Salinas, parques eólicos e ocupação desordenada ameaçam litoral da Costa Branca, aponta pesquisa da UFRN

A exploração salineira, a instalação de parques de energia eólica, além da ocupação desordenada do litoral e o avanço do nível do mar, são ameaças reais que colocam em risco 12 geossítios localizados entre o Rio Grande do Norte e o Ceará, região conhecida como Costa Branca: o sistema estuarino Ponta do Tubarão, as Dunas do Rosado, as Falésias do Rosado e as Falésias da Ponta do Mel, localizados no RN, e o Sítio Retirinho, a Praia de Ponta Grossa, Praia da Redonda, Praia de Picos e Vila Nova, Mirante Serra do Mar, Praia da Requenguela, Mirante do Icapuí e Praia de Manibu, no CE.

Essa foi a 1ª vez que a metodologia utilizada na pesquisa foi aplicada na realidade brasileira. No estudo é analisado o risco de degradação do geopatrimônio a partir de três principais aspectos: vulnerabilidade natural, vulnerabilidade antrópica e uso público.

“A partir dos resultados que nós obtemos para a área, observamos riscos de degradação classificados como alto na maioria dos geossítios. É importante destacarmos que estes geossítios estão localizados em um ambiente de interação natural entre atmosfera-mar-oceano, que contribuem para a composição de uma área naturalmente mais vulnerável. Porém, os desgastes do geopatrimônio no litoral da Costa Branca estão associados principalmente aos usos humanos, visto que na área há a presença de indústrias salineiras e eólicas e o aumento de assentamentos urbanos com planejamento desordenado que contribuem para a deformação de feições, acúmulo de resíduos sólidos e ravinamento do relevo devido à presença de canais de escoamento de água e esgotos”, alerta Thiara Rabelo, que realizou a pesquisa durante seu estágio pós-doutoral no programa de Pós-graduação em Geografia (Geoceres), do Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres/UFRN), sob orientação do professor Marco Túlio Diniz, foi publicada na revista científica Water.

A região da Costa Branca é conhecida por reunir paisagens paradisíacas de dunas, falésias, mar e sertão, mas o que muitos de nós não sabemos é que ela também faz parte do geopatrimônio do litoral semiárido, isso quer dizer que essa é uma área rica tanto do ponto de vista da paisagem e, consequentemente, do turismo, quanto científico. Esses geossítios são locais com características (geológicas, geomorfológicas, etc.) que ajudam os pesquisadores a compreender a dinâmica ambiental de um lugar e a história da Terra.

“Na área são encontradas grandes feições de deltas, praias, dunas móveis e fixas, planícies hipersalinas, tabuleiros costeiros e falésias, que apresentam estruturas representativas para o litoral brasileiro. É importante destacar que a grande inquietação da nossa pesquisa partiu de observamos que estes geossítios estão localizados em unidades de conservação, porém algo que foi identificado no decorrer do trabalho é que as ações de conservação nestes espaços estão mais voltadas para a biodiversidade do que para a geodiversidade (rochas, formas de relevo, solos, etc.). A ação humana que ocorre na área, associada as mudanças climáticas, podem causar impactos negativos sobre o geopatrimônio costeiro nessa região”, detalha a pesquisadora.

Elevação do nível do mar

Além da intervenção humana, a pesquisa apontou que a maioria dos sítios pesquisados também estão ameaçados pela elevação do nível do mar decorrente do aquecimento global.

“Todos os geossítios identificados, localizados nas áreas de planícies, são totais ou parcialmente impactados pela elevação das marés, o que colabora para o aumento da vulnerabilidade natural desses locais, com exceção dos geossítios localizados em locais mais altos como as Falésias de Ponta do Mel e Falésia do Rosado. Para alguns destes sítios, como a Praia de Redonda e Perobas, a Praia de Picos e Vila Nova e a Praia de Ponta Grossa, as alterações do nível do mar associadas à presença humana no local e seus diferentes tipos de aproveitamento do terreno podem impactar diretamente na perda de características científicas importantes destes sítios e consequentemente em seu valor estético. Estas informações nos alertam para a relevância da relação ‘mudanças climáticas e usos humanos’ que intensificam o risco de degradação do geopatrimônio em áreas costeiras”, avalia Thiara Rabelo.

A pesquisadora também reforça que é possível fazer uso econômico das riquezas naturais sem implicar em sua degradação. Porém, essa é uma tarefa que exige um esforço coletivo do poder público, privado e sociedade.

“É necessário o despertar do poder público e privado para isso. O geoturismo, um novo segmento do turismo, é uma alternativa para este uso sustentável. Ele possibilita o uso do local a partir de práticas educacionais de sensibilização, como, por exemplo, com criação de roteiros turísticos que venham não apenas mostrar a beleza do local, mas contar a história geológica e geomorfológica da área, possibilitando aos visitantes a compreensão dos motivos pelos quais aquele geossítio deve ser conservado. Práticas como estas proporcionam retorno econômico e sensibilização ambiental. Essa já é uma realidade vivida no território do Geoparque Seridó, no Rio Grande do Norte e pode ser um exemplo a ser aplicado na região da Costa Branca”, sugere Thiara Rabelo que aponta, ainda, para a necessidade de um mapeamento do geopatrimônio local para o desenvolvimento de estratégias de exploração.

Pesquisa em expansão

O levantamento e análise dos dados apresentados na pesquisa durou cerca de seis meses, até a publicação dos primeiros resultados.

“Nós contamos com uma equipe que já obtinha conhecimento amplo sobre a área e sobre a temática em questão, como a Isa Gabriela, a Larissa Queiroz e Maria Luiza Terto (doutorandas do PPGE em Natal) e do Prof. Dr. Paulo Victor do Nascimento, do IFRN. Este trabalho é um dos primeiros resultados de um projeto maior que vem sendo financiado pela FAPERN (Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Norte) e está sendo realizado através da Universidade Federal do Rio Grande do Norte pela Programa de Pós-Graduação em Geografia do CERES (GEOCERES) e está sob a coordenação do Prof. Dr. Marco Túlio Mendonça Diniz, com parceria com pesquisadores da Universidade de Minho, na figura do Prof. Dr. Paulo Pereira”, detalha a pesquisadora de pós-doutorado que trabalha na área de riscos de degradação no geopatrimônio costeiro em Unidades de Conservação.

A partir de agora, a intenção é expandir a aplicação da metodologia usada na pesquisa para as demais unidades de conservação localizadas em áreas costeiras do Rio Grande do Norte para identificar o risco de degradação do geopatrimônio nesses outros locais.

Fonte: Saiba Mais.

Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN.