Turbulência em voos: o que você precisa saber e por que a crise climática vai piorar isso

Uma turbulência forte atingiu um avião da Air Europa, que ia da Espanha para o Uruguai, deixou pelo menos 30 feridos na madrugada desta segunda-feira. O voo com 325 passageiros precisou fazer um pouso de emergência no Aeroporto de Natal. De acordo com a empresa, como resultado do evento, foram registradas sete lesões de graus variados, além de um número ainda indeterminado de passageiros com contusões leves.

Esse ocorrido vem se juntar a outros casos, que veem acontecendo e tem preocupado especialistas e autoridades.

Inúmeros viajantes já experimentaram a nítida sensação indutora de ansiedade da turbulência em um voo: olhos fechados, mãos presas aos apoios de braço para salvar a vida, preparando-se para a montanha-russa que está por vir.

Ela pode ser intensa e causar lesões durante os voos. De 2009 a 2012, 163 passageiros e membros da tripulação de aeronaves registradas nos Estados Unidos ficaram gravemente feridos devido à turbulência, de acordo com a Administração Federal de Aviação.

Embora as mortes sejam extremamente raras, elas acontecem. No mês passado, um homem de 73 anos morreu depois que um avião que voava de Londres para Cingapura passou por uma turbulência severa e despencou 6.000 pés em minutos. Outras 18 pessoas foram hospitalizadas e mais 12 pessoas estavam sendo tratadas por causa de ferimentos, informou a Singapore Airlines em um comunicado.

Outros incidentes ocorridos nos últimos anos também deixaram dezenas de passageiros feridos. Em março de 2023, sete passageiros de um voo da Lufthansa do Texas para Frankfurt, na Alemanha, foram hospitalizados com ferimentos leves depois que o avião passou por uma forte turbulência. E em dezembro de 2022, cerca de duas dúzias de pessoas, incluindo um bebê, ficaram feridas em um voo da Hawaiian Airlines de Phoenix para Honolulu que sofreu uma turbulência pouco antes do pouso.

O que é turbulência?

Para começar, é importante destacar que os aviões são projetados para resistir a condições adversas e é raro que as aeronaves sofram danos estruturais devido à turbulência. O fenômeno se caracteriza pelo movimento instável do ar causado por mudanças na velocidade e direção do vento, como correntes de jato, tempestades e frentes frias ou quentes.  Ela pode variar de gravidade, causando de pequenas a grandes mudanças na altitude e na velocidade do ar.

Não está associada apenas ao clima inclemente, mas também pode ocorrer quando o céu parece plácido. E pode ser invisível tanto para os olhos quanto para o radar meteorológico.

Há quatro classificações para a turbulência: leve, moderada, severa e extrema. Em casos de turbulência extrema, os pilotos podem perder o controle do avião e pode até haver danos estruturais à aeronave, de acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia.

A turbulência está aumentando? E, em caso afirmativo, por quê?

Pesquisas recentes indicam que as turbulências estão aumentando e que essa mudança é provocada pela mudança climática – especificamente, emissões elevadas de dióxido de carbono que afetam as correntes de ar.

Paul Williams, professor de ciências atmosféricas da Universidade de Reading, na Inglaterra, estuda as turbulências há mais de uma década.

A pesquisa de Williams descobriu que a turbulência do ar claro, que ocorre com mais frequência em grandes altitudes e no inverno, pode triplicar até o final do século. Ele disse que esse tipo de turbulência, de todas as categorias, está aumentando em todo o mundo em todas as altitudes de voo.

Sua pesquisa sugere que poderemos encontrar voos mais turbulentos nos próximos anos, o que pode resultar em mais ferimentos nos passageiros e na tripulação.

Como a turbulência é monitorada e medida?

Os meteorologistas contam com uma variedade de algoritmos, satélites e sistemas de radar diferentes para produzir previsões detalhadas de aviação para condições como ar frio, velocidade do vento, tempestades e turbulência. Eles sinalizam onde e quando a turbulência pode ocorrer.

Jennifer Stroozas, meteorologista do Aviation Weather Center do serviço de meteorologia, chamou a turbulência de “definitivamente uma das coisas mais desafiadoras de se prever”.

Usando essas previsões, além da orientação dos controladores de tráfego aéreo, os pilotos tentam contornar as áreas turbulentas ajustando sua altitude para encontrar a viagem mais suave. Isso significa voar mais alto ou mais baixo do que a altitude em que os meteorologistas preveem a turbulência e, possivelmente, queimar mais combustível do que o previsto inicialmente, um esforço que pode ser caro.

Robert Sumwalt, ex-presidente do National Transportation Safety Board, que agora dirige um novo centro de segurança de aviação na Embry-Riddle Aeronautical University, enfatizou que é impossível evitar ou prever todas as turbulências.

“Sempre há a possibilidade de um ar turbulento inesperado”, disse Sumwalt. “Geralmente, ele não vai machucá-lo e não vai arrancar as asas do avião.”

A turbulência também representa uma ameaça maior para aviões pequenos, que são mais suscetíveis a mudanças na velocidade do vento, em vez de aviões comerciais maiores, disse Stroozas, do serviço meteorológico.

É tão perigoso assim? Como posso me manter seguro durante a turbulência?

Os aviões são projetados para suportar condições adversas, e é raro que sofram danos estruturais devido à turbulência.

Mas, a turbulência pode arremessar os passageiros e membros da tripulação de um lado para o outro, podendo causar ferimentos graves, como fraturas ósseas e hemorragias. Vários especialistas enfatizaram que permanecer sentado e manter o cinto de segurança colocado o máximo possível durante os voos são as melhores maneiras de reduzir os riscos.

“Se você permanecer com o cinto, a probabilidade de sofrer uma lesão é muito menor”, disse Thomas Guinn, professor de ciências aplicadas à aviação na Embry-Riddle Aeronautical University.

Em caso de turbulência severa, o movimento vertical do avião excederá a paraça da gravidade.

E quanto aos bebês no colo?

Crianças com menos de 2 anos de idade podem ser carregadas no colo de um adulto durante os voos, mas muitos especialistas do setor, citando perigos como turbulência, acreditam que essa prática deveria ser proibida.

Há décadas, a Association of Flight Attendants-CWA, um sindicato que representa cerca de 50.000 comissários de bordo em 19 companhias aéreas, defende que cada passageiro tenha seu próprio assento, independentemente da idade.

Sara Nelson, presidente do sindicato, disse em uma entrevista que, com a turbulência se tornando “muito mais comum” ultimamente, a necessidade de crianças pequenas estarem devidamente presas em assentos de segurança para crianças durante os voos é uma prioridade maior.

“Estamos falando de eventos na cabine que podem ser potencialmente mortais, mas que podem ser sobrevividos quando você faz as coisas certas para se proteger”, disse Nelson.

A turbulência inesperada é a principal causa de lesões pediátricas em aviões, de acordo com a FAA, que tem informações detalhadas sobre vários sistemas de retenção para crianças e como instalá-los corretamente em assentos de avião. Alguns desses produtos são compatíveis tanto com carros quanto com aviões.

Há décadas, a FAA e o NTSB recomendam aos pais que prendam as crianças pequenas em seus próprios assentos e em um assento de segurança aprovado. A Academia Americana de Pediatria também segue essa orientação. Não há nenhuma lei federal que exija essas medidas.

Fontes: Tribuna do Norte, Estadão, O Globo

Foto: Foto: Divulgação/Will Recarey.

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