População do Equador votará em referendo inédito no mundo sobre exploração de petróleo na Amazônia

Nos últimos anos, o Equador tem demonstrado comprometimento com a preservação ambiental. Em 2021, a Alta Corte decidiu pelos “direitos constitucionais da natureza”, ao proibir a mineração numa reserva de proteção da biodiversidade. Recentemente o governo criou uma reserva natural com mais de 1 milhão de hectares, uma das maiores da Amazônia, a Tarímiat Pujutaí Nunka, lar de quatro etnias indígenas e habitat de mais de 1 mil espécies de aves e grandes mamíferos, como a onça-pintada e o urso-de-óculos.

E no próximo final de semana, no domingo, 20 de agosto, a população do Equador participará de um referendo inédito do mundo: decidirá se quer parar a exploração de petróleo dentro de uma área no Parque Nacional de Yasuní, ao norte do país.

O parque é uma das regiões mais biodiversas do planeta. São mais de 980 mil hectares, e em 1989 foi declarado Reserva da Biosfera pela Unesco, por seu valor cultural e natural. Yasuní é habitat de milhares de espécies de animais, entre mamíferos, aves, anfíbios, répteis e insetos.

Em suas matas já foram descritas mais de 1.130 espécies de árvores, um volume maior do que as encontradas no Canadá e nos Estados Unidos juntos.

Além disso, Yasuní é o lar de diversas comunidades indígenas, como os Waorani, Kichwas e Shuar. Abriga ainda os Tagaeri e Taromenane, que optaram por não ter contato com a civilização humana.

Para que se chegasse ao referendo, entidades, organizações e sociedade civil lutam há dez anos. Uma petição com 750 mil assinaturas pedindo pelo voto da população foi entregue ao governo.

Há 20 anos, o então presidente Rafael Correa sugeriu que nações ricas pagassem, como compensação ambiental, pela não exploração de petróleo em Yasuní. Na época, o valor era de U$ 3,6 bilhões ou metade do que se estimava ser o valor das reservas ainda não exploradas.

Correa não conseguiu o apoio internacional. Perfurações na região começaram em 2016 e são produzidos quase 55 mil barris por dia.

Atualmente o petróleo representa a principal fonte de exportação do Equador. O governo não quer desistir dela. Seria uma perda de cerca U$ 1,2 bilhão por ano aos cofres públicos.

A campanha #SíAlYasuní já ganhou repercussão mundial. O ator e ativista Leonardo DiCaprio tem usado suas redes sociais para divulgar a iniciativa.

“Em 20 de agosto de 2023, o povo do Equador tem uma oportunidade histórica de proteger uma parte significativa da floresta tropical Yasuní. Com este referendo inédito em todo o mundo, o Equador pode se tornar um exemplo na democratização da política climática, oferecendo aos eleitores a chance de votar não apenas pela floresta, mas também pelos direitos indígenas, nosso clima e o bem-estar de nosso planeta. Fique ao lado de Yasuní e suas comunidades indígenas neste referendo histórico, compartilhando esta importante mensagem”, escreveu DiCaprio.

A pergunta a que os cidadãos equatorianos terão que responder com “Sim” ou Não” em poucos dias será: “Você concorda que o governo mantenha o ITT, conhecido como Bloco 43, petróleo bruto, indefinidamente no subsolo?”

Infelizmente, o referendo de domingo acontecerá junto com a eleição do novo presidente, diante de um cenário político bastante grave, após o impeachment de Guillherme Lasso, em maio. Na semana passada, um dos candidatos, Fernando Villavicencio foi assassinado.

A ideia de um referendo similar caberia perfeitamente para o Brasil agora, com a polêmica intenção da Petrobras de explorar petróleo na foz do Rio Amazonas e que parece ter o apoio do presidente Lula. A população brasileira não deveria ser convidada a dar sua opinião sobre o assunto também?

Que tal a campanha #SimParaAAmazônia, vamos manter o petróleo no solo?

Fonte: Conexão Planeta.

Imagem: Divulgação.