Vida oculta no subterrâneo: cientistas encontram enorme ecossistema no interior da Terra

Após dez anos de estudo, uma equipe de pesquisadores do mundo todo anunciou a descoberta de um ecossistema com o dobro do tamanho de todos os oceanos do planeta. Composta majoritariamente por micro-organismos, a biosfera subterrânea tem mais diversidade que a Amazônia e as Ilhas Galápagos.

Recentemente, ocorreu o encontro da União Geofísica Americana, evento durante o qual pesquisadores apresentaram suas descobertas uns aos outros.

Na ocasião, um grupo de pesquisa apresentou o seu achado referente ao subsolo da Terra. Eles afirmam que cerca de 70% de todos os micróbios do planeta vivem nessa área.

O grupo de 1.200 cientistas de 52 países que integram o Deep Carbon Observatory estima que o ecossistema possui entre 15 bilhões e 23 bilhões de toneladas de micro-organismos e que está localizado entre a crosta e o núcleo da Terra. Vivendo sob condições adversas — calor extremo, baixa nutrição, ausência de luz e pressão intensa —, os micro-organismos habitam o espaço subterrâneo há milhares de anos.

“É como encontrar todo um novo reservatório de vida na Terra”, disse Karen Lloyd, professora associada da Universidade do Tennessee, ao jornal britânico The Guardian. “Estamos descobrindo novos tipos de vida o tempo todo. Muito da vida está dentro da Terra e não em cima dela”.

“Dez anos atrás, tínhamos mostrado apenas alguns locais – os tipos de lugares onde esperávamos encontrar vida. Agora, graças à amostragem ultraprofunda, sabemos que podemos encontrá-los praticamente em qualquer lugar.”

Além disso, esses micróbios compõem aproximadamente de 15 a 23 bilhões de toneladas de carbono. Isso equivale a uma massa centenas de vezes maior que todos os seres humanos na superfície combinados.

O ecossistema subterrâneo dominado por bactérias e arqueias foi nomeado como “Galápagos subterrâneo”. A descoberta e os estudos ainda são muito recentes.

Uma nova forma de existência

Para chegar aos resultados atuais, a equipe uniu dezenas de estudos anteriores que examinaram amostras de perfurações no fundo do mar e nos continentes e retirou amostras de poços perfurados a mais de 5 km de profundidade e construiu um modelo do que seria o ecossistema descoberto.

Os resultados sugerem que 70% das bactérias e arqueas (seres vivos semelhantes morfologicamente às bactérias) que existem hoje no planeta estejam no subsolo. A hipótese é de esses organismos tenham se movido muito pouco, despendendo menos energia do que se supunha, durante toda sua vida.

Algo que deixou os cientistas muito surpresos foi a biosfera profunda do subsolo, a qual representa quase o dobro do volume de todos os oceanos da Terra.

Mesmo com todas as condições adversas, é detectável essa variedade de vida e possivelmente elas irão prosperar. Além disso, esse novo ecossistema pode responder a muitas perguntas sobre os limites da vida na Terra e talvez até em outros planetas.

“Nós, humanos, nos orientamos para processos relativamente rápidos — ciclos diurnos baseados no sol ou ciclos lunares baseados na lua —, mas esses organismos fazem parte de ciclos lentos e persistentes em escalas de tempo geológicas”, afirma Rick Colwell, um microbiólogo da Universidade de Oregon.

A descoberta abre caminhos para as respostas de uma série de questionamentos feitos pelos cientistas, que querem saber qual é a real temperatura limite para a existência de vida (atualmente é de 122 graus Celsius), se ela surge das profundezas do planeta ou da superfície e o que o processo pode revelar sobre a evolução da vida na Terra.

Fonte: Exame

Imagem: NASA/Divulgação.