Nos últimos anos, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), através de seus relatórios, tem alertado que mais de dois terços dos estoques pesqueiros mundiais estão totalmente explorados.
A entidade relata que muitas populações marinhas estão sendo superexploradas, não só afetando de forma negativa o meio ambiente, mas também reduzindo a produção pesqueira, com efeitos negativos sociais e econômicos. Não há dúvida de que a pesca causa instabilidade nos diferentes ecossistemas aquáticos e tem contribuído, em escala global, para a destruição da biodiversidade.
A pesca comercial moderna registra mais de 32 milhões de toneladas de peixes capturados a cada ano. Além de usar um sonar de localização de animais, os navios usam redes de arrasto, redes de deriva, palangres e o resultado disso é a sobrepesca, que ocorre quando mais peixes são capturados do que a população pode repor através da reprodução natural. Além disso, as redes de arrasto provocam danos extensivos ao fundo do mar, incluindo corais de águas profundas e o crescimento desproporcional das algas.
Além disso, os estragos causados ao fundo marinho emitem tanto carbono quanto todos os voos comerciais realizados no mundo, de acordo com o estudo. Os sedimentos marinhos são grandes depósitos do gás, que amplia o efeito estufa, aumentando a temperatura média planetária. China, Rússia, Itália, Reino Unido, Dinamarca, França, Holanda, Noruega, Croácia e Espanha respondem pela maioria do carbono liberado pelo arrasto de fundo.
Biólogos marinhos dizem que em meados do século 20 os esforços para aumentar a abundância de alimentos ricos em proteínas levaram a um aumento abrupto da pesca. Os consumidores logo se acostumaram a ter acesso a uma variedade de espécies a preços acessíveis; no entanto, essa acessibilidade tem um grande custo para os oceanos.
Em 2017, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) listou 455 espécies de peixes criticamente ameaçadas de extinção, incluindo 87 marcadas como possivelmente extintas. Quanto menos peixes no oceano, menos alimento os animais marinhos maiores têm para sobreviver, levando a um desequilíbrio nas teias alimentares. Por outro lado, visar espécies predadoras, como o atum e a garoupa, leva a uma abundância de espécies menores, o que também perturba o equilíbrio da ecologia local.
A destrutiva combinação da sobrepesca com a pesca predatória empreendida nas últimas décadas cobrará um alto preço muito em breve. No Brasil, já são 145 espécies de peixes e 12 de tubarões ameaçadas de extinção e 31 espécies de peixes e 6 de tubarão sobrepescados. Entre as espécies mais ameaçadas, temos o cação-anjo, a raia-viola, o mero, o peixe-serra e o surubim. Dentre os estoques de espécies tradicionais sobrepescados em nosso litoral, estão a mangona, o tubarão-martelo, a sardinha, o pargo, a cioba, a tainha, a enchova, o namorado, a corvina, a garoupa, o cherne, a pescadinha, os camarões e as lagostas. E esses números só não são maiores devido à histórica falta de verba para pesquisas em nosso país.
É necessária uma atuação urgente para deter a sobrepesca e evitar a extinção global. Especialistas descobriram que duplicou o número de espécies ameaçadas, enquanto o número de espécies em perigo crítico triplicou, de acordo com os últimos estudos.
Derramamentos de óleo e líquidos, produtos químicos e elementos sólidos prejudicam repetidamente a vida marinha e aumentam a poluição da água. Um estudo de dados de captura publicado em 2006 pela National Geographic na revista Science previu severamente que se as taxas de pesca continuarem nesse ritmo, todas as pescarias do mundo terão entrado em colapso até o ano 2048.
Compreender os mecanismos dessa destruição é o primeiro passo na busca de soluções e, para tanto, necessitamos revisitar alguns conceitos elementares.
A pesca, como atividade predatória, é um fator externo impactante que interfere no equilíbrio das populações e que pode ser mensurada pelo esforço de captura (quantidade de operações ou de tempo de operação das artes de pesca numa determinada pescaria, durante um determinado período).
Logicamente, o esforço de pesca é diferente para cada pescaria e, dependendo do tipo de arte de pesca utilizada e do nível tecnológico das operações, pode causar um maior ou menor impacto sobre as populações e, consequentemente, ao ecossistema.
Quando um determinado esforço de pesca é mantido dentro de “limites razoáveis” para o tamanho da população explorada, pode até ser benéfico, auxiliando na manutenção do tamanho dessa população, condizente com seu equilíbrio biológico e o das outras que participam da biocenose.
Entretanto, quando o esforço de pesca extrapola esses limites de segurança, sobretudo quando se retira, demasiadamente, indivíduos jovens imaturos e/ou adultos reprodutores de uma população, estabelece-se uma instabilidade dentro da população explorada, diminuindo consideravelmente a possibilidade de sobrevivência ou a ocorrência de grupos sucessores.
A pesca está sendo mantida nesse cenário assombroso, criando um círculo vicioso que só será quebrado por uma redução drástica do esforço de captura. Entretanto, em muitos casos a situação é irreversível, sem solução.
Apesar de a pesca ser uma das mais antigas atividades desenvolvidas pelo homem, parece que todo esse tempo de prática ainda não foi suficiente para evitar que ela seja realizada de forma predatória. Levantamentos recentes indicam que hoje a captura indiscriminada mata e desperdiça entre 18 e 40 milhões de toneladas de peixes, tubarões, tartarugas e mamíferos marinhos todos os anos, o que representa nada mais, nada menos do que um terço de toda a pesca mundial. É um crime contra a natureza. Um desperdício inaceitável que ameaça secar a fonte.
Pesquisadores apontam que regular a prática traz benefícios ecológicos e econômicos. Países já limitam a atividade, defendendo seus recursos naturais. Mas o arrasto ainda engrossa os prejuízos e os crimes ambientais no Brasil.
Fontes: BBC News, Ecodebate, Um só Planeta, Fauna News, Pensamento Verde. Euronews.