Uso indevido de agrotóxico pode ter provocado morte de milhões de abelhas na Bahia

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) e a Agência Estadual de Defesa Agropecuária (ADAB) estão investigando circunstâncias que envolvem a morte de milhões de abelhas na região de Ribeira do Pombal. Análises preliminares indicam que a mortandade pode ter sido resultado do uso indevido do agrotóxico fipronil.

No dia 5 de julho, a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) comunicou que chegou até o órgão o relato de perda total em apiários de 26 apicultores nos municípios de Ribeira do Pombal, Nova Soure e Cipó. Somente em Ribeira do Pombal, foram pelo menos 750 enxames de abelhas comprometidos. A SDR apontou que a morte das abelhas foi “muito possivelmente fruto do uso indiscriminado e irresponsável de agrotóxicos na região”.

Os apicultores da região, que primeiro comunicaram o acontecimento, foram orientados a colher amostras de abelhas mortas, cera e mel presentes nas colmeias dos apiários atingidos. Na última segunda-feira (24) a ADAB, notificada pela SDR, disse ter analisado as primeiras amostras colhidas e detectado a presença de moléculas de fipronil – agrotóxico proibido em muitos países, incluindo os da União Europeia, e já associado à morte de 100 milhões de abelhas no Mato Grosso recentemente. “Entretanto, estamos aguardando os resultados das demais análises laboratoriais”, disse a Coordenadora do Programa de Sanidade das Abelhas, Rejane Noronha.

A ADAB disse ainda ter enviado médicos veterinários especialistas em apicultura e engenheiros agrônomos para avaliar os danos aos apicultores e às criações da região. Além disso, afirma estar acompanhando a situação junto com o MP-BA para avaliar os próximos passos.

A SDR da Bahia afirma que a situação de mortandade disseminada de abelhas vem sendo recorrente “em diversos territórios” do Estado nos últimos anos. “Em todos os casos do passado, as amostras enviadas aos laboratórios comprovam a intoxicação dos apiários através do princípio ativo fipronil”, diz o órgão.

Fipronil é proibido na UE, mas exportado de lá para o Brasil

O fipronil, princípio ativo de agrotóxicos, é usado no controle de pragas em diversas culturas como algodão, soja, arroz, batata, dentre outras. A substância tem seu uso proibido na União Europeia, mas o bloco não veta sua exportação.

Em 2017, o Fipronil esteve no centro de um escândalo de contaminação de galinha e derivados que foram consumidos por humanos em 17 países europeus. Somente no Reino Unido, foram mais de 700 mil ovos contaminados distribuídos.

No Brasil, Santa Catarina foi o primeiro Estado a restringir o uso do princípio ativo, em 2021. Uma norma que entrou em vigor em setembro desse ano proibiu a aplicação dele sobre as folhas em cultivos catarinenses, após um estudo confirmar que o fipronil foi responsável pela morte de 50 milhões de abelhas no Planalto Norte catarinense, em 2019.

A Basf é uma das fabricantes que utilizam o fipronil em seus produtos, mas a quebra da patente na década passada já permitiu sua disseminação por diversas empresas.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: MRS/ Getty Images.