Se todas as reservas de carvão, petróleo e gás do mundo fossem extraídas e usadas, elas emitiriam 3,5 trilhões de toneladas de gases de efeito estufa, o que é mais do que já foi liberado desde a revolução industrial. A descoberta vem do primeiro banco de dados público sobre produção de combustíveis fósseis, desenvolvido pela Carbon Tracker Initiative e pelo Global Energy Monitor. Segundo a análise, que cobre três quartos da produção global de energia, os Estados Unidos e a Rússia têm reservas suficientes para consumirem, sozinhos, o orçamento de carbono restante do mundo antes que o planeta aqueça 1,5°C — que foi o limite acordado pelos países no Acordo de Paris.
Somando as reservas de todas as nações, tem combustível fóssil suficiente aí para estourar esse orçamento em sete vezes, o que causaria ondas de calor, inundações, secas e outros impactos nunca antes presenciados pela humanidade. Apesar do acordo internacional, a maioria dos países não deixou de investir e usar os combustíveis fósseis. “Você tem governos emitindo novas licenças ou autorizações para carvão que são completamente dissociadas de seus próprios compromissos climáticos”, afirma Mark Campanale, fundador da Carbon Tracker Initiative, em entrevista ao The Guardian.
Para que a gente tenha uma chance real de evitar 1,5°C ou mais de aquecimento global, os cientistas estimam que as novas emissões devam ficar entre 400 e 500 bilhões de toneladas. Isso significa cortar drasticamente o que emitimos pela metade ainda nesta década e zerar até 2050. Segundo o banco de dados, só os EUA têm o potencial de emitir 577 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa a partir de suas reservas conhecidas, sendo a maior parte de carvão. Projetos americanos que já estão em desenvolvimento, incluindo o uso de 33,2 bilhões de barris de petróleo, devem liberar 27 bilhões de toneladas.
“Os países gostam de falar sobre emissões, não querem falar sobre combustíveis fósseis. As emissões são do uso de combustíveis fósseis e você não pode fazer nada sobre as emissões até que você realmente chegue a uma conclusão sobre o que você vai fazer com os combustíveis fósseis”, disse Campanale. “Quando estamos em uma situação em que você tem duas, três, quatro vezes mais combustíveis fósseis em desenvolvimento para o orçamento de carbono restante, isso indica que a política está mais do que ligeiramente fora de sincronia. Está fundamentalmente fora de sincronia.”
Na semana passada, mais de 200 organizações de saúde, incluindo a OMS, pediram por um tratado global de “não proliferação” de combustíveis fósseis. Nas próximas negociações climáticas das Nações Unidas, no Egito, ativistas devem incitar os países a pararem de aprovar projetos de mineração. António Guterres, secretário-geral da ONU, alerta, porém, que o ritmo da transição energética não está rápido o suficiente, visto que as emissões globais estão voltando aos níveis anteriores à pandemia de coronavírus.
As recentes ondas de calor na Europa, Estados Unidos e China e as inundações cataclísmicas no Paquistão são o “preço do vício em combustíveis fósseis da humanidade”, disse Guterres ao jornal. “O atual combustível fóssil livre para todos deve acabar agora. É uma receita para o caos e sofrimento climáticos permanentes.” Essa é a verdade nua e crua, por isso precisamos fazer tudo que está ao nosso alcance, todo dia e em todos os níveis da sociedade, para implementar formas de energia limpa.
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: Divugação.