Natal é a 4ª capital do Nordeste com o menor índice de coleta de esgoto

Natal é a 4ª capital do Nordeste e a 9ª do País com menor índice de serviço de coleta de esgoto, de acordo com o Ranking do Saneamento do Instituto Trata Brasil de 2024. Dentre as nove capitais nordestinas, Maceió (AL) apresentou o pior índice – de 28,10% -, e João Pessoa (PB), o melhor (com 89,12%). Em Natal, pouco mais da metade da população (53,79%) tem acesso à cobertura. Além de Maceió, Teresina (PI), com taxa de 41,06%, e Recife, com 49,50%, possuem indicadores piores que a capital potiguar. Já em relação ao tratamento do esgoto coletado, o índice na capital potiguar é de 50,20%, o quinto pior do Nordeste.

Os dados integram o relatório da 16ª edição do Ranking do Saneamento, elaborado pelo Instituto Trata Brasil (ITB) em parceria com a GO Associados. O levantamento foi realizado junto aos 100 municípios mais populosos do Brasil. Os serviços de coleta e tratamento de esgoto são dois de um total de oito indicadores, os quais compõem três dimensões avaliadas pelo levantamento. Na classificação geral dos municípios, Natal teve nota 6,92 e ficou na 64ª posição (uma melhora em relação ao ranking de 2023, quando a capital ocupava a 73ª colocação).

Para compor a nota final, cada indicador foi analisado a partir de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) disponíveis no Ministério das Cidades, tendo como base o ano de 2022. Esses indicadores receberam uma nota de zero a 10. O resultado deles ajudou a ponderar as dimensões, as quais tinham pesos diferentes para a composição da nota final – sendo a dimensão “Nível de Atendimento” (da qual faz parte o indicador de coleta de esgoto), a mais importante, com peso 60,0%.

Em uma análise de 2018 a 2022, trazida pelo ranking, Natal melhorou os índices de cobertura de esgoto, com expansão de 14,71 pontos percentuais (p.p.) – a cidade saiu de uma cobertura de 39,08% para 53,79%. O professor Hélio Rodrigues, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UFRN, comenta que este indicador pode ter ajudado a cidade a subir as novas posições de um ranking para o outro, embora ele tenha considerado a evolução “otimista”, em razão dos poucos investimentos na área.

“Natal deve consumir aproximadamente 2 metros cúbicos de água por segundo. Recentemente, tivemos o início da operação da Estação de Tratamento de Esgoto [ETE] do Baldo, que trata apenas 0,5 m³ por segundo, ou seja, um quarto da vazão da cidade. E as outras estações, como a de Ponta Negra, são pequenas, então, não sei como se chegou ao índice atual. Sem dúvida, é preciso ampliar a coleta e o tratamento de esgoto em Natal, mas existe uma enorme lentidão nesse sentido”, comenta o professor.

A Companhia de Águas e Esgotos do RN (Caern) disse que a melhora dos indicadores se deu em razão das novas ligações para as ETEs do Baldo e de Ponta Negra entre 2018 e 2022. “Nesse período tivemos as ligações para essas estações de parte do Alecrim, Capim Macio, Dix-Sept Rosado, Conjunto Nova Cidade, parte da Cidade da Esperança, parte do Conjunto Ponta Negra, dentre outras localidades”.

A reportagem questionou a companhia sobre a avaliação do professor Hélio Rodrigues, de que as ampliações da coleta e tratamento de esgoto foram otimistas, conforme mostra o ITB. A Caern respondeu, no entanto, que reforça as interligações citadas como razão para a evolução apontada no levantamento deste ano.

 “Índice frustrante”, diz professor

O professor Hélio Rodrigues, da UFRN, chama a atenção para os baixos índices de coleta e tratamento de esgoto em Natal e rememora que desde 2010 existe a promessa de ampliação dos dois serviços. “Mesmo se [os índices] forem os apresentados no ranking, eles são frustrantes. Natal já deveria ter a totalidade desses serviços há bastante tempo”, provoca Rodrigues.

Ele aponta que a solução para garantir a integralidade de acesso aos natalenses é a construção das ETEs Jaguaribe, na zona Norte, e Guarapes, na zona Oeste. “A não conclusão dessas estações é o grande gargalo atual”, afirma. A Caern disse que a ETE Jaguaribe entrará em fase de teste no próximo mês de setembro, e estará em operação em janeiro de 2025. Já a ETE Guarapes está prevista para entrar em operação somente em dezembro do próximo ano.

