O plástico está presente em quase tudo no nosso dia a dia. Agora, cientistas descobriram que ele pode estar também presente no sexo: partículas de vários tipos diferentes de plástico foram encontradas no fluido seminal de homens. De acordo com os pesquisadores, os culpados são os microplásticos, que estão se infiltrando em nossos corpos de maneiras inesperadas e preocupantes.
A pesquisa foi feita por pesquisadores da China e publicada na revista científica “Science of The Total Environment”. Eles analisaram o líquido seminal de 40 homens e descobriram que todos tinham resíduos de plástico.
Vinte e dois milhões de toneladas de plástico são descartadas na natureza por ano em todo o mundo. O que as pesquisas recentes estão mostrando é que, agora, eles estão circulando também no corpo e fazem um alerta sobre até onde o plástico pode se transportar e impactar o corpo humano.
Nenhuma das pessoas que participaram da pesquisa trabalhava na indústria plástica, ou seja, não tinham contato direto com a produção, a não ser com o produto em suas várias versões no dia a dia, como milhares pelo mundo.
O que a pesquisa descobriu?
A pesquisa foi feita na China e analisou o líquido seminal de 40 homens que faziam exames antes do casamento para investigar a fertilidade e doenças. Eles descobriram que todos tinham vestígios de microplásticos. Ao todo, foram identificados oito tipos, mas os mais prevalentes foram:
-Poliestireno (PS): presente em embalagens, como copos e pratos descartáveis, bandejas de alimentos, recipientes, utensílios descartáveis e em formas de espuma como isopor para isolamento.
– Polietileno (PE): é um dos plásticos mais comuns e é usado em sacolas plásticas, garrafas de plástico, recipientes de alimentos, filmes plásticos, entre outras coisas.
– Policloreto de Vinila (PVC): utilizado em uma variedade de produtos, incluindo tubos de água e esgoto, revestimentos de cabos elétricos, janelas, portas e cartões.
O poliestireno foi o mais presente nas amostras, com 32% de prevalência.
O estudo ainda analisou a mobilidade do espermatozoide e a qualidade dele em meio à quantidade de plástico e descobriu que houve amostras com redução desses indicadores.
Eles também identificaram malformações, mas, apontam que ainda são necessárias pesquisas complementares para saber qual a relação disso com o microplástico e também para saber o quanto essas substâncias podem impactar na fertilidade.
Hoje, cerca de 40% das causas de casais não conseguirem ter filhos são ligadas aos homens.
E como o microplástico foi parar lá?
Apesar da embalagem da camisinha ter plástico, isso não tem nada a ver com o preservativo.
O plástico está em quase tudo no nosso dia a dia, das roupas às embalagens e aos canos que trazem a água que bebemos. Ao longo da decomposição e em alguns processos, ele vai se transformando em partículas minúsculas, mas que têm se demonstrado uma ameaça: os microplásticos.
– Por exemplo, enquanto a roda de um carro se desgasta no asfalto, ela libera partículas de plástico.
– Enquanto uma garrafa se decompõe, o que leva centenas de anos, ela vai se transformando em versões menores, espalhando-se pelo ambiente.
– E não só isso: a cada lavagem de roupas em casa, o plástico que está nos tecidos solta cerca de 700 mil fibras. A maior parte escapa do processo de tratamento de água e é descarregada em cursos d’água.
Ou seja, essas partículas podem ser comidas, a partir do microplástico que está nos oceanos e que chega aos peixes que nos alimentam. Também podem estar nos alimentos pela cadeia de produção, que também usa plástico. E até na água que bebemos.
A pesquisa não especifica de onde veio, exatamente, o microplástico encontrado no esperma. E essa é uma pergunta difícil de responder com tantas fontes de plástico no mundo. A ciência passou a observar recentemente esse impacto sobre os seres humanos. Para se ter uma ideia, a primeira pesquisa a identificar plástico no corpo humano foi publicada em 2022.
O engenheiro químico e especialista em economia circular Marcos Iório explica que os microplásticos são um problema que precisamos observar com cuidado. Ele alerta que é preciso expandir a discussão para além do óbvio.
Por exemplo, desde 2018, estados pelo Brasil passaram a discutir o uso de canudos plásticos, que foram proibidos. É uma discussão importante, mas Iório lembra que eles representam apenas 0,03% da fonte de microplástico.
O especialista explica que uma das maiores fontes de microplásticos são as microfibras: fragmentos de plástico na forma de minúsculos cordões ou filamentos. A maior fonte, nesse caso, são as roupas.
Todos os holofotes ficam nas embalagens e canudos como se o restante do problema não existisse. Mas não, o plástico está em processos na indústria, nas roupas, nos pneus, nas tintas, nos cosméticos. Tudo isso gera resíduos de microplásticos que vão chegar até nós. São várias as fontes, e algumas com mais potencial poluente que as embalagens — Marcos Iório, especialista em economia circular.
E qual é o risco para a saúde?
Essa é a grande questão de órgãos como a ONU e a OMS. As pesquisas existentes sobre os microplásticos no tecido humano ainda não conseguem nos dar respostas claras sobre os riscos.
No caso da pesquisa sobre o esperma, por exemplo, eles afirmam que ainda são necessários mais estudos para saber se poderia impactar a fertilidade.
Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório no qual apontava que era preciso mais pesquisa para saber quais os impactos dos microplásticos na saúde humana.
Um dos pontos é que não se sabe se o plástico que entra no corpo vem sozinho ou acompanhado de outras substâncias. Isso porque ele pode ter passado pelos oceanos, pelo ar, ou ter saído da borracha de um pneu.
Quando estão na água, eles atraem substâncias de mesma natureza química, como agrotóxicos e teflon, que têm afinidade e acabam se grudando à fibra. Então, o problema não é só o plástico, mas tudo que é carregado por ele até nós — Marcos Iório, engenheiro químico e especialista em economia circular.
De acordo com a OMS, há pelo menos três potenciais riscos à saúde humana, pois essas partículas são:
Um perigo físico para o corpo, pois representam um “corpo estranho” e não fazem parte da alimentação humana normal;
Um perigo químico, pois os produtos de plástico contêm elementos químicos que podem ser tóxicos;
Um perigo biológico, pois essas partículas podem reter e acumular micro-organismos que fazem mal ao ser humano, como bactérias e fungos, por exemplo.
Fontes: g1, Estadão, CNN.
Foto: Svetlozar Hristov/GettyImages.