Oceano em crise afeta comida, água e bem-estar para 49% dos brasileiros, diz pesquisa

Uma pesquisa que ouviu 2.000 brasileiros e brasileiras de todas as regiões do país mostra que vem subindo a consciência sobre o impacto do aquecimento global e outras ameaças geradas pela sociedade sobre os oceanos. No dia a dia, 49% dos entrevistados reconhecem que o oceano impacta diretamente sua vida, e afirmam perceber o quanto a saúde do mar já afeta a alimentação, a disponibilidade de água e consequentemente o bem-estar da população, entre outros fatores.

A sondagem Oceano sem Mistérios, realizada pela Fundação Grupo Boticário em cooperação com UNESCO (agência das Nações Unidas para educação e cultura) e Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), mostra ainda que 87,6% da população está disposta a mudar hábitos, mas, na prática, apenas 7% participaram de alguma ação efetiva nos últimos 12 meses para diminuir emissões de carbono, que aumentam o impacto da temperatura sobre os oceanos, ou ainda, evitar gerar poluição.

Os dados são da segunda edição da pesquisa, que teve seus primeiros resultados em 2022. Entre os entrevistados, 62% residem em capitais e 41% vivem em cidades litorâneas do Brasil. A margem de erro é de 2,2% para mais ou para menos. O levantamento foi lançado na 3ª Conferência do Oceano da ONU, que aconteceu esta mês em Nice, na França.

Para 85% da população, aponta a pesquisa, o aquecimento das águas do oceano influencia diretamente a ocorrência de eventos climáticos extremos no continente, como secas, furacões e inundações em áreas urbanas e rurais. Nove em cada dez brasileiros concordam também que o aumento do nível do mar representa uma ameaça real para as cidades costeiras.

“O aquecimento recorde das águas oceânicas entre 2023 e 2024 agravou a seca histórica na Amazônia, por exemplo, aumentando as queimadas não apenas na região amazônica, mas em todos os biomas do país. Em termos climáticos todos os ecossistemas estão interligados”, explica Ronaldo Christofoletti, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), professor do Instituto do Mar da Unifesp e co-presidente do Grupo de Especialistas em Cultura Oceânica da UNESCO.

Segundo o pesquisador, essa percepção da população é fundamental. “O clima global e as condições meteorológicas dependem do oceano. Ele absorve e distribui calor pelo planeta por meio das correntes marítimas e influencia diretamente a formação de chuvas, frentes frias, furacões e outros eventos climáticos. Portanto, cuidar do oceano é cuidar do planeta, cuidar da nossa casa”.

Dados da OMM (Organização Meteorológica Mundial) mostram que, desde março de 2023, as temperaturas médias das águas oceânicas permaneceram entre 0,5ºC e 0,7ºC acima da média histórica. “É como se o oceano estivesse febril”, exemplifica Christofoletti.

A população também reconhece a fragilidade dos ecossistemas costeiros. Para 84% dos entrevistados, o oceano e seus ecossistemas estão sob ameaça ou risco. Outros 13% discordam dessa percepção, e 3% não souberam responder. Entre as ameaças mais citadas estão a poluição (40%), efeitos da mudança climática (22%), perda da biodiversidade e turismo irresponsável (13%) e crescimento urbano e especulação imobiliária (11%).

Quando perguntados sobre os impactos percebidos, os mais citados foram alimentação (20%), água (14%), qualidade de vida e bem-estar (14%), mudança climática (14%) e aquecimento global (14%). Na edição de 2022 da pesquisa, os destaques foram poluição (14%) e alimentação (12%).

Por outro lado, 30% das pessoas ouvidas pela sondagem acredita que suas ações influenciam diretamente na saúde do oceano, sendo que 23% consideram que as atitudes impactam de forma indireta e 44% acreditam que suas ações não impactam em nada os mares, enquanto 3% não souberam responder.

Os impactos mais mencionados causados pelas atitudes humanas são o descarte de lixo (30%), poluição (29%), embalagens (8%), reciclagem (8%), consumo (8%), geração de resíduos (7%), aquecimento global (6%) e consumo de água (6%).

“Os dados reforçam a importância de se promover a aprendizagem e a conscientização sobre o impacto das ações humanas na saúde do oceano, bem como enfatizam a necessidade de se ampliar o conhecimento sobre o papel fundamental do oceano no equilíbrio do planeta”, afirma a diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto.

Sobre o contraste entre os que estariam dispostos a mudar seus hábitos (87,6%) e os que realmente adotam uma postura ativa (7%) nos últimos 12 meses, Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, analisa que a boa intenção vem crescendo, mas precisa, talvez, de um empurrão para se concretizar.

“Notamos que a conexão da sociedade com o tema está em transformação. Em três anos, a disposição dos brasileiros em mudar hábitos a favor do oceano aumentou 5,4 pontos percentuais”, destaca. “Existe uma clara predisposição para agir de forma mais consciente, mas precisamos estimular ações práticas e disseminar mais conhecimento sobre o assunto.”

A coleta foi conduzida pela Zoom Inteligência em Pesquisas, entre 12 de fevereiro e 7 de abril de 2025.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil.

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