O professor Hélio Rodrigues detalha os impactos que a falta de universalização do saneamento traz para a capital. Os problemas, aponta, são velhos conhecidos dos natalenses, como a presença de nitrato na água fornecida pela Caern. “A população que tem rede de esgoto precisa se livrar dele de alguma forma e isso é feito por meio de fossas e sumidouros. Basicamente, o esgoto é infiltrado no solo, que no caso de Natal, é muito arenoso por ser uma região de dunas. Esse é um grande problema que resulta na questão do nitrato na água”, explica.

“om a cobertura baixa, o esgoto das fossas vai para o subsolo. No caminho para o aquífero, o nitrato se forma e volta para a água que é abastecida aos consumidores. Outro problema é que as pessoas, muitas vezes, fazem um sistema onde o esgoto do banho e da pia é jogado na rua. É por isso que muitos bairros de Natal ainda tem água correndo na sarjeta, local onde deveria ter apenas material decorrente de chuva. Isso causa uma série de efeitos, dentre eles o fato de que o esgoto vai para as lagoas de captação”, descreve o especialista.

Abastecimento de água diminuiu na capital

A prestação do serviço de abastecimento de água em Natal recuou 5,32 pontos percentuais entre 2018 e 2022, ou 1,33 pontos ao ano. É a maior retração entre os 100 municípios analisados no levantamento. De acordo com o ranking, em 2018, 97,19% da população da capital potiguar eram atendidos por abastecimento de água. Em 2022, o índice caiu para 91,87%. A Caern explicou que a redução tem a ver, sobretudo, com a maneira como o cálculo foi elaborado, o qual considera, para cobertura do serviço, o quantitativo de pessoas atendidas.

Segundo a companhia, entre 2018 e 2021, as informações utilizadas tinham como base o Censo de 2010, que apontava para Natal uma população superior àquela identificada pelo IBGE no mais recente Censo. A Caern explicou que, em função disso, a média de habitantes por residência até 2022 era maior, indicando para uma cobertura mais ampla no ranking até então.

O professor Hélio Rodrigues disse que é importante entender como funciona o cálculo porque, na avaliação dele, a queda do indicador no recorte apresentado pelo ranking é exagerada. “Eu diria que, na prática, o abastecimento de água em Natal tem um índice muito bom, na casa dos 98%. O que não quer dizer que não haja problemas em algumas regiões da cidade, como a interrupção do serviço, por exemplo”, pontuou Rodrigues.

Ainda de acordo com o ranking do ITB, de 2018 a 2022, Natal aumentou em 4,13 p.p. as perdas no faturamento (ou seja, houve uma crescente da quantidade de água produzida pela companhia, mas que não foi faturada). entre 2018 (45,24%) e 2022 (49,37%). O índice ideal, segundo o ranking, é de 25%. A Caern informou que o “cenário analisado transcorreu dentro da pandemia, com uma diminuição na quantidade de substituição de hidrômetros e um aumento da oferta de água. Após tal período, houve uma retomada nos investimentos com a substituição de hidrômetros, em 2022, e os indicadores foram controlados”.

As perdas por ligação de água também aumentaram 22,04 p.p. entre 2018 e 2022 – passaram de 610,89 L/lig/dia para 632,93 L/lig/dia, segundo a Caern pelas mesmas razões das perdas de faturamento.

Ranking
Veja a posição de Natal e RN em relação ao Nordeste:

Ranking da cobertura do serviço de coleta entre as capitais do NE

1 – Maceió: 28,10%

2 – Teresina: 41,06%

3 – Recife: 49,50%

4 – Natal: 53,79%

5 – São Luís: 54,28%

6 – Fortaleza: 62,85%

7 – Aracaju : 73,28%

8 – Salvador: 88,34%

9 – João Pessoa: 89,12

Fonte: ITB

Ranking da cobertura do serviço de tratamento de esgoto entre as capitais do NE

1 – São Luís: 20,59%

2 – Teresina: 25,37%

3 – Maceió: 28,10%

4 – Recife: 49,50%

5 – Natal: 50,20%

6 – Fortaleza: 60,76%

7 – João Pessoa: 69,43%

8 – Aracaju : 72,73%

9 – Salvador: 88,34%

Fonte: ITB

Fonte: Tribuna do Norte.

Foto: Magnus Nascimento.