Primeiro caso letal de gripe aviária em ursos-polares é relatado no Alasca

Autoridades do Alasca, nos Estados Unidos, registraram a primeira morte de um urso polar (Ursus maritimus) pelo vírus da gripe aviária H5N1, sugerindo que o agente infeccioso está se espalhando para as partes mais remotas do planeta. É o primeiro caso conhecido nos animais do Ártico, que estão listados como ameaçados sob o Ato de Espécies em Perigo.

O urso polar infectado fornece mais uma evidência de quão difundido esse vírus, uma forma altamente patogênica de H5N1, se tornou e quão sem precedentes tem sido seu comportamento. Desde que o vírus surgiu em 2020, ele se espalhou por todos os continentes, exceto pela Austrália. Também infectou uma gama incomum de aves selvagens e mamíferos, incluindo raposas, gambás, pumas e leões-marinhos.

“O número de mamíferos relatados com infecções continua a crescer”, disse Bob Gerlach, veterinário do Estado do Alasca.

Na maioria dos casos, o vírus não causou mortandades em massa nas populações de mamíferos selvagens. (Os leões-marinhos sul-americanos têm sido uma exceção notável.) Mas ele representa uma nova ameaça para o já vulnerável urso polar, que está em perigo devido às mudanças climáticas e à perda de gelo marinho.

A informação foi divulgada na última terça-feira (2) pelo jornal britânico The Guardian. O óbito do urso polar, conforme a publicação, foi confirmado em dezembro de 2023 pelo Departamento de Conservação Ambiental do Alasca. Mas o animal foi encontrado morto dois meses antes, em outubro, perto de Utqiagvik, a comunidade mais ao norte dos Estados Unidos.

A descoberta do H5N1 no tecido corporal do urso exigiu amostragem e estudo pelo Departamento de Gestão da Vida Selvagem de North Slope Borough e outras agências, que confirmaram a gripe aviária como a causa da morte.

“Este é o primeiro caso relatado [de gripe aviária] de um urso polar, em qualquer lugar”, disse Bob Gerlach, veterinário estadual do Alasca, ao site Alaska Beacon. Segundo ele, embora os ursos polares normalmente se alimentem de focas, é provável que o urso estivesse comendo cadáveres de pássaros infectados quando contraiu o vírus.

Mortes de mamíferos

A gripe não é só uma doença de aves, alertou a especialista. “As áreas polares são particularmente vulneráveis à gripe aviária porque contêm muitos animais que não são encontrados em nenhum outro lugar do mundo e que nunca foram expostos a vírus semelhantes”, pontuou. “Também estão entre os lugares mais afetados pelo colapso climático.”

Os ursos polares estão listados como “vulneráveis” na lista vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), principalmente devido à perda de gelo marinho.

Para especialistas, a morte de um animal da espécie não foi surpreendente, considerando que ursos-negros e ursos pardos também morreram do vírus H5N1. É possível que mais ursos polares tenham sucumbido à gripe aviária, em lugares remotos fora da visão das pessoas para registrar os eventos.

O atual surto de H5N1 começou em 2021 e matou milhões de aves selvagens e milhares de mamíferos ao redor do mundo. Águias carecas, raposas e gaivotas estão entre as espécies que morreram do vírus no Alasca nos últimos meses.

“Ele [o vírus H5N1] esteve na Antártida e agora está no Ártico, em mamíferos — é horrível”, disse Diana Bell, professora emérita de biologia da conservação na Universidade de East Anglia, na Inglaterra, ao The Guardian. “E ainda assim, não estou surpresa. Nos últimos dois anos, a lista de mamíferos mortos se tornou enorme.”

Não está claro como o urso-polar contraiu o vírus, mas há relatos de aves doentes na área. Segundo Gerlach, o urso pode ter sido infectado após comer um pássaro morto ou doente.

E os cientistas não sabem se esse caso é isolado ou se existem outros ursos-polares infectados que não foram detectados. Pode ser difícil monitorar o vírus em populações de animais selvagens, especialmente aqueles que vivem em lugares tão remotos quanto o norte do Alasca. “Como você sabe quantos estão afetados?” disse Gerlach. “Realmente não sabemos.”

Cientistas locais, autoridades e outros especialistas continuarão procurando sinais do vírus em animais selvagens, incluindo ursos-polares que aparecem mortos ou parecem doentes, disse Gerlach.

Fontes: Revista Galileu, New YorK Times, Estadão

Foto: Wikimedia Commons.