A cada 50 mortes no mundo por raios, uma acontece no Brasil

A cada hora, mais de 5.700 raios atingem o Brasil, segundo dados do Elat (Grupo de Eletricidade Atmosférica). Em um ano, o número chega a 50 milhões de descargas elétricas no País. O fenômeno natural faz centenas de vítimas anualmente, o que representa, na média mundial, uma morte a cada 50 calculadas no planeta. O caso mais recente aconteceu na praia da Enseada, no Guarujá, litoral paulista. No último domingo (12), uma mulher, de 36 anos, foi atingida por um raio e morreu. Os parentes afirmam que o socorro demorou e que o posto do Corpo de Bombeiros, que fica perto do local do acidente, não tinha equipamentos para ajudar a vítima. Os irmãos da mulher disseram ainda que não houve alertas para os banhistas sobre o risco de raios.

A mulher usava um biquíni com um acessório de metal, que se partiu ao meio depois da descarga. De acordo com meteorologistas, o objeto pode atrair o raio, mas, no caso da mulher, a proximidade com o mar pode ter sido o fator responsável pela fatalidade. Esta não é a primeira vez que turistas morrem no litoral de São Paulo, vítimas de raios. No ano passado, um casal português foi atingido em uma praia de Bertioga. Eles fazem parte das cerca de 130 vítimas que os raios fazem no Brasil por ano.

As fatalidades vêm diminuindo, tendo reduzido de 101 em 2013 para 68 em 2022, mas o Brasil ainda é responsável por um em cada 50 óbitos que ocorrem em todo o mundo. Especialistas consideram o número alto, sendo o dobro do contabilizado na República Democrática do Congo e o triplo do registrado nos Estados Unidos, países que ocupam o segundo e o terceiro lugar no ranking de no ranking de descargas atmosféricas, respectivamente.

Ainda de acordo com dados do Elat, o País registrou 1.601 mortes entre 2000 e 2012. Nesse período, mais homens morreram do que mulheres (82% contra 18%), com maioria entre 20 e 39 anos (43% do total). A estação do ano em que mais mortes foram registradas foi o verão (45%), seguido pela primavera (32%), outono (14%) e inverno (9%). No verão, as cidades normalmente registram altas temperaturas e a atmosfera é naturalmente mais úmida. Essa combinação, segundo os meteorologistas do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), provoca mais raios. Só que no caso do litoral de São Paulo, há um fator, que acontece todo verão, que influencia na quantidade de descargas elétricas. Uma faixa de umidade, que vem da Amazônia, tem se deslocado justamente para as praias paulistas.

O levantamento do Elat durante os anos de 2000 e 2012 mostra que o Estado de São Paulo é o que mais registrou mortes no período, com 267 casos. Minas Gerais é o segundo colocado, com 125 mortes, seguido do Rio Grande do Sul, com 121. Ainda de acordo com o instituto, as atividades rurais (19%) representam a maior parte das circunstâncias das fatalidades. As ocorrências dentro de casa somam 15%, 14% das mortes aconteceram próximas a veículos e 12% embaixo de árvores.

A proximidade à rede de saúde e aos centros urbanos também tem um papel importante. Apesar do maior número de mortes, Amazonas e Tocantins registraram apenas 14 e 7 hospitalizações ao longo dessa década, em comparação com 48 protocoladas em São Paulo.

O fenômeno também tem um impacto sobre a agropecuária, tendo sido responsável pela morte de mais de 3.200 cabeças de gado ao longo da última década, um número quase 4 vezes superior aos óbitos humanos.

Como se proteger

As descargas elétricas são mais frequentes na região equatorial e o Brasil, como maior país dessa faixa do planeta, é o principal alvo dessas descargas. O aquecimento global deve tornar esses eventos ainda mais comuns – de acordo com o Inpe, espera-se que até 2100 o número de raios possa aumentar em até 40%, ultrapassando os 100 milhões anualmente.

Osmar Pinto, coordenador do Elat, explica que, apesar do aumento dos raios, o número de mortes pode diminuir com o maior acesso à informação. A melhor maneira de se proteger é procurar abrigos, dentro de casas, prédios ou construções subterrâneas, como o metrô, sempre o carro também pode ser uma possibilidade segura.

Caso não haja abrigo nas proximidades, o mais ideal a se fazer é ficar agachado, com os pés juntos, longe de pontos altos e objetos metálicos. Em caso de praias ou piscinas, não se deve permanecer dentro da água ou na faixa de areia, nem tampouco procurar abrigo sob guarda-sol, tendas e quiosques.

Fontes: Veja, Correio do Estado.

Imagem: Cesar Okada/Getty Images.