Restos de elefantes-marinhos indicam que mar da Antártida já foi quente

Uma equipe de pesquisadores estudou fósseis de elefantes-marinhos-do-sul (Mirounga leonina) ao longo da costa de Victoria Land, em Ross Embayment, uma enorme região da Antártida. A análise revelou que os animais da espécie viveram por lá quando a área era mais quente, durante meados do período Holoceno, que começou há cerca de 11,6 mil anos e se estende até o presente.

Na época, havia uma quantidade reduzida de gelo cobrindo o Mar de Ross, conforme os cientistas relataram em artigo pulicado em 7 de fevereiro na revista Quaternary Science Reviews.

Os cientistas liderados por Brenda Hall, professora da Escola da Terra e Ciência Climática da Universidade do Maine, nos Estados Unidos, reuniram os restos mumificados e esqueléticos dos elefantes-marinhos, bem como sua pele derretida, enterrados sob rochas e bancos de neve.

O grupo recuperou 305 amostras, que dataram por radiocarbono e testaram para DNA antigo. Os resultados mostraram que os animais não só ocuparam o mar de Ross, mas também estavam presentes na costa de Victoria Land há cerca de 7 a 5 mil anos.

Hoje a região costeira está praticamente livre de elefantes-marinhos e até mesmo de pinguins em muitos lugares por causa das plataformas de gelo marinho permanente congeladas em suas praias. Os elefantes-marinhos ficam agora principalmente em ilhas subantárticas ao norte do Mar de Ross.

Pesquisas anteriores da Universidade do Maine descobriram restos desses mamíferos nas praias, sugerindo que a espécie floresceu na área nos períodos quentes do Holoceno. O novo estudo mostra que os animais ocupavam tais praias em um período de calor antes que o extenso gelo marinho os empurrasse para fora da costa atual.

“Hoje, os elefantes-marinhos do sul tendem a pescar em áreas muito mais quentes do que o Mar de Ross”, diz Hal, em comunicado. “Fomos capazes de usar a presença de sua pele e cabelo derretidos, bem como alguns ossos e múmias ressecados pelo vento polar, para mostrar que os elefantes-marinhos já fizeram do Mar de Ross seu lar”.

Segundo a professora, o antigo calor no mar pode ter impulsionado o recuo da camada de gelo da Antártica Ocidental durante os últimos 8 mil anos. “O aquecimento futuro poderia continuar a empurrar o recuo do gelo”, alerta a especialista. “No entanto, a temperatura do oceano pode não ser toda a história”, ela contrapõe.

Os cientistas consideram que mais pesquisas são necessárias, mas encontraram alguns elefantes-marinhos de um período muito mais antigo, pouco antes do último máximo glacial. Isso sugere que pode ter existido água quente durante o acúmulo da camada de gelo no mar de Ross.

Se a presença de temperaturas oceânicas quentes imediatamente antes e talvez até mesmo durante a formação da posição de gelo do último máximo glacial para confirmada, isso indica que outros fatores além de uma queda nas temperaturas oceânicas, como o nível do mar mais baixo, poderiam ter sido críticos em causar o avanço do manto de gelo no Ross Embayment.

Estudar a resposta das camadas de gelo a aquecimentos passados ​​é essencial para entender como elas podem responder à crise climática atual. “Sob o aquecimento global futuro, as águas quentes do oceano subterrâneo e, portanto, o derretimento provavelmente aumentarão em torno da Antártica devido ao movimento para o sul dos ventos de oeste e maior produção de água derretida ou ventos de leste polares mais fortes”, dizem os pesquisadores no artigo.

Fonte: Um Só Planeta, Revista Galileu.

Foto: Brenda Hall.