Pesquisadores da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) descobriram um recife de corais durante uma missão no Taiti. Localizado entre 30 a 65 metros abaixo do nível do mar, o recife conta com aproximadamente 3 km de extensão e 65 metros de largura, e se destaca por seu inusitado formato de rosas.
“Até o momento, conhecemos a superfície da lua melhor do que as profundezas do oceano. Apenas 20% de todo o fundo do mar foi mapeado. Esta notável descoberta no Taiti demonstra o incrível trabalho de cientistas que, com o apoio da Unesco, ampliam nosso conhecimento sobre o que está por baixo”, anunciou a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay.
Até então, a grande maioria dos recifes de corais conhecida no mundo fica em profundidades de até 25 metros, por isso a descoberta destaca a possibilidade de muitos outros recifes grandes existirem por aí, a profundidades superiores a 30 metros.
Esse recife de coral foi descoberto durante uma expedição de mergulho a uma profundidade conhecida como a “zona crepuscular” do oceano (tecnicamente designada como zona mesopelágica), que é pouquíssimo explorada. Essa expedição é parte integrante de uma missão global de mapeamento dos fundos marinhos, denominada Projeto Seabed2030.
Segundo o especialista Julian Barbière (UNESCO), deve ser elaborado um trabalho de mapeamento e proteção desses recifes. Alexis Rosenfeld, um fotógrafo subaquático francês, disse que tinha sido “mágico testemunhar corais de rosa gigantes e belos a esticarem-se até onde os olhos podem ver”, “era como uma obra de arte”.
Os recifes de coral marcam presença entre os ecossistemas mais ameaçados do oceano, dado que são vulneráveis à poluição, ao aumento da temperatura do mar e à alteração química causada pelas emissões de dióxido de carbono que se dissolvem na água.
Essa descoberta é extraordinária, não só porque proporciona uma visão importante da biodiversidade oceânica, como também constitui uma notícia muito boa – segundo vários especialistas científicos, como o Prof.Dr. Murray Roberts, o Dr. Julian Barbière e a Dra. Laetitia Hedouin, porque, apesar do aquecimento global, esse recife de coral apresenta um tamanho invulgar e um notável estado de preservação. Isso pode inspirar esforços de conservação futura.
O primeiro dos especialistas, Murray Roberts, professor e importante cientista marinho da Universidade de Edimburgo, disse que a descoberta revelou o quanto ainda temos de aprender sobre o oceano: “Ainda associamos os corais aos mares tropicais mais rasos, mas aqui encontramos um enorme sistema de recifes de coral anteriormente desconhecido”.
Segundo o cientista, como as águas rasas aquecem mais rapidamente do que as águas mais profundas, esses sistemas de recifes mais profundos podem ser vistos como refúgios para os corais no futuro. Ele defende, por isso, a necessidade de mapeamento desses lugares especiais devido ao papel ecológico que podem desempenhar, para garantir a sua proteção futura.
O segundo dos peritos, Julian Barbiere, afirmou que atualmente não existem “provas” de que esse recife tenha sido danificado e que a sua profundidade invulgar foi uma das razões pelas quais permanece em “muito bom estado”. Geralmente, os recifes de coral são encontrados a profundidades mais baixas porque as algas que vivem dentro dos corpos dos corais precisam de luz. “Mas aqui estamos numa parte do oceano que está mais longe de terra, por isso há menos sedimentos que acabam aqui no oceano”.
Segundo o citado cientista, o próximo passo é encontrar e determinar que espécies vivem em redor desse tipo de recife, uma vez que os dados científicos mostram que cerca de 25% das espécies marinhas podem ser encontradas nos recifes de coral. Ao longo dos próximos meses, serão realizadas mais investigações nesse âmbito.
Por último, uma das mergulhadoras e especialistas nesse assunto, a Dra. Laetitia Hedouin, do Centro Nacional de Investigação Científica da França (CNRF), afirmou: “Espera-se que um recife como este demore cerca de 25 anos a crescer e a desenvolver-se desta forma”.
De acordo com a cientista, pensa-se que “os recifes mais profundos poderão estar mais bem protegidos do aquecimento global.” Nesse sentido, a descoberta deste, em condições intactas, é uma boa notícia para os estudiosos e pode inspirar uma conservação futura.
Essa condição, por sinal, exigiu que a expedição organizada pela Unesco contasse com preparo especial, incluindo o uso de tanques de oxigênio especiais. Nos mergulhos, que duraram, ao todo, 200 horas, a equipe tirou fotos, fez medições e recolheu pequenas amostras dos corais.
Segundo Hédouin, os estudos podem ajudar a compreender porque alguns recifes resistem às interferências humanas e às mudanças climáticas e que papel os corais profundos desempenham no ecossistema.
Fontes: BBC News, Unesco, ONU News, Galileu, Ambiente Brasil.