Quase 15% da população dos EUA não acredita na crise climática, diz estudo

O aquecimento global é um consenso na comunidade científica. Sabe-se também que essa alteração do clima tem sido impulsionada por atividades humanas. Mesmo assim, há pessoas que negam esse fato. Nos Estados Unidos, estima-se que quase 15% da população não acredite nas mudanças climáticas, conforme revela um artigo da revista Scientific Reports publicado nesta quarta-feira (14).

O estudo foi feito por pesquisadores da Universidade de Michigan. Eles utilizaram dados da rede social X (o antigo Twitter) referentes a 2017, 2018 e 2019 e técnicas de inteligência artificial. A partir disso, foi possível classificar mais de 7,4 milhões de tuítes como pertencendo a pessoas que acreditam ou negam as mudanças climáticas.

Os resultados mostram que 14,8% dos americanos negam as mudanças climáticas – sendo este um número compatível com outros estudos nacionais feitos anteriormente. O negacionismo é maior nas áreas do centro e do sul dos Estados Unidos, com mais de 20% das populações dos estados de Oklahoma, Mississippi, Alabama e Dakota do Norte não acreditando no consenso científico.

Os pesquisadores descobriram também que a negação das mudanças climáticas está associada a fatores como filiação política, nível de educação, renda e grau de dependência da economia regional em combustíveis fósseis.

A vinculação política, segundo o estudo, é o elemento mais influente: há uma porcentagem alta de eleitores do Partido Republicano que negam a crise climática.

Além disso, constatou-se que o negacionismo climático está fortemente ligado a baixas taxas de vacinação contra Covid-19. “Isso indica que comunidades com uma alta prevalência de negacionistas das mudanças climáticas estão sob risco de desconsiderar outras recomendações de saúde ou segurança baseadas na ciência”, afirma o pesquisador Dimitrios Gounaridis, coautor da pesquisa, em comunicado.

Outro achado do estudo diz respeito a personalidades que conseguem disseminar a descrença nas mudanças climáticas. Uma delas é Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, cujos tuítes foram compartilhados pesadamente por três grupos influentes: The Daily Wire, Breitbart e Climate Depot, além de comentaristas políticos conservadores como Ben Shapiro.

“Durante o período do estudo, de 2017 a 2019, as postagens mais retuitadas incluem uma na qual Trump questiona as mudanças climáticas devido ao tempo excepcionalmente frio nos EUA, e outra em que ele lança dúvidas sobre um relatório climático da ONU”, diz o pesquisador Joshua Newell, que colaborou com a pesquisa.

Os autores do artigo ressaltam ainda o isolamento das comunidades no X. De um lado, estão pessoas que acreditam nas mudanças climáticas. De outro, estão pessoas que as negam. E praticamente não há diálogo ou interação entre essas duas esferas. Newell caracteriza essa situação como “assustadora” e “desoladora”.

Por fim, os pesquisadores defendem a importância de as plataformas de redes sociais sinalizarem informações falsas e punirem perfis que espalham mentiras com frequência.

“Empresas de redes sociais já baniram usuários por esse tipo de comportamento no passado”, relembra Newell. “O ex-presidente Trump, por exemplo, foi banido em 2021 do então Twitter após a invasão ao Capitólio – posteriormente, em 2022, a conta foi reativada. Para a segurança dos demais, essas empresas deveriam considerar políticas similares para limitar a desinformação sobre mudanças climáticas”, sugere.

Fonte: Revista Galileu.

Foto: Reprodução.