Não se pode negar que os efeitos negativos do aquecimento do planeta estão cada vez mais evidentes. Descolamento de geleiras no Himalaia, incêndios florestais massivos na Austrália, Brasil, Grécia e Turquia, ondas de calor acachapantes nos E.U.A. e Canadá. Esses desastres são apenas uma pequena fração do montante de impactos das mudanças climáticas que poderiam deixar esta lista infinitamente mais longa.
“É inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, o oceano e a superfície terrestre” – destaca categoricamente o último relatório do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change), finalizado em agosto deste ano.
Uma das iniciativas que vem chamando a atenção pela sua ousadia provém de um grupo de cientistas do Laboratório de Geoengenharia Solar da prestigiada Universidade de Harvard. O financiamento das pesquisas provém especialmente de fundos internos da universidade fornecidos aos professores David Keith e Frank Keutsch, pelo próprio Programa de Pesquisa em Geoengenharia Solar de Harvard, e por doações filantrópicas de várias fundações e indivíduos. O bilionário da Microsoft, Bill Gates, figura como o principal apoiador financeiro.
O projeto é uma tentativa reduzir artificialmente o avanço da temperatura média global, por meio de um experimento de perturbação estratosférica controlada (ScoPEx – Stratospheric Controlled Perturbation Experiment). Pretende-se testar o efeito da pulverização de aerossóis (partículas sólidas finíssimas) de carbonato de cálcio (CaCO3) na estratosfera, uma das camadas da atmosfera situada entre 10 a 50 km de altitude. A ideia é que esses aerossóis funcionem como uma barreira refletora dos raios solares, o que culminaria no resfriamento da superfície do planeta.
Cientistas já testemunharam eventos similares que resultaram na redução da temperatura global. Um caso emblemático foi a erupção do Monte Pinatubo nas Filipinas em 1991. Ela mobilizou aproximadamente 20 milhões de toneladas de dióxido de enxofre (SO2) na estratosfera e criou uma camada de partículas de sulfato que resfriou o planeta em cerca de 0,5°C. Somente após 18 meses, a temperatura média global voltou ao que era antes da erupção.
O relatório do IPCC de 2018 sugeriu que o projeto proposto pelo ScoPEx teria o potencial de reduzir a temperatura média global em 1,5°C. As estimativas é que isso poderia custar de um a 10 bilhões de dólares por ano. Contudo, a iniciativa enfrenta muitas controvérsias e não é consenso entre os cientistas. Alguns afirmam que a pulverização de CaCo3 pode trazer efeitos imprevisíveis, podendo até causar mudanças extremas nos padrões climáticos da Terra. Outro argumento crítico é o de que o projeto pode incentivar as pessoas a não mais se preocuparem com a adoção de ações que minimizem os impactos sobre o clima, já que esse problema seria resolvido com o experimento.
De fato, a iniciativa deve ser extensamente analisada pela comunidade científica e debatida com a sociedade. Afinal, ela pode mudar o rumo deste que é um dos maiores desafios da humanidade: as mudanças climáticas.
Fontes: Royal Society, Geoenginering, Bioka,