No melhor futuro climático, mais de 60% dos corais estarão ameaçados até 2100

Mesmo no melhor cenário possível de crise climática – que já parece algo distante da realidade – mais da metade dos corais do mundo (64%) poderá estar sob, ao menos, uma condição ambiental inadequada até o fim deste século. Se antes ações de longo prazo estratégicas já eram tidas como necessárias para garantir a saúde desses seres, um novo estudo mostra que o tempo disponível para colocá-las em prática pode ser mais curto do que se imaginava.

A pesquisa em questão foi publicada na revista científica Plos Biology. Os corais são uma importante e sensível fonte de biodiversidade na Terra, com diversas espécies dependentes dessas estruturas vivas, que atuam como abrigo, local de reprodução e de alimentação.

Considerando um cenário climático “meio do caminho”, ou seja, com implementação de medidas de redução nas emissões de gases-estufa, cerca de 97% dos corais do mundo estariam sob condições ambientais inadequadas até 2100.

No pior caso possível, praticamente todos os corais do mundo estariam sob ao menos uma pressão que levaria a uma situação ambiental inadequada até 2055.

Segundo os cientistas, esses dados sugerem que o tempo disponível para que os corais consigam suportar os distúrbios humanos é metade do que se pensava.

“Claramente, o tempo para adaptação dos ecossistemas aos distúrbios humanos está acabando, ao mesmo tempo em que há um reduzido número de áreas viáveis para a expansão além da distribuição atual”, dizem os pesquisadores.

O estudo buscou estimar o ano após o qual as mudanças na natureza poderão superar, definitivamente, os limites de tolerância dos corais. Tais limites podem ser definidos como os limiares registrados em literatura científica sob os quais houve perdas nas populações de corais, com mudanças na comunidade e no funcionamento do ecossistema.

Para chegar aos anos-chave, os pesquisadores utilizaram projeções de ondas de calor marinhas, acidificação do oceano, tempestades, poluição proveniente da terra e alterações humanas locais.

Ou seja, os cientistas estimaram a partir de qual data alguma dessas variáveis – ou várias delas simultaneamente – excedia o limite dos corais. Vale mencionar que exceder tal limite não necessariamente significará sempre a morte desses seres vivos, mas pode, sim, representar eventos de extinção, desaparecimento em determinadas regiões ou adaptação.

Como já apontado, para chegar aos resultados, foram considerados diferentes cenários de emissões de gases-estufa segundo as modelagens climáticas do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU). No mais otimista, o mundo consegue controlar a temperatura com um aumento de cerca de 1,8°C – já ultrapassamos a casa do 1,1°C em relação ao período pré-industrial. No mais pessimista, o planeta pode chegar até 5,7°C, no período 2081–2100.

Se a situação futura parece complexa, a passada já apontava problemas. Os cientistas mostram que, em 2005, cerca de 44% dos corais do mundo já enfrentavam situações ambientais inadequadas. O grande número assusta, mas é próximo a outras estimativas de que o mundo tenha perdido em torno de metade de seus corais desde 1950.

Segundo o estudo, recentemente, o fator principal relacionado à insustentabilidade dos corais são pressões locais relacionadas à densidade populacional. Entre os pontos prejudiciais associados a tais pressões estão sobrepesca, eutrofização (resumidamente, poluição das águas) e desenvolvimento urbano costeiro.

“A imensa área de corais sob risco, os prazos de sustentabilidade ambiental cada vez menores, sob múltiplas e simultâneas interferências humanas, combinado ao limitado número de áreas que poderiam servir como refúgio, apresentam um desafio considerável para a adaptação dos ecossistemas recifais, ao mesmo tempo em que demonstram a urgência da implementação de esforços de mitigação e conservação”, afirmam os pesquisadores.

Fonte: Folha SP.

Foto: Angie Teo /Reuters.