Com a promessa de impulsionar a economia e a sustentabilidade na infraestrutura, o uso do plástico reciclado na produção de estradas é uma técnica promissora para o futuro das rodovias. Segundo levantamento recente publicado pela Universidade de Tsinghua, China, mais de 268 milhões de toneladas do material foram descartados no mundo em um ano, trazendo preocupação para o destino do planeta.
A universidade destaca que, de todo o plástico produzido a nível global, somente 9,5% é produzido a partir de material reciclado, ou seja, retorna ao mercado após ser consumido e descartado uma vez. Com base em dados de 2022, o estudo aponta que 268 milhões de toneladas de plástico foram descartadas no mundo aquele ano e 194 milhões de toneladas foram separadas irregularmente, poluindo mares, rios e diversos tipos de vegetação do planeta.
Os pesquisadores alertam que, nos últimos anos, a taxa de reciclagem global permaneceu estagnada e que a indústria ainda tem uma alta dependência de combustíveis fósseis. O mau desempenho pode comprometer esforços globais para reduzir os efeitos das mudanças climáticas.
No Brasil, dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostram que a geração de resíduos plásticos nos centros urbanos chegou a 13,7 milhões de toneladas em 2022. Isso indica que, em média, cada pessoa do país foi responsável pelo descarte de 64 quilos do material por ano. Os números revelam que mais de 3 milhões de toneladas de resíduos sólidos tiveram como destino final o descarte em rios e mares.
Para reduzir o descarte de plástico, pesquisadores na Holanda desenvolveram o projeto Plastic Road. Eles conseguiram inaugurar, em setembro de 2018, a primeira ciclovia no mundo feita inteiramente de material reciclado triturado, na cidade de Zwolle, cerca de uma hora de Amsterdã. Segundo os fabricantes, o item pode ser pré-fabricado e montado em questão de dias, além de poder durar três vezes mais do que uma estrada normal.
De acordo com os idealizadores do projeto, a composição da via elimina o risco de rachaduras e buracos, além de reduzir a necessidade de manutenção. Por meio de um conjunto de tubos e cabos abaixo da camada superior, a estrutura permeável permite que a água escoe rapidamente, além de produzir poucos ruídos em relação a uma ciclovia feita com asfalto ou concreto.
Um trecho de um quilômetro da Rodovia Washington Luís, em Rio Claro, no sentido capital interior foi o primeiro no Brasil a receber pavimentação para estradas que usa plástico pós-consumo em sua composição. Este é um projeto piloto que pode significar um grande avanço no reaproveitamento de resíduos plásticos e melhoria das condições das estradas no país.
Apesar de ser um trecho curto, nesse primeiro quilômetro de teste em campo, foram usadas cerca de 200 mil embalagens plásticas, o que demonstra claramente o tamanho do impacto positivo que a aplicação dessa tecnologia pode gerar.
As estradas de asfalto são uma parte vital da nossa infraestrutura. O Brasil possui mais de 1,7 milhão de estradas, dos quais somente 211.468 km são pavimentados, o que representa 12,3% do total.
“Se esta tecnologia fosse utilizada em todas as rodovias asfaltadas do Brasil, mais de 80 bilhões de embalagens plásticas de alimentos poderiam ser eliminadas do meio ambiente” afirma Assis Villela, gerente de pavimentação da Eixo SP, uma das empresas responsáveis pela iniciativa.
O uso do plástico reciclado para pavimentação de estradas é uma tecnologia desenvolvida pela Dow, empresa de ciência de materiais, em parceria com a Eixo SP Concessionária de Rodovias S.A, do Grupo Ecological, e da Stratura Asfaltos S.A. O uso neste primeiro trecho acontece depois de um ano de estudos e testes em laboratório.
A formulação asfáltica modificada dá uma nova vida útil às embalagens plásticas flexíveis, evitando que acabem como resíduos em um aterro sanitário, ou no pior dos casos no meio ambiente. Além de oferecer uma solução possível para o gerenciamento de resíduos plásticos, o material aumenta a vida útil das estradas em comparação ao asfalto convencional.
“Aproveitamos o plástico pós-consumo produzido, coletado e reciclado em um trecho de rodovia que apresentará melhor desempenho em relação ao asfalto convencional. Assim, estamos dando uma segunda vida ao plástico e gerando valor por meio de sua aplicação”, ressalta Ivan Trillo, Gerente de Sustentabilidade da Dow.
Na avaliação do engenheiro Robinson Ávila, representante da concessionária que levou à frente o projeto, o desempenho das pistas é satisfatório. “Sabemos que o asfalto com polímero tem uma durabilidade muito maior do que o asfalto sem polímero. Então, o que estamos vendo agora é que esse asfalto com polímero reciclado vai dar o desempenho de um bom asfalto com polímero”, ressalta.
A ideia de promover o uso do plástico pós-consumo em rodovias do Brasil foi testada na prática e, até o momento, é considerada um sucesso a ser aprimorado nos próximos anos. Os idealizadores do projeto e especialistas no setor de transporte rodoviário, no entanto, ainda manifestam cautela em relação a novos investimentos.
Fontes: Ciclovivo, Correio Brazilience.
Foto: Divulgação | Dow.
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