Praias do Rio de Janeiro perderam até 50 metros em 40 anos

No final de julho, ondas de 3,5 metros fizeram o mar invadir a avenida Delfim Moreira, no Rio de Janeiro, gerando danos e interrompendo o trânsito na orla do Leblon. Pesquisadores brasileiros publicaram no mesmo mês uma pesquisa que mostra em dados o que o carioca está se acostumando, alarmado, a presenciar na cidade: as praias vêm encolhendo, e o mar, avançando.

Não é só na zona sul: o caso mais crítico ocorre na Praia da Macumba, zona oeste. Nos últimos 40 anos, a faixa de areia diminuiu nada menos que 50 metros, aponta levantamento da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que analisou quatro décadas de imagens de satélite para medir pontos de retração na orla.

Ainda de acordo com os dados apresentados, trechos de Copacabana, Leme, Ipanema e Leblon têm médias de recuo anual que vão de meio metro a 1,5 metro por ano nas últimas quatro décadas. A mudança climática, comenta o autor principal da pesquisa, professor João Wagner Castro, está diretamente relacionada a este fenômeno.

O aquecimento da atmosfera vem mudando o comportamento de fenômenos naturais, influenciando a frequência e a intensidade de chuvas, secas e ondas de calor, por exemplo, segundo as principais agências de pesquisa do mundo e também o painel científico das Nações Unidas, o IPCC.

No caso do Rio, as ressacas que vêm afetando a rotina dos cariocas são causadas por um maior número de tempestades sobre o litoral, que aumentam o nível do mar e geram ondas grandes (na faixa de 3 metros) cada vez mais frequentemente, diz a pesquisa.

“Dados históricos sobre tempestades que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro nos últimos 45 anos sugerem um aumento contínuo e gradual desses eventos, particularmente nos meses de outono e inverno”, aponta a pesquisa, publicada no periódico internacional Journal of South American Earth Sciences.

Ondas de três metros vêm se tornando mais frequentes, e só nos últimos cinco anos, já foram 53 tempestades, notaram os pesquisadores, mais da metade do número total da década anterior.

“As praias da Zona Sul, incluindo Copacabana [na altura do Posto 6], Arpoador e Leblon [Posto 11], serão as áreas mais afetadas nos próximos 20 anos. Se as condições de ondas de tempestade registradas desde 1987 persistirem, sugere-se que haverá uma maior frequência de inundações marinhas e erosão costeira, com fortes repercussões negativas na infraestrutura urbana da orla da cidade do Rio de Janeiro”, observa o professor Castro.

Ao mesmo tempo, trechos destas mesmas praias trazem soluções para esta adaptação, aponta o autor da pesquisa. Recuperação de vegetação de restinga onde é possível fazer, e também o alargamento da faixa de areia, através de aterros hidráulicos, como o feito na área central de Copacabana ainda nos anos 1960, são apontados por Castro como bons exemplos para a gestão municipal mitigar o impacto das ressacas.

A pesquisa da UFRJ analisou bancos de registros de agências internacionais, como Nasa e Copernicus, para analisar registros de altura das ondas e medição das faixas de areia. Em análises locais, até mesmo o tamanho e característica da areia das praias do Rio foram analisadas e catalogadas.

“A areia mais grossa inibe a onda de chegar a uma posição mais distante”, observa o professor. “O ideal é fazer um engordamento, repondo a areia com uma areia mais grossa [que a original da praia].”

Castro destaca que o objetivo da publicação da pesquisa não é fortalecer uma narrativa fatalista, mas demonstrar que dados científicos são aliados da adaptação climática nas cidades. O professor observa ainda que mesmo áreas distantes da orla podem ser afetadas, uma vez que no território da cidade há trechos até mesmo abaixo no nível do mar, e a influência das marés atinge grandes lagoas como a Rodrigo de Freitas e as de Jacarepaguá.

“Não é só na beira da praia, às vezes você pode ter enchente em Duque de Caxias.”

O pesquisador defende que é preciso que tomadores de decisão levem em consideração os estudos que são desenvolvidas no âmbito da universidade. “Eu constato uma certa distância entre o que fazemos e os gestores fazem”, diz Castro.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Ben-Hur Correia/TV Globo.

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