Em documento lançado na quinta feira (23/11), coordenado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e pela Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano, pesquisadores alertam tomadores de decisão sobre a importância econômica da preservação dos oceanos. As atividades econômicas relacionadas a regiões marinhas e costeiras respondem por 20% do Produto Interno Bruto nacional e abrangem distintos setores, como pesca, aquicultura, turismo e navegação. É preciso, porém, que poder público e sociedade civil ajam contra a degradação desses ambientes e promovam a cultura oceânica, visibilizando a importância do tema em ambientes como escolas e meios de comunicação.
O “1º Diagnóstico Brasileiro Marinho-Costeiro sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos” mostra que as alterações na zona marinha-costeira são diversas e complexas e são afetadas por políticas públicas e atividades humanas. Entre as principais causas da perda da biodiversidade marinha no país estão ocupação desordenada e dano a áreas naturais com aterramento de manguezais e supressão de restingas, poluição por plástico, poluentes industriais, esgotos e fertilizantes agrícolas, sobre-exploração da pesca, introdução de espécies exóticas invasoras e mudanças climáticas.
O relatório reitera a relação entre oceano e clima. Se, por um lado, o oceano e a zona costeira atuam como amortecedores contra as mudanças climáticas – sequestrando e estocando carbono e atenuando eventos extremos –, por outro, as alterações do clima contribuem para a elevação do nível médio do mar, com ressacas de maior alcance, acidificação e aumento da temperatura da água causando impactos sobre a biodiversidade, os serviços ecossistêmicos e o bem-estar humano.
O documento ressalta a importância do envolvimento corporativo para mudar esse cenário. Na percepção de Alexander Turra, um dos coordenadores do diagnóstico, boa parte do empresariado brasileiro vê o oceano de forma limitada e pragmática – acima de tudo como fonte de recursos – e considera a conservação como obstáculo ao desenvolvimento. A Amazônia Azul, como é chamada a área marinha brasileira com 5,7 milhões de km², equivale a dois terços do território continental e abriga alta biodiversidade em uma grande variedade de habitats, frisam os pesquisadores.
O estudo enaltece a complementaridade dos diferentes saberes e salienta que um oceano sustentável depende da aplicação dos sistemas de conhecimento científico e tradicionais. “Em meio à crise ambiental mundial percebemos que nossa civilização está errando em vários aspectos. Nós perdemos o contato com o mundo natural e precisamos reaprender o respeito à natureza com aqueles que ainda detêm essa sabedoria em sua cultura e em suas práticas. Povos indígenas e comunidades tradicionais são direta e imediatamente afetados por impactos de degradação ambiental e por isso fazem parte da solução”, alerta Beatrice Padovani, professora de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e uma das coordenadoras do diagnóstico.
Fonte: Revista Galileu.
Foto: Tiago Muraro / Unsplash.