Declaração política da Cúpula de líderes do bloco, reunidos no Rio de Janeiro, reconhece necessidade de ampliar investimentos de “bilhões para trilhões”; secretário-geral da ONU reforça importância do sucesso das negociações na COP29 para evitar catástrofes em espiral que podem arruinar todas as economias.
O secretário-geral da ONU disse aos líderes das 20 maiores economias do mundo que “o fim da era dos combustíveis fósseis é inevitável”, mas é preciso garantir que ele “não chegue tarde demais” nem de forma injusta.
O pronunciamento de António Guterres foi feito nesta terça-feira, no Rio de Janeiro, durante a sessão sobre desenvolvimento sustentável e transição energética do G20.
De bilhões para trilhões
Guterres destacou que a próxima rodada de planos nacionais de ação climática é essencial para colocar o mundo no caminho certo. Ele elogiou o fato de o Brasil e o Reino Unido, dois membros do bloco, terem apresentado novas Contribuições Nacionalmente Determinadas, NDCs.
Em relação à 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP29, o líder da ONU pediu aos presidentes dos integrantes G20 que instruam os ministros e negociadores a garantirem um acordo sobre uma meta ambiciosa de financiamento climático.
A declaração política dos líderes do G20, aprovada nesta segunda-feira, reconhece a necessidade de “ampliar rápida e substancialmente o financiamento climático de bilhões para trilhões”, mobilizando todas as fontes de recursos.
O texto ressalta ainda a expectativa com um “resultado bem-sucedido do Novo Objetivo Quantificado Coletivo em Baku”.
Sinal essencial
O secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, UNFCCC, elogiou o posicionamento do G20.
Para Simon Stiell, este é um “sinal essencial”, num mundo atormentado por crises da dívida e por impactos climáticos crescentes, que destroem vidas, cadeias de abastecimento e impulsionam a inflação em todas as economias.
Para Guterres, um fracasso na COP29 pode comprometer a ambição na preparação dos novos planos nacionais, com “potenciais impactos devastadores à medida que pontos de ruptura irreversíveis se aproximam”.
Ele citou a Amazônia como um exemplo e disse que nesse contexto o sucesso da COP30 no Brasil seria muito mais difícil.
O secretário-geral lembrou que limitar o aumento da temperatura global a 1,5° C é o caminho para “evitar catástrofes em espiral que podem arruinar todas as economias”. Ele enfatizou que as políticas atuais estão conduzindo o planeta a um aumento de mais de 3° C.
Segundo ele, esse é o caminho para proteger de forma adequada e equitativa as economias, especialmente as mais vulneráveis, dos choques globais, garantindo o restabelecimento de uma verdadeira “rede de segurança global”.
Lançamento da Iniciativa Global Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas
Objetivo é responder à “ecossistemas tóxicos de informação” marcados por negacionismo, mentiras e conspirações; presidente brasileiro destacou que a desinformação afeta profundamente as ações de combate às mudanças climáticas.
O Governo do Brasil, a ONU e a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, apresentaram na Cúpula de Líderes do G20, a Iniciativa Global pela Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas.
O objetivo é intensificar a pesquisa e implementar medidas para combater campanhas de desinformação que prejudicam a resposta global à crise do clima.
Conspirações e mentiras nas redes sociais
Durante o lançamento, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, destacou que “o negacionismo e a desinformação afetam profundamente as ações de combate às mudanças climáticas”.
Lula afirmou que este é um problema que os países não podem resolver sozinhos. Por isso, a iniciativa reunirá nações, organizações internacionais e pesquisadores para promover esforços conjuntos, com vista à preparação para a COP30, no Brasil.
Na coletiva de imprensa realizada após o lançamento, a subsecretária-geral da ONU de Comunicação Global, Melissa Fleming, afirmou que as pessoas estão mais atentas aos impactos da desinformação e percebendo que existem “ecossistemas tóxicos de informação”.
Segundo ela, essa poluição decorre de uma “enxurrada de conspirações e mentiras” despejadas nas redes sociais. Fleming atribuiu esse processo a grupos de interesses que tem financiado campanhas de lobby e propaganda nas últimas décadas para bloquear a transição energética.
Apoio a jornalistas e pesquisadores
A diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, enfatizou o papel central da informação confiável para superar os desafios climáticos. Para ela, “sem acesso a informações precisas sobre as mudanças climáticas, nunca poderemos enfrentá-las”.
Azoulay disse que esta iniciativa apoiará jornalistas e pesquisadores que atuam sob grandes riscos e combaterá a desinformação que se espalha rapidamente pelas redes sociais.
Inicialmente debatida no âmbito do G20, a iniciativa será formalizada como uma colaboração multilateral entre Estados e organizações internacionais. O plano inclui financiamento de pesquisas e ações que promovam a integridade da informação climática.
Investimentos de até US$ 15 milhões
A proposta também pretende ampliar a base de evidências sobre os impactos da desinformação, fortalecendo estratégias globais de comunicação e incidência.
Os países que aderirem ao projeto contribuirão para um fundo administrado pela Unesco. A meta é arrecadar entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões nos próximos três anos.
Esses recursos serão destinados a organizações não governamentais para apoiar pesquisas, desenvolver estratégias de comunicação e realizar campanhas de conscientização sobre mudanças climáticas.
A iniciativa já conta com o apoio de países como Chile, Dinamarca, França, Marrocos, Reino Unido e Suécia.
Fonte: ONU News.
Foto: © G20 Brazil/Ricardo Stuckert/P.
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