Polinizadoras ‘profissionais’: entenda por que as abelhas impactam na produção agrícola e a importância de preservá-las

As abelhas, por serem os principais agentes polinizadores, impactam diretamente na quantidade e a qualidade da produção agrícola. Segundo pesquisadores, elas são conhecidas como ‘polinizadoras profissionais’ por serem adaptadas exatamente para esse objetivo.

Além disso, a espécie faz o elo entre produção agrícola e conservação ambiental. “As abelhas estão na interface da biodiversidade e da agricultura”, conforme conforme explica a bióloga pesquisadora, doutora em ecologia, Denise A. Alves, do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP).

A existência de culturas agrícolas como a da soja, café, laranja, melancia, maracujá, girassol, e cacau, por exemplo, dependem em algum grau das abelhas, enfatiza a especialista.

Dia Nacional das Abelhas

Nesta terça-feira (3) é celebrado o Dia Nacional da Abelha. O g1 Piracicaba e região conversou com pesquisadores sobre a importância da espécie, por serem os principais agentes polinizadores, na produção de alimentos e quais riscos afetam a preservação desses insetos.

Em alguns casos, o aumento no rendimento da produção de café pode chegar a 28% com a existência de abelhas no ecossistema.

A pesquisadora explica que polinização nada mais é do que a transferência de pólen da estrutura masculina da flor para a estrutura feminina de outra flor ou da mesma.

A polinização mediada pelas abelhas é de extrema importância para diversas culturas agrícolas.

“No mundo, estima-se que que 85% de importantes culturas agrícolas são polinizadas pelas abelhas. Entre elas, estão os alimentos, as plantas que são usadas como medicamentos; e até o biocombustível, como o girassol, a canola, a mamona. Sem falar das fibras, como algodão, e de materiais de construção, como por exemplo, a madeira”, ressalta Denise.

A produção do maracujá, especialmente, depende 100% das abelhas. “Sem abelha, não tem maracujá. Na produção do café, a inexistência de abelhas podem significar uma redução de 28%. A dependência de polinizadores é variável, mas também inegável a importantes culturas agrícolas no Brasil”, analisa.

Qualidade aos alimentos e lucro aos produtores

Quando se fala de polinizadores, se fala das abelhas, enfatiza a pesquisadora.

A bióloga explica que, além de aumentar a produção agrícola, em termos de quantidade, a polinização bem realizada por essas abelhas resulta também em frutos com maior valor estético, com frutos maiores e mais vistosos, com coloração mais intensa, com mais micronutrientes, como vitaminas e minerais.

O produtor, por sua vez, pontua Denise, tem uma maior quantidade de suas culturas e também maior valor agregado – incluindo os aspectos nutricionais e estéticos.

“Isso confere também maior lucro para os produtores. Quando as abelhas estão presentes nos sistemas agrícolas, o produtor tem uma maior quantidade de suas culturas e também maior valor agregado em relação a aspectos nutricionais e estéticos, além da durabilidade na prateleira”, afirma.

No mundo, segundo Denise, o serviço de polinização foi estimado em 390 bilhões de dólares por ano. No Brasil, é de 12 bilhões de dólares por ano. “Então, 30% do nosso rendimento agrícola, da nossa receita agrícola, vêm das atividades das abelhas nas culturas”, analisa.

“”No Brasil, das 140 culturas que dependem de polinizadores, analisadas em estudo, 85 delas dependem das abelhas. A atividade de polinização contribui com 30% do rendimento agrícola”, afirma.

Em outra estimativa mais recente, publicada em 2019, quando se considerou apenas os alimentos, o valor da polinização correspondeu a R$ 43 bilhões por ano, conforma ressalta a especialista.

“Considerando que 30% da nossa receita agrícola vêm da atividade de polinizadores, é importante pensarmos em como o produtor lida com a questão no planejamento de suas práticas nas propriedades agrícolas”, observa. “Ter abelhas também significa ter uma paisagem adequada e práticas agrícolas amigáveis a esses polinizadores”, enfatiza.

Os produtores precisam considerar a importância de suas práticas. “Usar as menos intensivas, de menor impacto na manipulação no ambiente, devendo deixar plantas que são usadas pelas abelhas no entorno e mesmo dentro das suas propriedades”, alerta.

“Quando temos fragmentos florestais [áreas de mata] perto ou dentro das propriedades agrícolas, temos alimento para esses polinizadores e local para eles morarem”, afirma.

Risco à existência das abelhas

Em relação aos riscos à existência das abelhas, a pesquisadora aponta que as ameaças aos polinizadores são diversas e listou algumas como:

– Desmatamento, que tem como uma das consequências a diminuição da quantidade de ninhos

– Mudanças climáticas

– Uso indiscriminado de agrotóxicos, como inseticidas, herbicidas e fungicidas

– Extensas monoculturas com práticas agrícolas muito intensivas

– Introdução de parasitas e agentes que causam doenças

Consequências

Como consequência da diminuição das populações das abelhas, alerta Denise, são previstas baixas a toda cadeia produtiva e também de consumo, pelo encarecimento do alimentos e demais itens ao consumidor nas prateleiras, em resultado de um recuo na produção, somado ao próprio setor de criação de abelha e também à indústria.

“Concomitantemente, haverá também a redução dos lucros para os produtores. Esse é o impacto direto, mas também tem um indireto, por exemplo, no alimento processado. É toda uma cadeia produtiva que vai ser afetada”, analisa.

Além disso, o declínio de polinizadores, pensando em abelhas manejadas, impacta as economias rurais. “Por exemplo, a própria criação das abelhas, para a apicultura e meliponicultora no Brasil e de seus produtos, com impacto financeiro à venda do mel, da própolis e da cera”, finaliza.

Fonte: G1.

Foto: Cristiano Menezes/Reprodução Fototeca/Arquivo pessoal.