ONU: metade do que o mundo paga por água engarrafada garantiria acesso universal à água potável

Pensa na seguinte situação: uma cidade tem um rio por onde passam águas cristalinas que, ao longo do seu curso, vão sofrendo com a poluição gerada pelos lugares por onde passa. De repente, uma empresa de bebidas se instala próximo ao manancial e começa a tratar e engarrafar a água do rio para distribuir no comércio.

Naturalmente, o valor do serviço e produto gerado vai aumentar o PIB da região, dando a impressão de que o lugar ficou mais próspero. Porém, o rio segue seu caminho poluído, enquanto os governos locais não se esforçam para melhorar os índices de saneamento, que incluem a coleta e tratamento de esgoto e o acesso à água potável. Por tabela, também aumenta a produção de um lixo nocivo: o plástico das garrafas.

A conta ambiental e social não fecha, não é mesmo? Um estudo do Instituto da Água, Meio Ambiente e Saúde da Universidade da ONU, afirma que a expansão dos mercados de água engarrafada retarda o progresso dos sistemas públicos de abastecimento de água. E traz uma conta de impressionar: metade das vendas globais de água engarrafada poderia pagar o acesso universal à água potável, serviço básico que 2 bilhões de pessoas ainda não possuem.

As vendas globais de água engarrafada são estimadas em 350 bilhões de litros por ano, o que movimenta quase US$ 270 bilhões. A região da Ásia-Pacífico constitui cerca de metade do mercado global de água engarrafada, seguida dos países do Sul Global. Em muitas regiões, especialmente no hemisfério Norte, a água engarrafada é em geral percebida como um produto mais saudável e saboroso do que a água da torneira, parecendo mais um bem de luxo do que uma necessidade. Nos países do Sul Global, o que inclui o Brasil, a indústria de água engarrafa é estimulada principalmente pela falta ou ausência de um abastecimento público confiável de água.

Mais transparência

O estudo destaca que a retirada de água engarrafada pode contribuir para o esgotamento dos recursos hídricos subterrâneos em áreas que sofrem escassez, critica a falta de dados disponíveis sobre os volumes de água extraídos pela indústria, e defende que as empresas de engarrafamento deveriam divulgar publicamente os volumes de água extraídos além de avaliar as consequências ambientais de suas atividades.

Os autores também cobram ação pública. “A falta de políticas nacionais para a gestão da água pode promover retiradas descontroladas de águas subterrâneas para aquisição de água engarrafada com pouca ou nenhuma contribuição para um abastecimento sustentável de água potável a longo prazo”, alertam no documento.

Outro ponto de atenção que levantam é a poluição por plástico associada à água engarrafada, apontando que o mundo gera atualmente cerca de 600 bilhões de garrafas plásticas anualmente. são aproximadamente 25 milhões de toneladas de resíduos plásticos que, ao invés de serem reciclados, são descartados em aterros sanitários ou em lixões.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: MRJN/Unplash.