Usina nuclear de Angra 1 sofreu vazamento de material radioativo em 2022

Houve liberação de água contaminada na Baía de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ), após o vazamento de material radioativo da usina nuclear de Angra 1. Segundo documentos obtidos pelo jornal Globo, a Eletronuclear, estatal responsável pelo complexo de usinas nucleares brasileiras, informou o ocorrido aos órgãos de fiscalização somente 21 dias depois do ocorrido.

Segundo informações do veículo, registros indicam que o material radioativo foi lançado ao mar em 16 de setembro, mas o fato só foi informado às autoridades de fiscalização no dia 29 daquele mês. O incidente chegou ao conhecimento do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) por meio de uma denúncia anônima, e a instituição direcionou o relato ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

Já no dia 30 de setembro, servidores do Ibama entraram em contato com funcionários da Eletronuclear, que negaram qualquer tipo de incidente. Ainda naquele dia, a Eletronuclear divulgou uma nota que dizia que houve um leve aumento nos níveis de radiação em uma das salas de trabalho da usina devido à água acumulada em um ralo.

O comunicado dizia que a água foi rapidamente drenada e contida no local. Contudo, três semanas depois, a versão apresentada à fiscalização foi alterada sem explicações. Já nos dias 7 e 11 de outubro, a Eletronuclear notificou o Ibama e CNEN, respectivamente, sobre o vazamento.

Em nota, a Eletronuclear afirma que o material representava “um pequeno volume de água contendo substâncias de baixo teor de radioatividade”. Também diz que a quantidade estava “abaixo dos limites da legislação que caracterizam a ocorrência de um acidente” e, por isso, “tratou o evento como incidente operacional e informou o assunto nos relatórios regulares previstos”.

A empresa estima que cerca de 90 litros do material tenham escorrido para o mar, e alega que “um pequeno volume do material lesivo foi lançado de forma involuntária no sistema de águas pluviais”. Ainda, a Eletronuclear afirma que o vazamento foi um “incidente operacional”, que não exige o cumprimento das notificações que seriam obrigatórias em caso de um acidente nuclear.

As inspeções da CNEN apontaram que uma válvula falhou durante uma operação de rotina de recirculação e purificação de água, o que teria levado ao derramamento no mar de um volume estimado de 90 litros da água contaminada.

Entretanto, a CNEN, o Ibama e o Ministério Público Federal observam demora na comunicação do vazamento às autoridades competentes, o que leva a dúvidas sobre os dados apresentados pela Eletronuclear. A empresa afirmou ao jornal que vai contestar os relatórios que declaram que houve atraso na comunicação do incidente já que, para a Eletronuclear, o vazamento foi tratado internamente como um incidente operacional registrado em relatórios regulares.

“As normas da CNEN (em particular a norma CNEN NN 3.01) estabelecem os limites de dose anuais para doses de público e trabalhadores. Quaisquer eventos que indiquem, por suas características, que esses limites preconizados possam estar sendo sobrepassados, são considerados relevantes sob o ponto de vista de proteção radiológica”, diz ainda a CNEN.

O Ibama informa que duas multas foram aplicadas à Eletronuclear em 28 de fevereiro deste ano: uma de mais de R$ 2 milhões, por descarte irregular de substância radioativa, e outra de R$ 101 mil, por descumprir a determinação de que acidentes ambientais devem ser comunicados imediatamente após o ocorrido.

Nesta quarta-feira (22), a Justiça Federal determinou que a companhia realize uma avaliação completa dos danos causados pelo acidente, que lançou água contaminada por radiação na baía de Itaorna, em Angra dos Reis (a cerca de 160 km da capital fluminense). A ação foi em resposta a uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal no Rio.

A ação do MPF questiona a postura da empresa e aponta evidências de que teria havido tentativa de esconder o vazamento.

O procurador da República Aldo de Campos Costa, autor da ação, afirma que informar a extensão e os riscos associados a um acidente radioativo é essencial para a segurança. “A transparência deve ser uma regra, não uma exceção, a fim de que a população confie completamente nas informações divulgadas”, disse, em comunicado à imprensa.

Sobre a acusação de falta de transparência, a Eletronuclear diz que “comunicados sobre o assunto foram publicados em seu site”.

O caso foi revelado nesta quinta-feira (23) pelo jornal O Globo e confirmado pela Folha.

Fonte: Globo

Foto: Divulgação/Eletronuclear.