Agressão ao Planeta Aumentou Risco de Pandemias nas Últimas Cinco Décadas

É essencial proteger as florestas e alterar as práticas agrícolas atuais para prevenir futuras pandemias. Foi o que concluiu o Grupo de Trabalho Científico Internacional em Prevenção de Pandemias, organizado pelo Instituto de Saúde Global e pela Escola de Saúde Pública T.H. Chan, ambos ligados à Universidade Harvard (EUA), num relatório publicado no mês de agosto de 2021, que analisa o risco atual de surgimento de novas doenças, como a covid-19, e as ações necessárias para reduzir essa ameaça.

O risco de propagação de doenças infecciosas emergentes que possam causar outra pandemia aumentou nas últimas cinco décadas devido à crescente alteração ou destruição dos ecossistemas. Isso gera um deslocamento paraçado de espécies que, estando mais próximas dos humanos, podem provocar zoonoses, ou seja, que um agente patogênico presente em um animal seja transmitido à espécie humana, desenvolvendo uma nova doença capaz de desembocar numa pandemia.

Esse estudo demonstra que a mudança climática, o desmatamento, o mercado de animais selvagens, a agricultura intensiva e outras atividades de destruição ambiental influenciam na propagação de agentes patogênicos presentes em animais selvagens.

“As provas citadas neste relatório mostram que a melhor forma de prevenir uma pandemia é impedir esta transmissão de vírus zoonóticos de animais para humanos”, afirma a Catedrática em Patobiologia Deborah Kochevar, integrante do grupo de trabalho e diretora da Faculdade de Veterinária Cummings, da universidade Tufts (EUA).

Do mesmo modo, os cientistas encontraram indícios de 36 agentes zoonóticos, entre eles variantes do coronavírus da SARS, em animais vendidos em mercados, como o do Laos, no Sudeste Asiático. A partir dessa e de outras evidências, o relatório insiste na importância do controle do comércio tanto da carne de caça como de animais exóticos vivos. O mercado ilegal de espécies silvestres se valorizou 500% desde 2004, com os Estados Unidos como principal consumidor, com uma importação de 10 a 20 milhões de animais por ano.

Outras atividades humanas que impactam os ecossistemas são as alterações de cursos de água doce, como ocorre, por exemplo, na construção de represas hidrelétricas. É o caso da central de Assuã, no Egito, relacionada com o aumento de um mosquito vetor da filariose linfática, ou de outras hidrelétricas no Sri Lanka e Índia que provocaram o aumento da malária, também transmitida por um mosquito.

“O estudo global dos fatores que influenciam as zoonoses de doenças emergentes mostra que há partes do mundo que são focos potenciais para a propagação de vírus entre espécies”, afirma Epstein, diretor do estudo. “Identificar os lugares com maior probabilidade de surgimento de pandemias permite que a comunidade sanitária global concentre os recursos e as estratégias para prevenir o salto entre espécies e a propagação de um vírus entre os humanos”, acrescenta.

Fontes: El País, Climainfo, Sua Cidade, Bioseta.