O desafio de alcançar o bem-estar social de forma viável, seguindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, tem como ponto de partida as soluções baseadas na natureza. Nesse contexto, temos a “naturação”* urbana, que é a ação de incorporar ecossistemas ao nosso meio ambiente, tanto da flora quanto da fauna. Mas como toda ação humana, os projetos de infraestrutura verde, derivados dela, estão sujeitos a acertos e erros.
Os urbanistas buscam melhorar nosso meio ambiente por meio de objetivos políticos, socioeconômicos e ambientais a curto, médio e longo prazo. Nos últimos tempos, o interesse pelas infraestruturas verdes está mais evidente, e indo além da mera noção de cor. A paisagem verde é inclusiva e pode abranger os horizontes castanhos ou amarelos dos nossos campos.
As energias não poluentes são descritas como energias verdes, mas entre elas, recentemente, a nuclear foi incluída. Além da febre popular pelo verde e sua imagem positiva – que já inclui muitas políticas empresariais – há um interesse econômico subjacente como ferramenta para capturar certos fluxos financeiros.
A naturação urbana pode ser um instrumento para a recuperação de inúmeros projetos urbanos que fracassaram por diversos motivos, transformando amostras esqueléticas em habitats saudáveis a custos acessíveis. Cidades como Detroit, nos Estados Unidos, viram o ressurgimento da agricultura urbana nas ruínas de uma cidade fantasma, antiga meca da indústria automobilística.
No setor público, a administração, especialmente a local, comete erros por ação ou inibição no planejamento e execução de áreas verdes. Por exemplo, na falta de alocação, controle e monitoramento dos recursos econômicos. O desencontro entre objetivos e meios disponibilizados e a corrupção na atribuição de projetos são práticas comuns em algumas sociedades.
Os fornecedores de matérias-primas para construção também estão sujeitos a erros quanto ao tipo de planta ou substrato a ser utilizado. Para evitá-los, a multifuncionalidade da natureza urbana favorece a seleção correta de materiais com base nos objetivos: paisagismo, mitigação da poluição, redução do ruído ou promoção da biodiversidade, entre outros. Quanto ao erro dos designers, consiste em guiarem-se mais pela ostentação ou originalidade do que pela eficiência ou habitabilidade.
Por outro lado, as condições agroclimáticas são sérios condicionantes para a sobrevivência das infraestruturas verdes. O uso de plantas estrangeiras e exóticas, por exemplo, é mais arriscado do que usar a flora nativa. Em relação ao manejo da flora, boas práticas, como a extração prévia de ar nas raízes antes do plantio, evitam problemas no sistema de irrigação e manutenção.
Acontecimentos como a pandemia, que têm incentivado o teletrabalho, estão a conduzir-nos para um novo modelo de habitação escritório-casa, onde os espaços verdes devem ser um instrumento essencial para o bem-estar da família e do ambiente de trabalho. Para isso, é fundamental aproveitar os equipamentos disponíveis, como floreiras nas varandas e terraços para verdejar os locais de vivência.
As comunidades de bairro, em muitos casos, não investem na natureza, ou não a mantêm, pois não a consideram atrativa. É aqui que a administração local pode desempenhar um papel fundamental na divulgação dos benefícios da natureza urbana e na ajuda à aquisição de plantas, substratos, cursos de formação e assessoramento.
Novas reflexões
O novo caminho urbano exige algumas reflexões na busca de um modelo de bem-estar sustentável. Uma análise comparativa em âmbito internacional permite-nos conhecer os erros cometidos para evitar a sua repetição. Também podemos aprender com as boas práticas, como as realizadas na Holanda, onde os municípios fornecem plantas e substratos aos vizinhos, diferenciando as cores por bairro e se comprometendo com sua manutenção.
Em Havana (Cuba), as comunidades fornecem sementes e assessoria para hortas orgânicas, assumindo um alto nível de oferta hortícola.
Na China, existem cidades que cultivam diferentes árvores frutíferas dependendo da rua em que se encontram, e estas recebem o nome das espécies plantadas. Até cidades como Berlim têm a famosa Avenida Lime, que leva ao Portão de Brandemburgo.
Nos regulamentos administrativos, muitos municípios exigem a incorporação de espaços verdes em novas construções, às vezes em combinação com painéis solares; Toronto (Canadá) é uma das pioneiras nesse campo. Outra medida é a simplificação dos procedimentos burocráticos para os projetos que incorporam infraestrutura verde. Em essência, há toda uma gama de oportunidades para melhorar o habitat urbano por meio da natureza, e o ponto de partida é conscientizar os cidadãos sobre os benefícios obtidos.
Por fim, chamamos a atenção para os possíveis erros que podem ser cometidos pelos atores intervenientes e que distorcem as boas intenções iniciais, embora concordemos plenamente que o novo impulso sobre a natureza, defendido pelos movimentos sociais, pode ter efeitos muito positivos.
Fonte: El País=
- “Naturação Urbana” – Apesar de ainda nao existir nos dicionários da língua portuguesa, esse termo está sendo bastante usado para expressar a ecologização das cidades (o esverdeamento das cidades).