Agência ambiental dos EUA remove menções às causas humanas do aquecimento global

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) removeu, sem aviso, de algumas páginas de seu site o fato de que a atividade humana está impulsionando as mudanças climáticas.

A informação foi excluída de uma página intitulada “Causas das Mudanças Climáticas” e de outra que acompanha os impactos do aquecimento global nos Estados Unidos.

As mudanças ocorrem enquanto o governo Trump toma medidas agressivas para impulsionar o petróleo, gás e carvão, cuja queima é o principal motor do aquecimento global. Trump, que chama as mudanças climáticas de “farsa”, eliminou regulamentações climáticas e facilitou o desenvolvimento de combustíveis fósseis e dificultou a construção de energia renovável como eólica e solar.

Chris Wright, secretário de energia, encomendou a cinco céticos do clima a elaboração de um relatório que minimizou a gravidade do aquecimento global. E a EPA, chefiada por Lee Zeldin (advogado americano, político e ex-oficial de inteligência do Exército, está prestes a eliminar a evidência científica de que as mudanças climáticas ameaçam a saúde humana, uma medida que apagaria a autoridade legal do governo federal para regular o dióxido de carbono e outros poluentes que aquecem o planeta.

“A EPA está tentando enterrar as evidências sobre as mudanças climáticas causadas pelo homem”, disse Rachel Cleetus, diretora sênior de políticas para o programa de clima e energia da União dos Cientistas Preocupados, organização sem fins lucrativos de defesa da ciência.

Ela chamou as mudanças nos sites governamentais financiados pelos contribuintes de preocupantes e “parte de um ataque contínuo à ciência” pelo governo Trump.

Brigit Hirsh, porta-voz de Zeldin, disse que o governo Trump está focado em proteger a saúde humana, em vez do que ela chamou de “agendas políticas de esquerda”.

“Esta agência não recebe mais ordens do culto ao clima”, disse Hirsch em um comunicado. Ela observou que as páginas mais antigas foram arquivadas e ainda estão disponíveis online.

Daniel Swain, cientista climático da Universidade da Califórnia Agricultura e Recursos Naturais, disse ter descoberto recentemente que a EPA havia removido de seu site informações sobre indicadores de mudanças climáticas —tendências sobre ondas de calor, aumento do nível do mar e outros efeitos.

Era um “recurso rico para educadores”, disse Swain, acrescentando que frequentemente usava os dados, gráficos e outras informações do site durante suas palestras.

Então ele notou que a página sobre as causas das mudanças climáticas não listava mais a causa principal — a atividade humana. Em vez disso, as páginas oferecem outras possíveis causas, como mudanças na energia do sol e erupções vulcânicas.

Anteriormente, a página observava que, desde a Revolução Industrial, as atividades humanas liberaram grandes níveis de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa que “mudaram o clima da Terra”. Detalhava as quantidades de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso que são liberados na atmosfera a cada ano por escapamentos, chaminés e vazamentos de poços de petróleo e gás.

De acordo com dados da Wayback Machine, repositório digital de páginas na internet, as mudanças parecem ter sido feitas em algum momento após 8 de outubro.

Cientistas disseram que outros dados da página “Causas das Mudanças Climáticas” estão corretos. Por exemplo, o site ainda observa que as variações solares “tiveram pouco papel nas mudanças climáticas observadas nas últimas décadas”.

E, em outro lugar no site da EPA, as causas humanas do aquecimento global ainda são observadas, numa página intitulada “Futuro das Mudanças Climáticas”.

A atividade humana é inequivocamente o principal motor das mudanças climáticas. Até mesmo o governo Trump reconheceu esse consenso científico, divulgando um relatório abrangente em 2017 constatando que a tendência de aquecimento de longo prazo é “inequívoca”, e “não há explicação alternativa convincente” de que qualquer coisa além dos humanos seja culpada.

Fonte: Folha SP, The New York Times.

Imagem: Ting Shen – 11.jul.18/Reuters.

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