a guerra usando dados de um núcleo de gelo retirado dos Alpes. Então, eles compararam as condições ambientais com os registros históricos de mortes durante os anos de guerra. Assim, os pesquisadores descobriram que houveram três picos de mortalidade durante o conflito. Esses picos ocorreram durante ou logo após períodos de inverno e chuvas fortes causadas por influxos extremamente incomuns de ar do oceano nos invernos de 1915, 1916 e 1918.

Segundo os pesquisadores, o mau tempo também pode ter contribuído para a propagação da gripe espanhola, que matou de 50 a 100 milhões de pessoas entre 1917 e 1919. Muitos cientistas estudam a disseminação da cepa da gripe H1N1 que causou a pandemia, mas poucas pesquisas têm se concentrado em saber se as condições ambientais também influenciaram sua propagação de alguma forma.

Os resultados sugerem que o mau tempo pode ter mantido aves migratórias, como os patos-reais, na Europa durante os anos de guerra, onde eles poderiam facilmente transmitir a gripe aos humanos pela água contaminada por fezes. Os patos-reais são os principais transmissores do vírus da gripe H1N1, e até 60% dos dele podem ser infectados com o H1N1 todos os anos. Pesquisas anteriores mostraram que os padrões migratórios de patos selvagens e outras aves são interrompidos durante períodos incomuns do clima.

“Não estou dizendo que essa foi a ‘causa’ da pandemia, mas certamente foi um potencializador, um fator agravante de exacerbação de uma situação já explosiva”, disse, em nota, Alexander More, autor principal do estudo, cientista climático e historiador da Universidade Harvard e professor associado de saúde ambiental na Universidade de Long Island.

O estudo faz com que muitos cientistas comecem a pensar na relação entre as doenças infecciosas e o meio ambiente e, sendo assim, devemos cuidar melhor do planeta, comenta Philip Landrigan, diretor do Programa de Saúde Pública Global do Boston College, que não fez parte do estudo.

Fonte: Revista Galileu.

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