A COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática), realizada este ano em Belém, no Pará, reaqueceu o debate global sobre a urgência de frear os avanços das mudanças climáticas. Embora variações climáticas façam parte da história natural do planeta há milhares de anos, as atividades humanas aceleraram esse processo em velocidade sem precedentes, gerando impactos diretos sobre ecossistemas, populações e economias. Nesse contexto, reconhecer como nossas interações com o ambiente influenciam esses processos e buscar maneiras de reduzir impactos negativos, é um passo pequeno diante de desafios imensos, mas que, em larga escala, podem gerar mudanças significativas ao alterar padrões de consumo e pressionar cadeias produtivas.
Nesse cenário, as áreas naturais protegidas surgem como espaços fundamentais de conservação e resiliência. Além de abrigarem biodiversidade e manterem processos ecológicos essenciais à vida na Terra, desempenham funções ecossistêmicas responsáveis por estocar e capturar grandes quantidades de carbono. No caso das áreas marinhas e costeiras, esse papel é ainda mais expressivo: ecossistemas como manguezais, marismas e pradarias marinhas possuem elevada capacidade de sequestrar carbono, contribuindo de forma significativa para a mitigação climática.
Há, contudo, um aspecto menos discutido sobre o potencial desses territórios frente às mudanças climáticas: o uso público. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), uso público corresponde às diferentes formas de visitação que uma área protegida oferece. Ele está diretamente ligado aos serviços ecossistêmicos culturais, um dos quatro grandes grupos de serviços ecossistêmicos derivados das funções ecossistêmicas.
As funções ecossistêmicas são resultantes das interações entre elementos bióticos e abióticos e existem independentemente da nossa percepção ou valorização, mas, do ponto de vista antropocêntrico, são consideradas “serviços” quando apresentam potencial de uso ou benefício humano.
Os serviços ecossistêmicos incluem: a provisão de alimentos, água, madeira, fibras; a regulação do clima, enchentes, doenças, resíduos, qualidade da água; o suporte à formação do solo, fotossíntese, ciclagem de nutriente; e os culturais, como recreação, valores estéticos, espirituais e educativos, que fortalecem a relação sociedade–natureza.
Embora os serviços de suporte e de regulação sejam os mais diretamente vinculados ao enfrentamento das mudanças climáticas, é justamente no grupo dos culturais que o uso público se destaca, criando oportunidades reais de transformar a experiência do visitante em um processo de sensibilização ambiental e comunicação climática acessível ao público geral.
Para isso, o planejamento do uso público, estruturado nos planos de manejo e em programas de educação ambiental, torna-se essencial. Essas iniciativas podem ocorrer em ações contínuas, desenvolvidas com escolas, universidades e grupos acompanhados regularmente, ou em atividades pontuais voltadas à visitação espontânea. Incorporar o tema das mudanças climáticas como eixo central nesses planos e programas amplia tanto o alcance quanto a efetividade das ações.
Eventos como passarinhadas, caminhadas, encontros de cicloturismo e cursos de formação para condutores de visitantes têm se mostrado espaços férteis de diálogo sobre conservação e comportamento responsável. Eles permitem discutir com o público como as áreas protegidas ajudam a retardar efeitos climáticos extremos, como as mudanças climáticas afetam esses territórios e, sobretudo, o que cada pessoa pode fazer para reduzir sua própria pegada ecológica.
O potencial desse processo fica evidente quando observamos quantas pessoas podem ser alcançadas em pontos de maior demanda de visitação identificados pelas gestões das áreas protegidas. Por exemplo, a Trilha do Monte das Orações, localizada no Parque Estadual da Serra da Tiririca (RJ), recebe mais de 300 mil visitantes por ano. Inserir ações contínuas de sensibilização ambiental nesse circuito significa atingir, ano após ano, um público massivo, capaz de replicar o conhecimento adquirido e gerar um efeito multiplicador de impacto social e ambiental.
Outro exemplo relevante vem do estudo realizado com condutores formados pelo Programa Estadual de Guias e Condutores de Visitantes do INEA, criado para qualificar moradores de unidades de conservação e seu entorno para atuarem com ecoturismo. A pesquisa revelou que 67,6% dos participantes relataram aumento do interesse por questões ambientais após o curso. E 77,5% afirmaram que a formação influenciou positivamente suas práticas cotidianas. Ou seja: quando a educação ambiental está integrada à experiência de uso público, ela transforma tanto a relação com a área protegida quanto comportamentos fora dela. Esses condutores, ao receberem e orientarem visitantes, tornam-se multiplicadores ativos da sensibilização ambiental.
Diante das discussões globais da COP30 e de metas internacionais – como a iniciativa 30×30 e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU – investir em estratégias que transformem a visitação em áreas naturais protegidas em verdadeiras salas de aula a céu aberto é fortalecer uma das ferramentas mais democráticas e eficazes para engajar a sociedade na mitigação das mudanças climáticas.
Fonte: ((O))eco.
Foto: Duda Menegassi.


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