Três grandes acontecimentos de 2022

A legislação climática histórica nos Estados Unidos, o investimento em energia renovável na Europa impulsionado pela guerra na Ucrânia e a vitória de Lula na eleição presidencial brasileira foram os três acontecimentos climáticos do ano, segundo reportagem do The Washington Post, que levam a melhores perspectivas internacionais para combater a crise do clima, reduzindo, assim, as chances de que o aquecimento global supere as piores previsões dos últimos anos.

A paraça combinada dos três acontecimentos globais pode levar a uma queda acelerada no uso de combustíveis fósseis, à energia renovável mais barata e ao reavivamento dos esforços para proteger a floresta amazônica, além de mudar o cenário das negociações climáticas na COP 27. “Quando você olha para as tendências subjacentes, você precisa se encorajar. A economia real por baixo de tudo isso está se movendo na direção certa, embora em um ritmo mais lento do que o que a ciência diz ser necessário”, disse Claire Healy, diretora do escritório de Washington do E3G, um think tank de política climática com sede em Londres.

No Brasil, defensores do clima disseram esperar uma grande mudança de política no próximo mandato. “Todos os cientistas diziam que, se mantivéssemos a mesma dinâmica na Amazônia, perderíamos a oportunidade de evitar o ponto de não retorno”, a partir do qual se torna impossível para a floresta tropical se recuperar, disse Adriana Ramos, conselheira do Instituto Socioambiental, organização que trabalha com direitos indígenas e questões ambientais.

A mudança nas políticas climáticas domésticas do Brasil pode ser positiva por si só, segundo eles, mas a mudança provavelmente será amplificada porque deve incentivar outros países a agirem em conjunto com Brasília. “Assim como no ano passado, quando vimos os EUA começarem a se reengajar, acho que começaremos a ver a confiança ser construída”, disse John Verdieck, diretor de política climática internacional da Nature Conservancy, uma organização ambiental global.

Nos Estados Unidos, a Lei de Redução da Inflação quer destinar US$ 369 bilhões em investimentos, créditos fiscais e outros financiamentos para esforços climáticos, uma injeção de dinheiro que, segundo os apoiadores, vai remodelar a economia americana e reduzir os preços globais de energia renovável. “Francamente falando, no contexto político dos EUA, não se poderia imaginar uma ferramenta melhor, mais adequada para a economia e a transição dos EUA do que ir direto ao ponto de tornar a tecnologia a pedra angular para nós”, afirma Jennifer Layke, diretora global do programa de energia do World Resources Institute, um centro de pesquisa climática com sede em Washington.

Na Europa, a guerra entre Rússia e Ucrânia acabou causando a interrupção da dependência energética dos países europeus em relação ao Kremlin, gerando um esforço para acelerar as energias renováveis, como solar e eólica, mesmo que a Europa queime mais carvão e construa mais infraestrutura de gás natural no curto prazo. De acordo com o relatório World Energy Outlook, da Agência Internacional de Energia, a demanda global por todo tipo de combustível fóssil deve atingir o pico em meados da próxima década. O uso global de carvão vai começar a diminuir nos próximos anos, o gás vai se estabilizar em 2030, e a demanda por petróleo, na metade da década de 2030.

Para alguns especialistas, as mudanças são impressionantes, mas não suficientes. “Mesmo para energias renováveis e veículos elétricos, ainda não está no ritmo que precisamos, pelo menos dentro de uma janela de 1,5ºC”, acredita David Waskow, diretor internacional de ação climática do World Resources Institute. “Então, muito progresso. E, ainda assim, tem que ir mais fundo e mais rápido.”

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Divulgação.