A pesca ilegal na América do Sul, especialmente no litoral da Argentina e outros países sul-americanos é um problema grave. Chile, Peru, Equador e Colômbia se uniram contra frotas estrangeiras que pescam em suas águas. No entanto, a pesca ilegal é um problema global e está nas manchetes. A Economist relatou em 2022 que ‘a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (IUU), representa 20-50% das capturas globais. Essa porcentagem é provavelmente mais alta nas águas do Indo-Pacífico. Apenas um quinto das espécies comerciais é pescado de forma sustentável. Essa situação representa um declínio acentuado, com perdas de mais de US$ 20 bilhões por ano e ameaças aos meios de subsistência de milhões de pescadores de pequena escala’.
‘Uma epidemia’, segundo o Woods Hole Oceanographic Institution
Para o Woods Hole Oceanographic Institution (julho de 2023), trata-se de uma epidemia mundial. Contudo, os números da instituição são mais modestos que os da Economist. “Estima-se que 20% da pesca mundial sejam feitas de forma ilegal, uma indústria de mercado negro que custa à comunidade internacional de US$ 10 a US$ 23 bilhões por ano’.
A Economist comenta que é provável que os operadores IUU estejam envolvidos em outros crimes, desde o comércio de barbatanas de tubarões, trabalho paraçado, e até tráfico de drogas. No Pacífico, observadores de pesca a bordo que monitoram as capturas são rotineiramente assassinados. Os tentáculos do crime organizado correm profundamente na indústria da pesca. Os operadores IUU são os novos piratas.
Estas acusações não são tão novas assim. O jornalista norte-americano Ian Urbina contou em detalhes estes crimes em seu livro Oceano sem lei, publicado no Brasil. O que espanta são as cifras da pesca ilegal, entre 20%, ou até mais, das capturas globais.
A Economist considera que o tratado internacional para proteger 30% dos oceanos até 2030 representa uma esperança. Contudo, não basta serem criadas áreas protegidas no papel, é preciso fiscalização intensa e constante. Mas, como fiscalizar uma área que representa 70% do planeta? Isso começa a acontecer com os avanços da tecnologia.
Mark Zimring, da The Nature Conservancy (TNC) concorda. Para ele, é preciso duas condições, convergência de tecnologia avançada que permite um melhor monitoramento das frotas pesqueiras, e um trabalho mais forte com os varejistas para que se esforcem em manter os peixes capturados pela IUU fora de suas cadeias de suprimentos.
Um estudo liderado pela Global Fishing Watch (GFW) e publicado na Nature concluiu que 75% dos navios de pesca industrial do mundo, que operam principalmente em África e no sul da Ásia, não são rastreados publicamente.
Segundo este estudo, mais de um bilhão de pessoas dependem do oceano para sua principal fonte de alimentos, e 260 milhões de trabalhadores estão empregados apenas pela pesca marinha global.
Por que é quase impossível a fiscalização hoje?
Quem responde é a Woods Hole Oceanographic Institution: ‘os infratores evitam a guarda costeira desligando o número de identificação de sua embarcação (ou AIS na maioria dos países ocidentais), um sistema GPS inicialmente projetado para impedir que os navios colidam uns com os outros. Outros começaram a usar falsas coordenadas para enganar as autoridades locais sobre seu paradeiro enquanto pescam espécies de alto valor em áreas marinhas protegidas. O que todos eles têm em comum é que continuam a pressionar espécies comercialmente sobre-exploradas’.
Satélites e a pesca
Controlar a pesca no mundo só é possível com uso de alta tecnologia
Portanto, para resolver estes problemas, sugere a instituição, a maioria dos países terá de contar com dados de satélite e ferramentas de monitorização de organizações como a Global Fishing Watch. Mas embora estes programas proporcionem uma visão abrangente do tráfego marítimo, ainda assim dependem fortemente dos dados GPS das embarcações – os números de identificação de navios (AIS) mencionados acima. Por causa disso, poucos programas são capazes de rastrear navios ilegais que desligam seus transponders GPS.
Ao combinar dados de GPS com anos de radar e imagens ópticas, da Agência Espacial Europeia e de outros, os mapas da Global Fishing Watch conseguiram identificar embarcações que não transmitiram suas posições e, usando a IA, conseguiram estimar quais provavelmente estariam envolvidos na atividade de pesca.
A Global Fishing Watch combina dados de rastreamento de embarcações com outros dados de satélite, incluindo imagens ópticas e radar de abertura sintética SAR ((Synthetic Aperture Radar). O SAR, uma ferramenta poderosa de tecnologia de sensoriamento remoto, funciona dia e noite em todos os tipos de clima. Ele permite a detecção de embarcações mesmo através de densas coberturas de nuvens.
Muita tecnologia e convencimento de atacadistas e varejistas
Como se pode ver, com a mistura de alta tecnologia que proporciona transparência nas cadeias de fornecimento, e convencimento de atacadistas e varejistas será possível impor uma grande derrota à pesca ilegal.
Resta saber quando tempo será necessário para que ambas as estratégias se espalhem mundo afora.
Fonte: Mar Sem Fim.
Imagem: Google.