O ambicioso projeto britânico de tirar gás carbônico do mar

O pequeno programa piloto, conhecido como SeaCURE, é financiado pelo governo do Reino Unido como parte de sua busca por tecnologias que combatam as mudanças climáticas.

Há um amplo consenso entre os cientistas do clima de que a principal prioridade é reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a principal causa do aquecimento global.

Mas muitos cientistas também acreditam que parte da solução vai precisar envolver a captura de alguns dos gases que já foram liberados.

Estes projetos, conhecidos como captura de carbono, geralmente se concentram em capturar emissões na fonte ou extraí-las da atmosfera.

O que torna o SeaCURE interessante é que ele está testando se pode ser mais eficiente extrair do mar o carbono que aquece o planeta, já que ele está presente em concentrações maiores na água do que na atmosfera.

O projeto está tentando descobrir se a remoção do carbono da água pode ser uma forma econômica de reduzir a quantidade de CO2, gás que causa o aquecimento global, na atmosfera.

O SeaCURE processa a água do mar para remover o carbono antes de bombeá-la de volta para o mar, onde absorve mais CO2.

“Quando você abre um refrigerante, e ele espuma, é o CO2 que está saindo”, afirma Bell. “O que estamos fazendo é espalhar a água do mar por uma grande superfície. É como derramar uma bebida no chão, e permitir que o CO2 saia da água do mar muito rapidamente.”

O CO2 que emerge no ar é sugado, e depois concentrado usando cascas de coco carbonizadas, prontas para serem armazenadas.

Em seguida, a água do mar com baixo teor de carbono recebe a adição de álcali — para neutralizar o ácido adicionado —, e é bombeada de volta para um riacho que deságua no mar.

Uma vez de volta ao mar, ela começa imediatamente a absorver mais CO2 da atmosfera, contribuindo de forma sutil para a redução dos gases de efeito estufa.

Já existem tecnologias de captura de carbono muito mais desenvolvidas que retiram o carbono diretamente da atmosfera, mas Paul Halloran, que lidera o projeto SeaCURE, afirma que usar a água tem suas vantagens.

“A água do mar contém uma grande quantidade de carbono em comparação com o ar, cerca de 150 vezes mais”, diz Halloran.

“Mas apresenta desafios diferentes: a energia que precisamos para gerar os produtos necessários para fazer isso a partir da água do mar são enormes.”

No momento, a quantidade de CO2 que este projeto piloto está removendo é pequena — no máximo 100 toneladas métricas por ano —, o que equivale à pegada de carbono de cerca de 100 voos transatlânticos. Mas, considerando o tamanho dos oceanos do planeta, os responsáveis pelo SeaCURE acreditam que o projeto tem potencial.

Em sua apresentação ao governo do Reino Unido, o SeaCURE afirmou que a tecnologia tem potencial para ser ampliada significativamente para remover 14 bilhões de toneladas de CO2 por ano, se 1% da água do mar do mundo na superfície do oceano para processada.

Para que isso seja plausível, todo o processo de remoção do carbono teria que ser alimentado por energia renovável. Possivelmente por painéis solares em uma instalação flutuante no mar.

“A remoção de carbono é necessária se você quiser alcançar emissões líquidas zero, e emissões líquidas zero são necessárias para deter o aquecimento”, diz Oliver Geden, especialista em captura de carbono que faz parte do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

“Capturar [carbono] diretamente da água do mar é uma das opções. Capturá-lo diretamente da atmosfera é outra. Há basicamente de 15 a 20 opções e, no fim das contas, a questão de qual usar, claro, vai depender do custo.”

O projeto SeaCURE conta com financiamento de 3 milhões de libras (cerca de R$ 23 milhões) do governo — e é um dos 15 projetos piloto que estão sendo apoiados no Reino Unido como parte dos esforços para desenvolver tecnologias que capturem e armazenem gases de efeito estufa.

‘Algum impacto no meio ambiente’

Há também a questão do impacto que uma grande quantidade de água com baixo teor de carbono teria no mar e nas criaturas que vivem nele. Em Weymouth, ela sai de uma tubulação em quantidades tão pequenas que é improvável que tenha qualquer impacto.

Guy Hooper é um estudante de doutorado da Universidade de Exeter, na Inglaterra, e está pesquisando os possíveis impactos do projeto. Ele expõe criaturas marinhas à água com baixo teor de carbono em condições de laboratório.

“Os organismos marinhos dependem do carbono para fazer certas coisas”, ele explica. “O fitoplâncton usa o carbono para fazer fotossíntese, enquanto criaturas como os mexilhões usam o carbono para formar suas conchas.”

Hooper conta que os primeiros indícios são de que o aumento significativo da quantidade de água com baixo teor de carbono poderia ter algum impacto sobre o meio ambiente.

“Pode ser prejudicial, mas pode haver maneiras de mitigar isso — por exemplo, por meio da diluição prévia da água com baixo teor de carbono. É importante que isso seja incluído na discussão desde o início.”

Fonte: BBC News.

Foto: Divulgação.