Por muito tempo, os polvos sombrios (Octopus tetricus) foram considerados criaturas solitárias que interagiam entre si somente na época de acasalamento, uma vez por ano. Contudo, novos estudos têm demonstrado uma faceta diferente para esses animais. Recentemente, pesquisadores trabalhando na costa da Austrália identificaram uma cidade subaquática inteira construída por esses moluscos.
O lugar foi carinhosamente batizado de “Octlantis”, ou “Atlântida dos Polvos”. Foi por meio da nova descoberta que os cientistas puderam identificar que esses polvos viviam dentro de uma grande comunidade, exibindo comportamentos sociais complexos
Comunidade de polvos
O estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Illinois (EUA) analisaram de perto a cidade subaquática construída em Jervis Bay, na costa leste da Austrália. Segundo o trabalho produzido, cerca de 15 polvos sombrios habitam aquela região, mas ainda existem pouquíssimas informações sobre seus modelos de vida.
Até então, esse é o segundo assentamento conhecido de polvos sombrios encontrado nessa área — algo que mostra que essas criaturas não são tão solitárias quanto imaginávamos. Na visão dos pesquisadores, a recente descoberta mostra que os polvos podem ser animais bastante sociáveis caso as condições certas sejam apresentadas.
A “cidade” de Octlantis nada mais é do que um afloramento rochoso onde os polvos que lá habitam construíram pilhas de conchas que sobraram de criaturas utilizadas como alimentos, sobretudo ameijoas e vieiras. Posteriormente, essas pilhas de conchas foram esculpidas para criarem tocas, o que demonstra o potencial de engenharia da espécie.
Característica dos polvos sombrios
Conforme destacado pelos pesquisadores, o polvo sombrio costuma ser uma espécie que só se retira de suas tocas nos recifes rochosos australianos durante à noite. Nesse horário, eles saem para caçar lagostas, caranguejos e outras criaturas utilizando seus tentáculos compridos e poderosos.
Durante o dia, porém, esses animais gostam de permanecer dentro de suas casas e bloqueá-las com pedras. Sendo assim, as estruturas das “cidades dos polvos” são bastante relevantes dentro do cotidiano dessas criaturas.
Batalha por espaço
Como próximo passo, o objetivo dos pesquisadores agora é poder conhecer mais de perto o segundo assentamento encontrado na região. A estrutura conta com 23 tocas e foi gravada em vídeo durante oito dias. Nesse período, os cientistas puderam ver cerca de 15 polvos acasalando e lutando por espaço.
Durante uma conferência sobre comportamento animal em Cairns, na Austrália, os pesquisadores apresentaram um vídeo onde pode-se ver os polvos recolhendo detritos com seus tentáculos antes de lançá-los na direção de seus rivais mais próximos.
Nos casos mais agressivos, alguns polvos sombrios retiravam seus rivais para fora das tocas, perseguiam e escureciam seus corpos como tentativa de amedrontamento. Em determinado ponto, os polvos estavam tão focados em lutar entre si que não notaram um tubarão tentando se esgueirar pelo assentamento. Os pesquisadores suspeitam que a superlotação dessa “cidade” pode ter feito com que diversos conflitos se instaurassem entre o grupo.
Fonte: Olhar Digital.
Foto: Peter Godfrey-Smith/Reprodução.