Ruptura em gasoduto Nord Stream pode ser maior liberação de metano já registrada

Meses depois de dezenas de golfinhos do Mar Negro terem dado à costa na Turquia já sem vida, naquele que foi considerado um prenúncio do impacto ambiental da guerra na Ucrânia, outro sinal de alerta borbulhou nas águas do Mar Báltico, quando as autoridade suecas e dinamarquesas identificaram quatro fugas de gás natural, composto em quase 90% por metano, nos gasodutos de Nord Stream, entre a Rússia e a Alemanha.

As rupturas no sistema de gasoduto Nord Stream sob o Mar Báltico levaram ao que é provavelmente a maior liberação individual já registrada de metano, gás que é prejudicial ao clima, disse o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) nesta sexta-feira (30).

Uma enorme nuvem de metano altamente concentrado, um gás de efeito estufa muito mais potente, mas de vida mais curta que o dióxido de carbono, foi detectada nesta semana em uma análise de imagens de satélite por pesquisadores associados ao Observatório Internacional de Emissões de Metano (IMEO, na sigla em inglês) do Pnuma, disse a organização.

“Isso é muito ruim, provavelmente o maior evento de emissão já detectado”, disse Manfredi Caltagirone, chefe interino do IMEO para o Pnuma, à Reuters.

Mas enquanto as autoridades mundiais procuram respostas sobre esta fuga de gás natural, que pode ser a maior de que há registo, os engenheiros e ambientalistas concentram-se em calcular que quantidade de metano está  subindo em plumas das profundezas do Mar Báltico até à atmosfera. E que consequências pode o gás natural libertado do Nord Stream trazer para a natureza.

Os piores cenários antecipam que todo o gás natural armazenado nos gasodutos — parado desde que a Rússia fechou a torneira à Europa como retaliação às sanções aplicadas após a invasão da Ucrânia —  pode escapar das tubagens, poluir o já massacrado Mar Báltico e espalhar-se pela atmosfera.

Nas contas da Rede Europeia de Ação Climática, por exemplo, isso corresponderia a até 400 mil toneladas de metano. Mesmo que fossem apenas 300 mil, era o suficiente para desencadear um potencial de aquecimento global equivalente ao provocado por 25 milhões de toneladas de dióxido de carbono ao longo de 20 anos. Seria quase metade das emissões anuais registadas em Portugal.

Danos imediatos à vida marinha e à pesca no Mar Báltico, e à saúde humana, também resultarão porque o benzeno e outros produtos químicos estão normalmente presentes no gás natural.

E, mesmo assim, a fuga de gás no Nord Stream é apenas um grão de areia entre todo o metano que é emitido pelo setor petrolífero e energético. Uma emissão de metano equivalente a 25 milhões toneladas de dióxido de carbono simboliza menos de 0,1% da poluição global anual de carbono. E, a acreditar numa estimativa que diz que só uma das fugas libertou 115 mil toneladas de metano quando a pressão diminuiu nas tubagens, isso simboliza apenas 0,14% das emissões globais anuais de metano da indústria de petróleo e gás.

O problema não pode ainda assim ser ignorado porque o metano é um dos inimigos prioritários dos ambientalistas no combate às alterações climáticas. Ainda mais preocupante que o dióxido de carbono porque retém muito mais calor num curto espaço de tempo.

Fonte: O Observador, New York Times, Folha SP.

Foto: Marta Leite Ferreira.