Praia de Areia Preta está imprópria para banho há mais de um ano

A praia de Areia Preta, na zona Leste de Natal, registrou índice de 92.000 coliformes fecais por amostras de 100 ml de água, de acordo com o mais recente boletim do programa Água Azul, divulgado no último dia 31 de maio. O resultado indica que há 92 vezes mais coliformes do que o limite aceitável, conforme estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Um levantamento feito pela TRIBUNA DO NORTE a partir dos boletins do programa, indicam que a praia é considerada imprópria para banho desde janeiro de 2023. O índice do último boletim é o maior registrado no recorte analisado pela reportagem, mas não foi a única vez, dentro deste período, que ele apareceu.

O boletim é realizado semanalmente, fruto de uma parceria do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (IDEMA), do Instituto Federal de Educação do RN (IFRN) e da Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento Tecnológico do Rio Grande do Norte (FUNCERN). De acordo com o Conama, são consideradas impróprias para banho, as praias com uma quantidade superior a 1.000 coliformes fecais por 100 mililitros de água.

Segundo Sérgio Macedo, supervisor do Núcleo de Monitoramento Ambiental do IDEMA, a contaminação recorrente em Areia Preta é provocada pelo lançamento de esgotos sanitários através de ligações clandestinas na rede de drenagem de águas pluviais. “Essas ligações ocorrem, principalmente no bairro de Mãe Luiza”, diz Macedo. De acordo com ele, cabe ao Idema e à Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), realizarem uma campanha com vistorias técnicas no bairro para identificar os responsáveis pelas ligações clandestinas. “Uma vez identificados os responsáveis, esses órgãos devem adotar as medidas cabíveis para exigir, o mais breve possível, a suspensão imediata das ligações e a interligação desses efluentes à rede coletora de esgotos sanitários existente, de responsabilidade da Caern”, comenta Macedo.

Ele diz ainda que precisa haver a suspensão imediata das ligações clandestinas de águas pluviais na rede coletora de esgotos sanitários existente e a imediata interligação delas à rede de drenagem de águas pluviais de responsabilidade da Seinfra.

O supervisor-geral de Fiscalização Ambiental da Semurb, Leonardo Almeida, explicou que no final do ano passado foi realizada vistoria em Mãe Luiza, resultando em notificações a 83 residências que estavam lançando algum tipo de água em via pública.

“Mas não havia esgoto propriamente dito. Era água de banho ou de pia apenas, o que não é suficiente, por si só, para alterar os padrões de balneabilidade da praia. O problema real é o extravasamento da rede de esgoto, cuja responsável é a Caern”, afirma Almeida. Segundo ele, estava prevista para a última terça-feira (4) uma vistoria conjunta na região, com a participação da Semurb, Caern, Arsban, Seinfra e Ministério Público, mas a fiscalização foi adiada por conta das chuvas que caíram ao longo do dia. Uma nova data será marcada em breve.

A Caern garante que não tem culpa no caso das línguas negras na praia. “A companhia destaca que a gestão e fiscalização do sistema de drenagem é de competência exclusiva da Prefeitura, é nesta rede que estão ocorrendo lançamentos indevidos”, diz a Caern em nota, ressaltando que a informação é reforçada por perícias realizadas pelo Ministério Público.

A Companhia chamou de “informações inverídicas” afirmações sobre a existência de “episódios constantes em que o esgoto bruto, que altera as condições de balneabilidade, extravasa da rede de esgotamento e deságua no mar”.

Orientação

A Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico do Município do Natal (Arsban) orienta o cidadão a denunciar situações relacionadas a questões de esgotamento ou de abastecimento de água diretamente com a Caern. “A Companhia sempre informa um prazo para a realização de qualquer serviço. Em caso de negativa de finalização dentro do prazo informado, a Agência Reguladora pode agir dentro de sua legalidade, realizando então fiscalização in loco para tomar ciência total da situação e encaminhar os novos passos junto à Caern para resolver o problema”.

A Agência explicou que não pode agir antes da Caern, pois “legalmente há prazos para a resolutiva de uma denúncia recebida”. Neste sentido, quando recebe uma denúncia, pergunta se o cidadão entrou em contato antes com a Caern para seguir a linha de protocolo. A Arsban disse que não consta nenhuma denúncia sobre a contaminação na praia de Areia Preta atualmente na própria Ouvidoria.

Médico alerta para risco de doenças

O professor de Oceanografia da UFRN, Guilherme Longo, pontua que os problemas de saneamento resultam na contaminação, a qual, por sua vez, provoca impactos para os organismos da região, além de efeitos para o homem. “Os animais podem ser afetados, mas o grande problema é a possibilidade de doença para os seres humanos”, afirma o professor.

O médico infectologista Ion de Andrade, explica que os coliformes, por si só, não representam grandes riscos, mas eles são indicadores da presença de outras bactérias que podem ser bastante prejudiciais. “As doenças transmitidas pela água são aquelas decorrentes da absorção pelo trato gastrointestinal, como diarreias, hepatites, leptospirose e outras. Com isso, não estou dizendo, automaticamente, que há contágio na praia de Areia Preta, mas os coliformes apontam para um risco aumentado de contaminação dessas doenças”, esclarece o médico, alertando que a população deve seguir a orientação dos órgãos de balneabilidade quanto às condições de banho.

A autônoma Gabriela Oliveira, que mora próximo à praia, é uma das que, na dúvida, prefere se manter longe da água. “A gente vê que a situação aqui é bem complicada. Tenho receio das condições da água e a gente nunca sabe se ela está apropriada para o banho. Então, prefiro ficar somente na caminhada”, relata.

Já a ambulante Eliene Nunes conta que os visitantes reclamam bastante da situação. “O pessoal foge sempre dessa região que tem as línguas pretas. Eles falam do mal cheiro e, quando chove, fica bem pior, porque aparecem ratos e moscas”, comen

Fonte: Tribuna do Norte.

Foto: Magnus Nascimento.