Desastres climáticos e relacionados ao clima – inundações extremas, calor e seca afetaram milhões de pessoas e custaram bilhões em 2022, à medida que os sinais indicadores e os impactos das mudanças climáticas se intensificaram.
O alerta é da Organização Meteorológica Mundial, OMM. Há probabilidade de 66% da média anual de aquecimento ultrapassar 1.5°C entre 2023 e 2027; e 98% de probabilidades de pelo menos um dos próximos cinco anos ser o mais quente já registado.
Nos próximos cinco anos, as temperaturas globais devem bater a marca dos registros atuais por causa dos gases que causam o efeito estufa e do fenômeno El Niño, que está ocorrendo naturalmente.
Conhecido como Atualização Global Anual para Decadal do Clima, o relatório é produzido pela agência da ONU em parceria com especialistas do Reino Unido.
Patamares desconhecidos
O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, disse que o relatório não significa que a humanidade estará permanentemente excedendo a marca de 1.5°C, especificada no Acordo de Paris sobre Mudança Climática, mas sim um alarme de que este limite será rompido com maior frequência, no futuro.
Um outro fator é que o fenômeno El Niño, que deve evoluir nos próximos meses, apareça num cenário de combinação de mudança climática induzida por seres humanos que levará as temperaturas globais para patamares desconhecidos.
O que significa passar de 1,5°C?
O valor não é uma medida direta da temperatura do mundo, mas um indicador de quanto a Terra aqueceu em comparação com a média global de longo prazo.
Os cientistas usam dados de temperatura média do período entre 1850-1900 como uma medida de quão quente era o mundo antes da nossa dependência moderna de carvão, petróleo e gás.
Durante décadas, eles acreditaram que, se o mundo esquentasse cerca de 2°C, esse seria o limiar de impactos perigosos — mas, em 2018, eles reformularam significativamente essa estimativa, mostrando que ultrapassar 1,5°C seria uma calamidade para o mundo.
Nas últimas décadas, nosso mundo superaquecido fez subir os termômetros de modo que, em 2016, o mais quente já registrado, as temperaturas globais ficaram 1,28°C acima do nível pré-industrial.
Agora, os pesquisadores dizem que esse número deve ser superado — eles têm 98% de certeza de que isso vai acontecer antes de 2027.
Mundo precisa estar preparado
O relatório também aponta para o aquecimento do Ártico que poderá ser três vezes mais alto que a média global.
Taalas acreditas que esse quadro poderá causar impactos sobre a saúde, segurança alimentar, gerenciamento de mananciais de água e meio ambiente. E somente por isso, o mundo precisa estar preparado.
Em 2022, a média de temperatura global foi de 1.15°C acima da média de 1850-1900.
A influência de resfriamento das condições do fenômeno La Niña sobre a maior parte dos últimos três anos controlou, temporariamente, uma tendência de aquecimento a longo prazo.
Padrões de precipitação
Mas o La Niña acabou em março. E o El Niño, geralmente, leva a uma alta das temperaturas globais no ano seguinte à sua formação, e esta conta fecha em 2024.
Comparado ao período de 1991-2020, a anomalia da temperatura provocada pelo aquecimento do Ártico é esperada para ser mais de três vezes maior. Esse aquecimento está sendo desproporcionalmente mais alto.
Os padrões de precipitação previstos para maio a setembro de 2023 a 2027 se comparados a 1991-2020 sugerem um aumento de chuvas no Sahel, no norte da Europa, no Alasca e no norte da Sibéria. E uma redução da estação de chuva para a Amazônia e partes da Austrália.
Acordo de Paris
Além do aumento das temperaturas globais, a produção de gases induzidos por mãos humanas está levando a mais aquecimento e acidificação dos oceanos. Outra consequência é o derretimento de geleiras e gelo do mar, assim como aumento do nível do mar e temperaturas mais extremas.
O Acordo de Paris estabelece objetivos de longo prazo que possam direcionar todos os países para, substancialmente, reduzirem as emissões de gases que causam o efeito estufa limitando o aumento da temperatura neste século a 2°C para evitar ou reduzir os impactos adversos e perdas e anos que ocorrerão deste quadro.
O novo relatório da OMM está sendo divulgado antes do Congresso Meteorológico Mundial marcado para 22 de maio a 2 de junho e que debaterá como fortalecer os serviços de clima e de meteorologia. Dentre as prioridades estão sistemas de alerta precoce para proteger as pessoas dos desastres naturais.
Ao contrário das projeções do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas, que são baseadas em futuras emissões de gases de efeito estufa, o prognóstico da OMM fornece mais uma previsão do tempo de longo prazo baseada em diversos dados.
No último mês de março, o painel, reconhecido mundialmente como a fonte mais confiável de informações sobre as mudanças do clima, afirmou em seu relatório síntese que ações urgentes contra mudanças climáticas ainda podem garantir “futuro habitável” na Terra.
Fonte: ONU News, BBC News, Um Só Planeta, G1, CNN, Euronews.
Foto: Getty Images.